Vida dura
O @Verdade falou com Félix Khumbane, taxista de 46 anos de idade, nove dos quais dedicados à profissão. Na opinião de Khumbane, ser taxista em Moçambique é muito arriscado porque esta profissão não está muito bem organizada. Existe uma associação dos taxistas, mas ela não serve os interesses destes profissionais. Falando dos riscos que esta profissão oferece, Khumbane diz “que esperar por um cliente desconhecido com quem nada se combinou é muito arriscado. Também alguns clientes alugam o táxi, levando o taxista ao destino e depois fogem ou simplesmente transportam coisas ilegais porque o taxista não os pode revistar.”
Khumbane diz ainda que não se deve comparar o táxi com o chapa, uma vez que o chapa sofre um desgaste muito maior do que o táxi, já que este último limita-se a ficar à espera do cliente. Em termos de receitas é muito irregular: o táxi pode ficar todo o dia sem fazer 200 meticais, enquanto o chapa procura os passageiros e pode fazer mais. Também depende das praças, do estado do carro, da higiene do taxista, etc.
Segundo Khumbane, o taxista deve conhecer a cidade, as ruas, as avenidas, as instituições, os hotéis, os restaurantes, as escolas, etc., de modo a servir bem o cliente. Os preços variam de acordo com a distância e o tempo do uso do táxi.
O @Verdade entrou em contacto com Frederico José, taxista de 45 anos de idade, 4 dos quais passados nesta profissão.
José é professor de profissão, formado pelo ex-Instituto Médio Pedagógico e trabalhou como director administrativo na Escola Secundária da Polana. Considera a profissão razoável. Para ele o mais atractivo nesta profissão é o facto de poder relacionar- se com pessoas, o que lhe ensinou muitas coisas na vida. Este interlocutor diz que a melhor estratégia que os taxistas utilizam para se proteger de pessoas mal intencionadas é simplesmente dizer que o táxi está ocupado, portanto, mentir para o cliente para evitar o pior. Outra tácnica é o pré-pagamento. Para José, a cor amarela, identificativa, também não é a mais apropriada. “Muitos clientes não gostam dela porque são conotados como tendo muito dinheiro por vizinhos ou colegas. Isto é um preconceito existente na nossa sociedade.
” José reclama o facto de não existir uma instituição de segurança que defenda estes profissionais. “O problema prende-se com o facto de trabalharmos com pessoas desconhecidas. Alguns clientes alugam o carro para fazer assaltos e, como nada dizem ao taxista, a sua função é só conduzir.”
Em relação às receitas José revela que, dependendo dos meses, às vezes consegue entre 10 a 11 mil meticais por mês, isto sem contar com as despesas de combustível, entre outras.
Felisberto Luis, taxista de 62 anos, 3 dos quais passados neste trabalho, caracteriza esta profissão como uma salvação da sua vida. Luis trabalhou como fiel de armazém durante 35 anos, tendo-se reformado e recebido algum dinheiro para construir uma casa para a família. Luís defende que trabalhar por conta própria é sempre melhor que para outros.
Falando dos riscos da profissão, Luis conta que uma vez, uma cliente lhe roubou a receita do dia e o telemóvel. “Eu já não trabalho à noite por causa destes riscos. Os principais perpetradores de crimes são os jovens, sobretudo quando estão bêbados.” Khumbane, Frederico José, Felisberto Luis e Joaquim Teixeira (todos taxistas) mostraram-se preocupados pelo facto de a associação dos taxistas não convidar os taxistas para as reuniões, mas sim os chefes representantes dos taxistas. Sugerem que a associação dê espaço aos taxistas para estes exporem os seus problemas e preocupações, “Nem que isso implicasse alguma taxa a pagar,” remataram.
O presidente desta associação acredita que a instituição que dirige está organizada, dando como prova disso o protocolo assinado com o Millennium BIM para o fornecimento de viaturas aos taxistas. Aliás, Mondlane afirma que alguns taxistas não se filiam na associação. “A praça conta com cerca de 400 taxistas, mas só 240 estão filiados na associação. E poucos pagam as quotas mensais de 100 meticais,” esclarece o dirigente. Como forma de uniformizar os preços na praça, a associação criou uma tabela de preços e distribuiu-os pelos taxistas.
Quanto ao uso do taxímetro, Mondlane diz que este aparelho é utilizado para marcar, em função da distância percorrida ou tempo dispendido, a quantia a pagar pelo utente, mas já não é muito utilizado porque as instituições que faziam a manutenção e reparação faliram.
“E quanto ao aspecto da protecção e segurança, a associação reuniu e chegou à conclusão de que os taxistas não podem ser portadores de armas de fogo porque isto pode levá-los à pratica de crimes,” concluiu Mondlane.