Por volta das 7 horas desta quinta-feira, um grupo de chapeiros da rota 10 na cidade de Maputo decidiu paralisar a circulação dos seus transportes semi-colectivos de passageiros. São transportadores que operam na maior rota da Cidade de Maputo.
A situação começou de forma titubeante pouco depois das 7 horas, momento da azáfama e avalanche nas paragens. Quase ninguém pensava (pelo menos os passageiros), que o dia fosse amanhecer turvo na capital do país sobretudo nas paragens da rota 10, onde as enchentes eram de todo enormes. Como não podia deixar de ser, houve quem não foi ao posto de trabalho, as visitas matinais nos hospitais, e até estudantes não puderam deslocar-se à escola onde iriam matricular-se .
Quando as horas fossem passando, os focos da paralisação da circulação dos transportes também aumentavam, havendo alguns que parquearam as suas viaturas nas redondezas do Distrito Municipal Ka Pfumo, há escassos metros da paragem terminal do Museu, o ponto de partida e chegada dos transportes semi-colectivos da rota 10 em “greve” e outros do lado do Grande Maputo.
As causas da paralisação
Matias Monjane, cobrador de chapa que opera na rota Benfica-Museu, disse ter parado de circular por volta das 8 horas quando vinha descarregar os passageiros na paragem terminal do Museu, na cidade alta de Maputo. “Nós decidimos parar para darmos lugar as nossas revindicações. Estamos cansados dos abusos cometidos pelos agentes da Polícia Municipal da Cidade de Maputo. Eles inventam uma série de multas só para prejudicarem o nosso trabalho, enriquecem roubando o pouco dinheiro que nós ganhamos”, comenta.
Estas reclamações foram também secundadas por Assane Adamo, motorista na rota Museu-Benfica que esta quarta-feira foi lhe confiscada a carta de condução por alegado desvio de rota mesmo sem passageiros a bordo, isso por voltas das 9 horas quando dirigia-se a Benfica para parquear a sua viatura de 32 lugares. Aliás este motorista, segundo conta, tem feito isso quase sempre, carrega nas primeiras horas (de ponta) e depois pára de circular e só volta no período da tarde para continuar com o seu trabalho.
“Eu saí as 7 horas do Benfica para Museu, fiz a minha primeira carrada até a terminal do Museu, depois de eu descarregar os passageiros entrei pela Avenida Tomás Nduda para dar a Eduardo Mondlane ao invés de usar a Avenida Mártires da Machava para chegar a Avenida Eduardo Mondlane”, conta para depois acrescentar que um agente da Polícia Camarária o manda para e imputa-lhe uma multa de 1000 meticais pelo suposto desvio de rotas, o que não foi nada disso porque ele não estava a carregar.
Este um cenário a que estão sujeitos tantos outros operadores dos transportes semi-colectivos na Cidade de Maputo, onde a Polícia Municipal enverga o seu fardamento para extorquir aos que até às 4 se fazem a estrada para transportar os passageiros e só despegam pouco antes da meia noite.
Postos da desgraça
Os operadores dos transportes semi-colectivos de passageiros cuja circulação está paralisada sem um fim a vista, têm como a sua principal reclamação o facto de a Polícia Municipal de Maputo ter criado muitos postos dos agentes da sua corporação. Segundo contam na rota de Museu-Zimpeto existem cerca de seis postos da polícia camarária, onde eles arranjam qualquer pretexto para mandar para os chapas e exigem algum dinheiro pela falta de um documento ou pelo cometimento de alguma infracção.
“Quando o chapeiro circula sem a licença ou se estiver caducado, ou se os pneus da viatura estiverem ‘carecas’, ou qualquer outra infracção, os polícias exigem em forma de multa valores que rondam entre os 100 e 300 meticais”, conta Belmiro Jate motorista da rota Museu-Benfica, acrescentando que eles (os agentes da camarária) coordenam de tal modo a que dizem aos outros que se encontram nos postos a seguir para mandaram para a mesma viatura que foi antes mandada parar, exigindo assim o pagamento de outros valores pelas mesmas irregularidades, o que desgraça aqueles que no fim do dia têm que mostrar a receita ao patrão e o tanque cheio do combustível, eles (os patrões) não querem saber do carrasco da Polícia Municipal.
Entretanto, seis operadores da rota em “greve” entre motoristas e cobradores foram detidos por terem parado de circular e parqueado as viaturas como uma de dar azo as reivindicações, quando a polícia municipal se apercebeu disso na companhia dos agentes da PRM prenderam aos chapeiros em causa. Sendo que neste momento alguns estão encarcerados na 2ª Esquadra e outros na 7ª Esquadra da PRM, ambas na cidade de Maputo.
A prisão preventiva destes homens foi só pelo facto de estarem a reivindicar os seus interesses, daí que os outros colegas prometem não parar com a greve antes que todos ora presos sejam soltos pela polícia.
Esta manhã, estiveram reunidos no Comando da Polícia Municipal do Distrito Municipal Ka Mpfumo, transportadores, presidente da Associação dos Transportadores de Maputo, o comandante distrital da Polícia Municipal e o Presidente do Município de Maputo, David Simango. O encontro tinha em vista ouvir as reivindicações dos transportadores em causa e solucioná-los, para permitir que regressem à estrada e façam o transporte de passageiros que se encontram em grandes enchentes nas paragens, devido a paralisação da circulação dos chapas.
Passageiros sempre os castigados
Nas paragens da cidade de Maputo, por onde operam os chapas da rota 10 (Museu-Benfica, Malhasine, Zimpeto, Missão Roque), estão abarrotadas de passageiros que desde às 7 horas desta quinta-feira, viram-se impedidos de viajar da cidade de Maputo para os destinos acima citados e vice-versa. Referir que embora operem nesta rota autocarros dos Transportes Públicos estes não são em número suficiente para dar vazão a demanda de transporte na rota, e na capital do país em geral.
Rosa Jaime, logo pelas seis da manhã conseguiu apanhar o chapa no Benfica para Museu, agora pretende voltar à casa e está difícil, pois os chapas não estão a circular. Por esta situação passam milhares de passageiros que vão rezando para que os transportadores ora paralisados retomem à estrada e permitam que os passageiros viajem de uma lado para outro. “Se eu soubesse que a paralisação fosse acontecer hoje, não viria a Museu. Estou aqui na terminal desde às 10 e os chapas estão todos perfilados, vazios e os cobradores e motoristas vão rindo-se de nós”, lamenta.