Nos últimos dias, com uma semana de intervalo, desapareceram do mundo dos vivos dois artistas deste país: Amin Nordine, escritor e jornalista e Sofisso Ângelo Mucavel, músico multifacetado, a quem todos chamavam Sufi xo. A idade de ambos choca pela sua juventude. Nordine tinha 42. Sufixo tinha atingido em Outubro a maioridade.
Com estas idades, sobretudo no caso de Sufixo – 18 anos – ainda temos a vida toda pela frente. Mesmo no caso de Nordine, se este fosse cidadão de um país dito desenvolvido, tinha pelo menos outro tanto ainda para viver. Entre estas duas idades estava o vocalista dos ‘Kapa Dech’, Tony Django (37 anos) que encontrou a morte o ano passado, tal como o guitarrista Nanando (48 anos).
Mas que razão haverá para este desaparecimento prematuro do nossos artistas?
Será só em Moçambique ou é um fenómeno global? É óbvio que o fenómeno é global. O actor River Phoenix (23 anos) e os músicos Keith Whitley (33) e Kurt Cobain, (27), só para citar os mais conhecidos, não resistiram aos excessos tanto de drogas como de álcool acabando por morrer na flor da idade.
É evidente que o mundo onde se movem os artistas é propenso a excessos, vida desregrada, noitadas, a emoções extremas, e, claro, ao reverso da medalha, que são as depressões extremas. Tão depressa se sobe ao céu como se desce ao inferno. E isto corrói, mói e, por vezes, mata.
Mas a grande diferença entre os artistas norteamericanos e europeus adictos e os nossos adictos é que os primeiros possuem recursos financeiros para viver bem longe da miséria, frequentam curas de desintoxicação caríssimas as vezes que forem precisas para se livrarem do vício.
Enquanto isso, os nossos vão apodrecendo aos poucos na miséria, económica e socialmente excluídos, sem ninguém que lhes deite a mão para retirá-los dos balcões sebentos das barracas.
Não era de todo descabido se o Estado interviesse em casos como o de Sufi xo, uma criança órfã, vivendo com uma avó paupérrima. “Ele vivia como um cão”, disse-me um dos meus entrevistados que conviveu com ele nos últimos anos.
De facto, entrando no lúgubre vão de escada onde o artista dormia não se acredita que alguém possa repousar ali. Uma chapa de zinco retorcida era a sua cama, uma televisão partida, umas baguetes para a bateria e uma trouxa de roupa era tudo o que ele possuía. Miserável demais para alguém que já tinha representado Moçambique no exterior.
É evidente que quem anda à chuva molhase e a essência da pessoa determina mais do que tudo o resto, mas se Sufixo tivesse sido orientado provavelmente não teria morrido tão prematuramente.
Aos 10 anos já integrava bandas musicais como baterista. Imaginem o que é uma criança de 10 anos a conviver permanentemente com artistas, com gente muito mais velha. Como resistir às tentações próprias daquele meio? É quase impossível, não acham?
Que se crie uma estrutura social que sirva de amparo e orientação aos artistas mais desfavorecidos. Quem sabe se muitos deles não poderão encontrar aí a casa e a família que nunca tiveram. Talvez, assim, se evitem tristes fins como o de Sufixo.