Beber uma chávena de chá, tomar um duche, comer um bife ou percorrer um quilómetro de trem: os nossos gestos mais banais podem ser analisados por meio de um novo sistema de medida, nada menos que o CO2 (dióxido de carbono), um dos principais gases responsáveis pelo aquecimento do planeta.
Este critério para analisar a nossa vida quotidiana, expresso em gramas equivalentes de carbono, unidade que inclui todos os gases que provocam o efeito estufa, apresenta no entanto problemas de metodologia. A cada dia aparecem novos estudos a respeito, alguns confiáveis e outros extravagantes.
Por exemplo, se alguém deseja fazer o balanço da emissão de carbono de uma garrafa de água é possível perguntar se é preciso considerar ou não as emissões provocadas pelo trajecto de automóvel até o supermercado.
Do mesmo modo, até onde chegar na análise de uma fatia de 300 gramas, considerando que as vacas de onde sai a carne são grandes emissoras de metano por meio das flatulências?.
A última polémica a este respeito diz respeito ao impacto no meio ambiente provocado pela consulta na internet. Ao contrário do que se pode pensar, multiplicar as consultas na internet está longe de ser insignificante quanto às emissões de carbono.
Desde o início, a fabricação de um computador e sua alimentação na rede de energia eléctrica significam importantes consumos de energia.
O jornal Times foi o que iniciou a controvérsia, quando num artigo afirmou que duas consultas ao Google geravam na media tanto dióxido de carbono como o facto de ferver uma chaleira, ou seja, sete gramas de CO2 por consulta…ou por chaleira.
O Google reagiu imediatamente, alegando que, segundo os cálculos da empresa, cada visita a seu portal produziria apenas 0,2 grama de CO2. Alex Wissner-Gross, pesquisador de Harvard, e que era citado no artigo, negou ter divulgado uma quantia específica sobre o Google, ao afirmar que os seus trabalhos se referiam ao conjunto da internet, com uma média de 20 mg de emissões de CO2 por cada segundo on-line.
“Porém, esta média não dá muitas informações, já que é preciso considerar outras variáveis como a localização dos clientes e dos operadores, assim como o material utilizado”, declarou à AFP.
Para permitir uma análise personalizada do impacto em carbono de um portal na internet, e tentar reduzir o mesmo, o engenheiro criou uma ferramenta chamada CO2stats.
As tentativas e polémicas, no entanto, não devem tirar do foco o principal objectivo dos novos cálculos: oferecer um elemento de comparação para orientar as condutas a um modo de vida que reduza as emissões de C02.
“É urgente que as pessoas comecem a agir. Se dissermos que é preciso esperar até o sistema estar pronto, talvez seja muito tarde”, opina Hugo Kimber, que dirige o The Carbon Consultancy, com sede no Reino Unido.
“Pela primeira vez na história, nossa civilização começa a medir o impacto ambiental de maneira séria, completa e detalhada. Um certa hesitação é provavelmente inevitável”, insistiu Wissner-Gross.
Diante do imperativo de uma “descarbonização” da economia, e com o auge anunciado da indicação sobre a emissão de carbono marcado nas etiquetas, resta perguntar se daqui a 10 ou 20 anos as pessoas vão raciocinar em termos de dióxido de carbono como fazem actualmente em termos de euros ou dólares.