Juan Ávila Laurel é o escrito que está a recusar alimentos desde sexta-feira, em protesto contra o regime de Nguema, numa iniciativa visando “despertar os seus compatriotas que estão anestesiados” e “desalentados”.
“Estou em greve de fome em nome dos cidadãos comuns, dos cidadãos de todos os sectores da sociedade. Que vivem anestesiados, que devem ser despertados com a esperança de que se pode mudar este regime”, disse Juan Tomás Ávila Laurel.
Contactado telefonicamente em Malabo, o escritor reiterou que a sua acção de protesto “não está ligada a qualquer força política”, mas apenas pretende demonstrar que “é possível a mudança” na Guiné Equatorial, país que actualmente preside à União Africana e pretende aderir à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
“Se as pessoas em cada país quiserem, as coisas podem mudar. Como na Tunísia ou no Egipto. Aqui, como noutros países, a informação é muito controlada, mas quem tem acesso à internet vai mostrando aos outros o que está a acontecer”, disse.
O escritor insistiu que o seu protesto se manterá até que “haja algumas conquistas”, considerando que “a bola está agora no telhado dos guineenses, deste regime e da comunidade internacional” que devem agir para apoiar a transição.
Defende que o regime liderado por Obiang “saia do poder” e “dê lugar a vozes novas” garantindo “eleições livres e uma transição para a democracia” com “liberdade e sem violência” e rápida.
“Há que despertar as pessoas que estão na letargia. Durante muito tempo, os guineenses têm vivido sem acreditar que a mudança é possível. Mas temos visto que a mudança, sim, pode acontecer”, afirmou.
O escritor tem estado a enviar, diariamente, cartas em jeito de diário que são difundidas por uma página de apoio ao seu protesto no Facebook, e onde já há cerca de 1600 apoiantes.
Surpreendente “cegueira”
Na última carta enviada no domingo, Juan Tomás Ávila Laurel recorda que “o terceiro dia é um dia central” que marca o ponto a partir do qual “não se pode voltar atrás” no protesto, justificando por isso que tem de continuar.
“Surpreende-me que os que mandam na Guiné não vejam, na sua cegueira, que estão perante uma oportunidade sem precedentes. Correm ventos de mudanças em meio mundo e estes ventos podem visitar-nos, apesar dos efeitos da anestesia que usam contra os cidadãos guineenses”, escreve.
O escritor dirige-se também directamente ao Governo espanhol, que continua a acreditar que “é melhor fazer negócios com Obiang do que promover a democracia”, escreve.
“Não era isto que esperávamos de Espanha. De um país da Europa e que, além de tudo, foi a potência colonial. Temos que dizer a Espanha que deve muito à Guiné”, sublinha.
O escritor rejeita os argumentos de que um Governo democrático na Guiné fosse prejudicial para os interesses económicos dos Estados Unidos e insiste que “Obiang tem que sair”.