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Marrabenta: jazida inesgotável

Marrabenta: jazida inesgotável

Nunca vai acabar. É como a própria vida: que acaba e recomeça. Ainda bem que é assim. Uma salva de palmas para aqueles que a querem erternizar. Levando o fogo aos palcos. Teremos, por isso mesmo, mais um Festival de Marrabenta que começa hoje no Centro Cultural Franco-Moçambicano. No dia dia 2 de Fevereiro será em Marracuene – no Gwaza Muthini – e, no dia 3, será a vez de Matalana acolher este movimento que já mexe com as mais diversas sensibilidades.

Tudo nos indica que o festival anual da Marrabenta veio para ficar. Não haverá problema nenhum em afirmar que, em cada festival desta vertente musical, ficamos com a sensação de que as barreiras tribais vão ficando cada vez mais distantes. Apesar de ser um ritmo celebrizado no sul de Moçambique, a marrabenta é tocada e dançada em todo o Moçambique. Também porque ela carrega, em si mesma, todo um peso histórico que passará pelas minas sul-africanas de ouro. Nomes como Fany Mpfumo, Alexandre Langa, Francisco Mahecuane, por exemplo, misturaram o seu sangue com os sul-africanos. Naquelas terras eles se inspiravam para fazer esta música que hoje nos orgulha a todos. É, por isso mesmo, uma homenagem a homens de grande estatura que eram aqueles artistas.

Os organizadores do Festival da Marrabenta, terão, naturalmente, em mente, o grande respeito que se deve outorgar à figuras que estarão intrisecamente ligadas a Marrabenta, um ritmo que atravessou gerações, mantendo-se até hoje com a mesma firmeza do princípio. Música popular ritmo respeitado pelos moçambicanos, a marrabenta aparece nos anos 50, na idade de ouro de Lourenço Marques. Nessa época, a cidade era reputada pela sua doçura de viver e pelas orquestras que animavam as noites da capital. A marrabenta, com o seu ritmo animado e suas melodias arrebatadoras, conta com uma súbtil mistura, pequenos detalhes da vida quotidiana em Maputo e dos grandes eventos da história de Moçambique.

Na sua origem, a marrabenta era tocada em acústico por um cantor masculino acompanhado por um coro de mulheres. Hoje em dia, instrumentos modernos foram introduzidos. Ao longo dos anos, a marrabenta tornou-se um símbolo cultural nacional e uma referência identitária forte. Muitos mestres da marrabenta passaram uma parte das suas vidas na África do sul, onde trabalhavam nas minas. Entre os mais célebres, Fany Mpfumo, Francisco Mahecuane, Alexandre Langa, Lisboa Matavele e Abílio Mandlaze.

Orquestra Marrabenta

Durante anos, a Orquestra Marrabenta-Moçambique, fez vibrar o país, com um rítmo que atravessou gerações e suscita ainda hoje um grande entusiasmo nos moçambicanos. É um estilo que evolui constantemente, aceitando no seu corpo outras influências que até a tornam mais bela.

Quem ouve a marrabenta uma vez, sentirá, com certeza, o prazer e a alegria que o espírito encontra quando começam os primeiros acordes. Normalmente a marrabenta é dançada aos pares, podendo também dançar-se sozinho. As suas cantigas retratam o quotidiano social. É um ritmo quente e acelerado, influenciado pelo “kwela” da África do Sul, pelo Swing e outros ritmos nativos da região.

É dito pelos mais sabidos que a “Maxixe” do Brasil, por exemplo, teve a sua origem na marrabenta de Moçambique, no seu ritmo e espírito. Nos anos 80, após a independência de Moçambique, a marrabenta ganhou outra dinâmica, surgindo mais executantes e também promotores que levaram a música por vários quadrantes do globo.

Nos dias de hoje existem outros músicos que constituem a nova geração e que continuam a imortalizar este ritmo. Hoje a marrabenta é dançada e cantada do Rovuma ao Maputo, quebrou barreiras lingüísticas, culturais, tribais, regionais. Tornou-se abrangente, nacional.

Gwaza Muthini

Será uma grande luz para o Gwaza Muthini. O Festival de Marrabenta levará outra dinâmica para Marracuene, onde os moçambicanos são convidados, não só para ouvirem música, como também para homenagear os nosso heróis, tombados na grande batalha de Marracuene, em defesa da sua pátria, contra a invasão dos portugueses. Vai-se de comboi, no dia 2, dentro do qual haverá muita música, a partir da estação da baixa.

Com o tradicional GWAZA MUTHINI, os filhos de Marracuene recordam e prestam homenagem à bravura e heroísmo dos guerreiros que tombaram no Quadrado de Marracuene em 1895, nas margens do majestoso Incomáti.

Evocar a memória dos filhos de Marracuene é recordar todos aqueles que no Norte, Centro e Sul de Moçambique, de forma activa ou passiva, resistiram ao controle estrangeiro sobre a sua riqueza, soberania, identidade. É motivo de orgulho para os moçambicanos continuarem a celebrar e a exaltar os feitos desses homens que, com a sua abnegação e bravura, tudo fizeram para frustrar os desígnios coloniais. Esses mártires serão sempre recordados como exemplos de patriotismo e valentia.

A participação do ARPAC – Instituto de Investigação Sócio-Cultural – em tão dignificante acto, prende-se com parte das suas próprias atribuições estabelecidas no seu estatuto orgânico (Decreto nº 26/93, de 16 de Novembro, que, no seu artigo 1 alínea c), as define como sendo “promover a educação cultural dos moçambicanos de modo a reforçar a sua identidade cultural e envolvê-los na apreciação, valorização e protecção da cultura e do património cultural”.

Para esta instituição do Ministério de Educação e Cultura, “mais do que coligir dados sobre Marracuene, a sua participação neste projecto visa, assim, imprimir uma maior dinâmica e entusiasmo ao regresso às raízes, à reflexão sobre as nossas origens, e à necessidade de se aliar a tradição e a modernidade para se conseguir um desenvolvimento, uma planificação e uma administração mais condizentes com a realidade do país. Não basta que se pense com a própria cabeça, é preciso que se pense também com os pés assentes na terra e esta está prenhe deste saber milenar de que nos devemos orgulhar e que devemos promover”.

A Batalha de Marracuene, que se consubstancia no Gwza Muthini, constitui também o momento de reflexão sobre a nossa tradição, história e cultura, sobre a necessidade da sua valorização e preservação para as gerações vindouras.

A celebração do Gwaza Muthini constitui um aguçar da curiosidade e entusiasmo para que, à largura e extensão do país, outras datas, tradições, lendas e práticas sociais, sejam assinaladas e sirvam de símbolos agregadores e integradores das unidades atómicas que constituem o grande mosaico e a família moçambicana.

O distrito

O Distrito de Marracue, localiza-se a 30 km a Norte de Maputo, à latitude de 25º 44? 21?’ Sul e longitude de 32º 40? 30?’. Este, é limitado pelo Distrito da Manhiça, a Sul pela Cidade de Maputo, a Este pelo Oceano Índico e a Oeste pelo Distrito da Moamba e Cidade da Matola.

A sua superfície é de 833 km², sendo a população estimada em 60.307 habitantes (1993), que correspondem a 13.424 famílias. A densidade populacional é de 68 pessoas/km². Segundo o censo de 1980, naquele período a população do distrito era de 45.147 habitantes. Todavia é de supor que a relativa segurança de Marracuene durante os tempos da guerra pós-independência, as suas oportunidades de auto-emprego e de assalariamento terão atraído ao longo dos últimos anos um crescimento populacional assinalável. Apresentamos a seguir, em baixo, a estrutura administrativa do distrito e a estrutura etária da população local.

 

 

Matalanana

Levar o Festival de Marrabenta à Matalana, será também uma homenagem a Malangatana: monstro incontestável da nossa Cultura.

Queremos recordar aqui, as palavras do Presidente Armando Guebuza, em 2006, por ocasião dos 70 anos do mestre.

“Convergimos de vários pontos da nossa Pátria Amada e do Mundo para, aqui em Matalana, participar na homenagem ao Grande Mestre que este belo torrão de Moçambique gerou. Referimo-nos a este homem de olhar imponente e penetrante, de uma voz timbrada, livre e libertadora, um homem humilde, generoso e de fácil trato. Referimo-nos ao Grande Mestre Malangatana Valente Ngwenya.

A composição tão diversa da audiência que testemunha este acto, reflecte as múltiplas facetas do homenageado. Ele é pintor, escultor, poeta, dançarino, dinamizador das artes e cultura, político e promotor da paz e da harmonia entre os homens e uma personalidade de intervenção substantiva, só para mencionar algumas dessas facetas.

• A composição tão diversa desta audiência reflecte ainda o facto de, há muito, Malangatana Valente Ngwenya ter elevado o seu nome para além de Matalana;

• Reflecte, igualmente, a simpatia que ele granjeia em Moçambique e no resto do Mundo. Malangatana Valente Ngwenya nasceu há 70 anos, e hoje é um homem do Mundo”.

Estas palavras do presidente da república, são bastatantes para perceber porque é que Festival da Marrabenta vai escalar Matalana.

 

 

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