Dezenas de milhares de sírios participaram esta segunda-feira de manifestações convocadas pelo governo contra as inéditas sanções econômicas impostas pela Liga Árabe ao país devido à repressão contra protestos pró-democracia, que já entraram no seu nono mês.
A TV estatal exibiu as manifestações de “apoio à unidade nacional e rejeição à interferência estrangeira” em Damasco e Aleppo, as duas maiores cidades da Síria. Também houve atos públicos em Deir al Zor e Hasaka, no leste, segundo o canal.
A Liga Árabe, que reúne 22 países, aprovou no domingo suas sanções mais duras em mais de três décadas contra um Estado membro, isolando ainda mais o regime de Bashar al Assad por causa da violência contra os manifestantes – a qual, segundo a ONU, já matou mais de 3.500 pessoas.
De acordo com a agência oficial egípcia de notícias Mena, a direção da Liga Árabe fez um chamado nesta segunda-feira à Síria, em carta enviada ao Ministério de Relações Exteriores, para que endosse o plano árabe para pôr fim à repressão, salientando que isso levaria à revisão das sanções e outras medidas adotadas contra o governo do país.
A Grã-Bretanha disse que essas sanções podem ampliar o apoio internacional a um mandato da ONU que leve a uma intervenção contra Assad. Ativistas contrários ao governo disseram que as forças de segurança mataram pelo menos 24 civis no domingo. “As indicações não são positivas”, disse a jornalistas o primeiro ministro e chanceler do Catar, xeque Hamad bin Jassim al Thani. “As sanções ainda são econômicas, mas, se não houver um movimento por parte da Síria, então temos a responsabilidade como seres humanos de parar os assassinatos. O poder não vale nada quando um governante mata o seu povo.”
As sanções foram aprovadas com o voto de 19 dos 22 países da Liga, numa reunião ocorrida no Cairo. Elas incluem a proibição de viagens de autoridades sírias de primeiro escalão e o congelamento de bens relacionados ao governo. Segundo o xeque Hamad, o objetivo é impedir investimentos no país e transações com o Banco Central sírio. Ele acrescentou que a Turquia, que assistiu à reunião de domingo apesar de não ser membro da Liga Árabe, irá aderir a algumas das medidas.
Os Estados Unidos e a União Europeia também já impuseram sanções à Síria. Mas a Liga Árabe quer evitar que suas sanções levem a uma resolução da ONU que justifique uma eventual ação militar estrangeira para derrubar o regime sírio – como já aconteceu neste ano na Líbia. Hamad disse que os governos árabes precisam demonstrar que são “sérios”, caso contrário o Ocidente irá desejar uma intervenção.
Até hoje, a punição mais dura já imposta pela Liga Árabe a um Estado membro havia sido em 1978, ao suspender o Egito devido ao seu acordo de paz com Israel. A Liga posteriormente readmitiu o país. Assad, que herdou o poder do seu pai em 2000, disse numa entrevista neste mês que vai manter a repressão contra os protestos, e atribuiu as turbulências à tentativa internacional de “subjugar a Síria”.