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Pneus usados: a alternativa de muita gente

Pneus usados: a alternativa de muita gente

Ao longo das avenidas da capital que dão acesso aos bairros suburbanos, vêem-se pneus amontoados à beira da estrada. À primeira vista parecem entulhos abandonados, mas na verdade são a principal alternativa para muita gente com viaturas e sem dinheiro suficiente ou o hábito de comprar pneumáticos novos.

São 13 horas de uma segunda- feira. Estamos na avenida Acordos de Lusaka, cidade de Maputo. Marcelino Artur, de 33 anos de idade, funcionário público, conduz a dez quilómetros por hora em direcção a uma oficina auto para trocar a roda vazia do seu carro. O pneu furou a escassos metros da sua casa em Hulene.

Como muitos, este cidadão circula sem roda de reserva. Em casos de acidente prefere recorrer a uma oficina qualquer, onde recebe todos os serviços mecânicos que o seu bolso pode pagar.“É sempre assim. Além de rápido, sai mais barato”, diz. “As oficinas informais vendem e montam pneus a um preço razoável”.

Qualidade

Armando Macamo, motorista de chapa há 7 anos, não menciona os preços baixos, prefere sublinhar a qualidade. Diz que os pneus adquiridos no informal são mais resistentes. “Nos dias que correm há muita pirataria e as lojas são mais propensas a isso”, refere.

Macamo tem gravado na memória o que lhe aconteceu da última vez que comprou pneus piratas: “quando o assunto são pneus recorro ao mercado negro. Há quatro anos adquiri duas rodas numa loja da baixa de Maputo e nem duraram dois anos”, lembra. Para este senhor o tempo de vida dos pneus novos fica mais abreviado com o intenso calor que se faz sentir nos meses de Novembro a Janeiro.

Refira-se que a versão de Macamo é relativa. A durabilidade varia de acordo com a marca, referência ou origem. Percebe-se, no entanto, que nem sempre os pneumáticos novos comercializados nas lojas são de fraca qualidade, como acredita o nosso interlocutor.

@Verdade visitou alguns estabelecimentos especializados, tendo constatado que existem pneus do género com uma duração eficaz e acima da validade prevista.

Julião Simba, de 47 anos de idade, e residente do bairro Albasine, é proprietário de três viaturas. Usa pneumáticos de segunda mão e diz que o faz para poupar e não pela qualidade. “Nem sempre os novos são fortes, existem também pneus da segunda mão que duram pouco tempo”, refere acrescentando que, “regra geral as rodas vendidas nas ruas de Maputo são de boa qualidade pois são de origem japonesa que entram por via da África do Sul, ao passo que os novos provêm de Dubai e China. Pela experiência, todos nós conhecemos os produtos que esses países mandam ao nosso mercado”, disse.

Origem

Sem muita importância na África do Sul, os pneus usados que enchem os olhos dos transeuntes das avenidas Acordos de Lusaka, de Angola e de Moçambique e que abundam nos mercados periféricos dos bairros suburbanos, tais como Xiquelene, Hulene e Benfi ca são resíduos sólidos preteridos porque o seu tempo de vida útil expirou. “O prazo de uso dos pneus nos veículos deve normalmente ir até aos cinco anos”, consideram alguns especialistas.

Da África do Sul para Moçambique são transportados em camionetas. “Para entrar em Moçambique pagamos altas taxas nas fronteiras”, disse um vendedor para depois acrescentar: “não posso adiantar os valores a que adquirimos, mas posso garantir que sem os custos alfandegários seria um negócio rentável”.

Só para ter uma ideia, os pneus da referência 6.50/16 LT, 7.00/16 LT e 7.50/16 LT para camionetas do tipo Canter, dependendo do estado que vai até ao que chamam de seminovo, custam na rua entre 1500 e 2500 contra os 6000 mil meticais nas lojas.

Segurança

E quais são as garantias de segurança fornecidas? Em termos de segurança não existem garantias possíveis. De acordo com alguns vendedores, quem recorre ao informal sabe de antemão dos riscos posteriores, pelo que não se responsabilizam pelos danos. “Basta o cliente afastar-se da nossa oficina e não respondemos pelo serviço. Aqui apenas prestamos os primeiros socorros, por isso é que fornecemos qualquer pneu de acordo com o bolso. Se quiseres um de duzentos meticais, arranjamos ”.

Para os especialistas, existem riscos associados à compra de pneus usados, cuja história de utilização é incerta ou desconhecida. Isto aplica-se tanto a pneus usados para substituição como a pneus que fazem parte do equipamento de um veículo usado.

Os pneus usados podem ter estado expostos a uma utilização inapropriada e apresentarem danos que podem, eventualmente, levar à sua inutilização. Nem todos os danos ou condições que podem levar à inutilização de um pneu são facilmente detectáveis.

Por exemplo, reparações ineficientes ou danos no revestimento interno de um pneu só podem ser observados por uma inspecção na parte interior do mesmo, desmontando a jante.

Um profissional qualificado deverá inspeccionar o estado interior e exterior do pneu usado, antes de o montar. Se for comprado um veículo de segunda mão e o historial dos pneus for desconhecido, é recomendável mandar inspeccionar o estado dos pneus por um profissional, incluindo a sua desmontagem para que seja feita a inspecção do interior e a eventual afectação das suas características como abaixo se recomenda.

Algumas recomendações

Com base nos pressupostos anteriores, recomendase o seguinte: não comprar, vender, ou instalar pneus usados que revelem:

• Quaisquer furos ou outro tipo de penetrações, reparadas ou não.

• Indicação de separação interna, como a separação do piso ou da cinta (ex. protuberâncias, inchaços, desgaste localizado do piso, vibrações, ruído não usual, etc.)

• Indicação de danos por ter rodado em vazio, com subpressão e/ou com excesso de carga (ex. escoriações no revestimento interior, laminado ou descoloração; desgaste excessivo do ombro do pneu, etc.)

• Cortes, fendas, protuberâncias, arranhões, fendas provocadas pelo tempo, danos de impacto, rachas, rasgões, etc., ou quaisquer danos visíveis no próprio pneu ou no seu piso.

• QUALQUER dano no revestimento interior ou no rebordo.

Instituto Nacional de Viação

Regra geral, os usuários das peças de automóvel de segunda-mão, escudam-se no argumento da limitação de meios fi nanceiros para adquiri-las no mercado formal. Para o Instituto Nacional de Viação, INAV, através do departamento de segurança rodoviária, a versão é pouco convincente. “Há pessoas que o fazem por hábito. Mesmo com condições agem da mesma forma. É preciso melhorar a fi scalização e, por outro lado, os órgãos competentes, nesse caso a Polícia de Trânsito, devem reforçar os moldes de controlo. Afi nal uma das coisas que aumenta a sinistralidade é a fraca qualidade desse material”, aponta.

Efectivamente, com ou sem fi scalização, a compra de pneus em segunda mão virou prática reiterada dos automobilistas. Alguns depositam esperanças na Mabor que foi uma das maiores fábricas de pneus na região da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC). “Vamos aguardar, talvez a partir de 2011 quando a fabrica voltar ao activo as coisas mudem”, dizem.

Inaugurada em 1979, altura em que iniciou a sua produção, a Mabor faliu por via de uma crise há cinco anos. Durante os momentos áureos chegou a produzir mais de 800 pneus por dia. Para além de abastecer o mercado nacional, exportava para a África do Sul (35 porcento), Zimbabwe, Malawi, Zâmbia, RDCongo (ex- Zaire), Botswana e Namíbia, bem como para outros países do mundo.

Em 1995 a Mabor recebeu o Certifi cado de Qualidade DOT (Department of Transportation) dos Estados Unidos da América, o que contribuiu para melhorar a cotação internacional dos pneus desta empresa. A Mabor de Moçambique, Manufactura de Borracha, S.A.R.L., possuía uma pequena fábrica de 23.000 metros quadrados, que produzia pneus para viaturas ligeiras, comerciais e pesadas, para tractores agrícolas, bem como câmaras-de-ar para toda a gama de pneus.

A fábrica ainda existe, aparentemente em boas condições, apesar de estar a degradar-se paulatinamente por falta de uso. 

 

 

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