Em 2012, mais de meia centena de mulheres universitárias africanas irá disputar, na República da Gâmbia, um lugar cativo da “beleza feminina africana”. Na região austral, o evento já mexe com as mulheres do “País da Marrabenta” que desde Maio se vêm “agitadas” pela Top Produções, a entidade que dinamiza o Miss University Africa no país.
Que transformações a admissão e, a consequente, permanência temporária em universidades se operam na fi gura da mulher africana? Será que (realmente) tornam-lha mais culta? Inteligente? Rica (em termos) moral? Ou simplesmente, as academias africanas só promovem a cientifi zação da mulher, desprovendo-a de valores (morais e sociais) úteis para o continente?
Se os diversos debates que se têm instaurado no continente, tendentes à emancipação da mulher ainda não discutiram o tópico, quer-nos parecer que, de certa forma, na sua terceira edição o Miss University Africa, a nível de Moçambique tomou- -o de assalto.
O evento cujo ápice se irá assinalar, sexta-feira, 19 de Novembro, na cidade de Matola que terminará com a selecção da Miss Moçambique, inclui entre outros tópicos “debates sobre o papel da mulher africana na defesa dos direitos humanos, no contexto das lideranças do continente”, bem como acerca da “importância (vital) que há na preservação dos valores da mulher”.
Muito recentemente, @Verdade soube que o Miss University Moçambique, este evento que celebra a beleza feminina africana, ruma à sua fase derradeira. Dezoito mulheres foram seleccionadas em quase todas as universidades nacionais. A propósito, o jornal conversou com Manuel Cossa, director de Projectos da Top Produções e, em linhas gerais, deixa o essencial da conversa.
@Verdade: Segundo se defende, o Miss University Africa em Moçambique visa “promover a beleza nata das estudantes universitárias do continente africano, desencorajando o uso de vestes indecentes”. A curto ou médio prazo quais são os objectivos da iniciativa no país?
Manuel Cossa (MC): Na verdade, trata-se de um concurso de moda de caris internacional a nível do continente africano, ou seja, do Miss University Africa. Por isso, irá observar a padrões de qualidade internacionais. Além de factores como beleza e elegância – que são algumas variáveis de eventos ligados à moda – agregou-se ao MUA o conceito de avaliação intelectual das participantes, que inclui aspectos ligados ao saber estar e ser em moda. Mas, acima de tudo, os de ser africana, como factores de pontuação prévia. Ora, é preciso clarifi car que se não está a dizer que haverá uma super-valorização das capacidades intelectuais em detrimento das profi ssionais.
@Verdade: Que actividades extras se inclui no evento, além das exibições performativas?
MC: Conforme disse, o concurso inclui um painel de debates, a ser realizado previamente ao dia da selecção da Miss Moçambique. As concorrentes serão sujeitas a uma avaliação oral cujas perguntas são de cultura geral. Espera-se que o programa seja acompanhado por organizações internacionais ligadas ao mundo Fashion. Concluída esta fase, supõe-se que as concorrentes passem para uma segunda etapa, a do desfi le, com uma percentagem acumulada no teste de coefi ciente intelectual, como vantagem relativa.
@Verdade: Porquê é o teste intelectual inclui exclusivamente questões de cultura geral, se as concorrentes fazem – nas universidade – cursos pro ssionalizantes?
MC: Houve uma discussão prévia, envolvendo todas as universidades em que se deliberou que tomando em consideração que as candidatas são formandas de especialidades diferentes, as questões não devam ser necessariamente de carácter científi co ou de matérias específi cas para evitar disparidades.
@Verdade: Como foi o processo de selecção das candidatas?
MC: De há alguns tempos a esta parte, as universidades moçambicanas foram palco de castings para o apuramento das (melhores) modelos. O processo apenas envolveu oito universidades nacionais, a maioria das quais da cidade de Maputo. E terminou com a selecção de 18 alunas, número cuja maioria das candidatas é, igualmente, da capital. Os critérios de selecção foram uniformes para todas as universidades, de tal sorte que a componente de teste intelectual foi aplicada ainda nas fases preliminares. Não fomos bem-sucedidos
@Verdade: Quer-nos parecer que, apesar de se ter trabalhado em todo o país, o número de concorrentes é reduzido?
MC: De facto. Reduzimos o número de participantes devido à questões de ordem fi nanceira. Obviamente, como deve saber, qualquer fi nanciamento, no caso de transportes, tem o seu retorno. E nós não conseguimos arcar com o mesmo. Por isso, sacrifi cámos algumas concorrentes.
@Verdade: Quanto custa organizar um evento desta envergadura?
MC: Quando arquitectamos a iniciativa, desenhamos um plano orçamental de três milhões de meticais, o que inclui aspectos ligados à logística, passagens áreas da produção e das concorrentes, premiação entre outros. De qualquer modo, infelizmente, sentimos que não fomos bem-sucedidos em termos de patrocinadores. Pensamos que esta realidade, marcada por crises económicas e financeiras, pode explicar a apatia do mecenato. Aliás, Moçambique tem apostado numa política de contenção de custos e de austeridade. Mas a apresentação tardia do nosso plano infl uiu negativamente.
Desencorajar vestes indecentes
De acordo Manuel Cossa, da Top Produções, o Miss University Moçambique visa (igualmente) desencorajar o uso de vestes indecentes nas universidades moçambicanas. É neste sentido que a Top encarregou a conceituada estilista moçambicana Mody Maleiane a produção de um manual sobre estilo e moda, bem como os modos de comportamento nas lides da moda que, imediatamente, foi distribuído pelas universidades envolvidas.
Na mesma perspectiva, serão ministradas palestras como forma de potenciar as estudantes de informações do mundo em alusão. Recorde-se, então, que algumas candidatas apuradas, sobretudo da região norte do país não poderão tomar parte do evento. O facto deve-se à difi culdades de ordem fi nanceira e económica dos mentores do evento que se queixam da apatia dos mecenas culturais no país.
No entanto, acredita-se o facto de o Miss University Moçambique incluir alguma componente social, bem como a perspectiva de aplicar os resultados do projecto aos novos projectos de impacto social no país, pode ser uma mais-valia do evento. Aliás, foi olhando para esta perspectiva que algumas organizações e instituições sociais decidiram apoiar a iniciativa.
Mais importante ainda é que, caso Moçambique vença a fase fi nal, a Miss será “usada” em projectos de marketing social no país, o que, em parte, “implica trabalhar directamente com Gabinete da Primeira-Dama da República, Maria da Luz Guebuza”, como esclarece Manuel Cossa.
Recorde-se no contexto continental em 2012 a República da Gâmbia acolherá a IIIª edição do Miss University Africa. No entanto, apesar de Moçambique ter participado na segunda edição (fez-se representar pela modelo Gizele) que participou na condição de convidada de honra, só no próximo ano poderá tomar parte do evento na condição de concorrente. Para Moçambique, há quem acredita que no âmbito das universidades africanas, o Miss Universiy acabará por (re)lançar as universidades nacionais na rota das africanas.
Na Quinta Tropical, na Machava, local onde se realizará a classifi cação fi nal, será realizado um concerto musical que envolve os conceituados músicos moçambicanos Roberto Chitsondzo, Gabriela entre outros.