A mudança climática deve elevar o regime de chuvas em grandes bacias fluviais do mundo, mas os padrões meteorológicos tendem a tornar-se mais instáveis, e a época das estações chuvosas pode mudar, ameaçando a agricultura, disseram especialistas esta segunda-feira. Além do mais, algumas bacias fluviais da África – a do Limpopo, no sul do continente, do Nilo, no norte, e do Volta, no oeste – ficarão propensas a receber menos chuvas do que atualmente, o que afetará a produção de alimentos e provocará tensões internacionais.
A perspectiva é particularmente má na bacia do Limpopo, que abrange partes de Botswana, África do Sul, Zimbábwe e Moçambique, numa área habitada por 14 milhões de pessoas. “Em algumas partes do Limpopo, nem mesmo a adoção disseminada de inovações como a irrigação por gotejamento pode ser suficiente para contrabalançar os esforços negativos da mudança climática sobre a disponibilidade hídrica”, disse Simon Cook, do Centro Internacional de Agricultura Tropical.
As preocupações para o Alto Nilo Azul, que passa por Etiópia, Sudão e Egito, resultam principalmente da evaporação intensa que deveria advir do aumento previsto de 2C a 5C nas temperaturas médias globais. Cientistas do Programa Desafio para Água e Comida (PDAC), uma entidade mundial de pesquisas agrícolas, disseram que isso pode causar atritos entre o Egito e a Etiópia.
A pesquisa sobre dez grandes bacias fluviais do mundo, incluindo grandes áreas da América do Sul e Ásia, foi divulgada a poucos dias de uma conferência climática global importante a ser realizada em Durban, na África do Sul. Em geral, o relatório concluiu que o aumento da evaporação, em consequência do maior calor, será compensado pela intensificação das chuvas.
Ligeiras alterações nas épocas de chuvas e estiagem, mantidas intactas nos últimos séculos, “irão criar um pesadelo gerencial e exigirão um foco muito maior do que era historicamente necessário em abordagens adaptativas e projeções climáticas de longo prazo”, disse Alain Vidal, diretor do PDAC. “A mitigação de inundações e as estratégicas de gestão serão cruciais em áreas com clima cada vez mais errático e com mais enxurradas, como o Limpopo e o Volta.”