É bem provável que na manhã de domingo 30 de Outubro, o candidato German Antonio Londoño Roldan cantasse vitória ainda antes de abrirem as urnas. Afinal, o seu nome era o único que constava no boletim de voto nas eleições municipais de Bello, uma pequena cidade no Noroeste da Colômbia. Mas, mesmo assim, o político conservador não foi eleito. Perdeu para o voto em branco.
A lei determina que quando “nenhum dos candidatos” consegue mais de 50% dos votos, as eleições têm de ser repetidas. E foi isso que aconteceu: 56,7% dos eleitores preferiram não apoiar o único político que se mantinha na corrida; German Londoño ficou-se pelos 43,29%. Agora, os habitantes de Bello, uma cidade vizinha de Medellin, com 359.404 habitantes, irão novamente às urnas.
Primeiro, foi a favorita Luz Imelda Ochoa, do Movimento Bello Unido, que foi obrigada a retirar-se, depois de terem sido anulados milhares de assinaturas da sua candidatura por alegadas irregularidades. Depois, o Partido Liberal e o controverso Partido MIO, fundado pelo ex-senador Juan Carlos Martinez (a cumprir pena de prisão), decidiram desistir a favor de Londoño. O candidato ficou assim sozinho na corrida.
Mas a oposição não baixou os braços e um movimento de organizações cívicas e partidos políticos veio defender a cruz no quadrado “nenhum dos candidatos”. Foi Luz Imelda Ochoa quem liderou a campanha pelo “voto em branco”. E, ao contrário de Londoño, a quem a lei impede de voltar a concorrer, será ela a candidata à próxima volta. “Não é que Bello-Antioquía esteja a despertar; já despertou”, disse à Radio Caracol.
Londoño é um amigo íntimo do exalcaide e senador Óscar Suárez Mira, membro da família que tem dominado a vida política local. Mas Mira está preso devido a ligações a uma organização paramilitar. O El Tiempo escreveu que Londoño o visitou pelo menos dez vezes na cadeia, o que não terá beneficiado a sua imagem. “Fui como amigo à prisão, mas não falámos de estratégias ou temas proselitistas”, afirmou o candidato do Partido Conservador da Colômbia (PCC).
O jornalista e escritor Reinaldo Spitaletta escreveu no Elespectador: “O presságio começou quando vi vários habitantes de Bello a ler o romance de José Saramago ‘Ensaio sobre a Lucidez’. ‘Alguma coisa se vai passar aqui’ dizia-se em rumor… As pessoas queriam revoltar-se pela primeira vez na história do município caracterizado historicamente pelo clientelismo, a desordem administrativa e a corrupção.”