Muammar Khadafi e seu filho, Mo’tassim, foram enterrados num local secreto no deserto, esta Terça-feira, cinco dias depois de o líder deposto da Líbia ter sido capturado, morto e colocado em exposição pública.
“Ele (Khadafi) acabou de ser enterrado no deserto, ao lado do filho,” disse o comandante do Conselho Nacional de Transição (CNT), Abdel Majid Mlegta, à Reuters ao telefone.
O clérigo de Khadafi, Khaled Tantoush, que foi capturado com ele, rezou pelos corpos em decomposição antes de eles serem retirados do local onde foram expostos ao público e levados por dois homens do CNT para o enterro, afirmou ele.
O CNT causou perplexidade a muitos observadores externos por deixar os corpos de Khadafi e de Mo’tassim expostos na câmara refrigerada de um mercado de Misrata até que a decomposição obrigasse as autoridades a fecharem as portas ao público, segunda-feira.
Sob pressão dos aliados ocidentais, o CNT prometeu, segunda-feira, investigar a forma como Khadafi e o seu filho foram mortos. Gravações feitas com celulares mostram ambos vivos depois de serem capturados, semana passada.
O ex-líder líbio aparece a ser humilhado e agredido antes de ser baleado, embora funcionários do CNT tenham inicialmente dito que ele foi atingido num tiroteio.
A saga deixou os aliados ocidentais da liderança interina da Líbia preocupados com as perspectivas para o Estado de direito e um governo estável na era pós-Khadafi.
“Eu ri quando o vi sendo espancado como merecia. E ri de novo agora que sei que ele está na terra,” disse o estudante Emani Zaid, de 20 anos, de Trípoli. “Se os homens que o enterraram são de facto líbios livres, eles podem guardar o segredo (sobre o túmulo dele).”
Determinado a evitar que o túmulo de Khadafi se torne um templo para seus simpatizantes, o CNT quer manter secreta a localização dele, recusando-se a colocá-lo sob custódia da tribo do antigo líder, cujos integrantes moram, em parte, em Sirte.
As orações pelos mortos foram presenciadas por dois primos de Khadafi: Mansour Dhao Ibrahim, que já foi líder da temida Guarda do Povo, e Ahmed Ibrahim.
Ambos foram capturados com ele depois de um ataque aéreo da Otan ter atingido um comboio de veículos que tentava sair de Sirte, a cidade natal de Khadafi.
“As autoridades do CNT receberam o corpo depois de o xeque ter completado a cerimónia no começo da manhã e estão a leva-lhe a algum lugar muito longe no deserto,” afirmou Mlegta.
“Lance-o num buraco”
Para o engenheiro Ali Azzarog, de 47 anos, foi bom livrar-se dele. “Lance-o num buraco, no mar, no lixo. Não importa. Ele é mais baixo que um burro ou um cachorro e apenas estrangeiros dizem se importar com a maneira como nós o matamos. E eles estão a mentir,” afirmou ele.
Os líbios rebelaram-se contra o governo de 42 anos de Khadafi em Fevereiro, desafiando uma resposta violenta que foi contida pela força aérea da Otan, sob mandato da Organização das Nações Unidas (ONU), para proteger os civis.
A morte do homem forte de 69 anos colocou fim aos meses de guerra que se seguiram em Sirte e noutros locais mesmo depois de as milícias do CNT terem tomado a capital, Trípoli, em Agosto.
O ódio a Khadafi uniu os seus opositores mais diversos, que agora poderão brigar pelo poder durante a planejada transição para a democracia numa nação fracturada, com rivalidades regionais e tribais a superar.
“Líderes de regiões e cidades diferentes querem negociar sobre tudo – cargos no governo, orçamentos para as cidades, a dissolução das milícias,” disse uma autoridade sênior do CNT em Trípoli, embora ele tenha defendido isso como uma expressão saudável de liberdade.
Nalguns momentos, o corpo de Khadafi pareceu ter se transformado numa moeda macabra de barganha para Misrata, que enfrentou um cerco impiedoso durante a guerra e cujos líderes agora exigem maior poder na nova Líbia.
O temor de que os filhos de Khadafi pudessem protagonizar uma insurgência ao estilo iraquiano diminuiu após as mortes de Mo’tassim e de seu irmão Khamis, que era comandante militar e morreu antes.
Comandantes armados da antiga fortaleza de Khadafi de Bani Walid, que caiu este mês, porém, disseram à Reuters que planejam manter a luta.