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Radialista angolano apunhalado em Luanda

António Manuel da Silva, um dos comentadores e humoristas de rádio mais populares em Angola e cujas emissões satíricas tem sido críticas ao desempenho do Governo foi esfaqueado sexta- feira em Luanda, a capital de Angola, indica um comunicado do Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) sediado em Nova Iorque.

Mais conhecido por “Jojo”, o radialista regressava à sua casa por volta das três horas locais (quatro horas em Maputo) da madrugada quando ele “foi apunhalado por um assaltante com quem teria travado uma discussão sobre a sua emissão na Rádio Despertar”, afirmou o diretor desta estação privada, Alexandre Neto, citado pelo CPJ.

Na sua última emissão, Da Silva criticou o discurso sobre o Estado da nação pronunciado diante do Parlamento pelo Presidente José Eduardo dos Santos, a 15 de Outubro corrente, considerando que o mesmo omitiu “as questões essenciais”, designadamente a corrupção e a criminalidade no país, notou Neto.

Antes desta última agressão, o satirista já tinha sido alvo de ameaças de morte através de mensagens anómimas, desde Agosto passado, todas ligadas aos seus comentários na Rádio Despertar, segundo ainda o diretor desta estação radiofónica afeta à União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), principal partido da oposição angolana.

De acordo com o CPJ, Da Silva é o terceiro jornalista atacado desde Setembro passado pelas suas críticas contra o Governo. A 5 de Setembro passado, lembra, homens armados até agora não idenficados mataram o apresentador da mesma Rádio Despertar, Alberto Graves Chakussanga, enquanto, a 22 de Setembro, assaltantes dispararam e feriram um repórter da TV Zimbo, uma televisão privada. “Desde então, não houve nenhuma detenção e o porta-voz da Polícia em Luanda, Laureano Benge, não respondeu às nossas chamadas”, indicou a organização de defesa da imprensa.

“Condenamos a agressão com faca do nosso colega. Este incidente faz parte duma série alarmante de ataques que visa os jornalistas angolanos que criticam o seu Governo”, indicou o coordenador do CPJ para África, Mohamed Keita, antes de instar as autoridades angolanas “a julgar os autores destes crimes”.

A emissão de Da Silva, que passa duas vezes por semana em português, é um dos programas de rádio mais populares do país, indicaram jornalistas locais ao CPJ. Esta emissão aborda problemas políticos, socioeconómicos e levanta questões essenciais em relação ao desempenho do Governo.

Num relatório divulgado alguns dias antes da agressão contra Jojo, a Repórteres Sem Fronteiras (RSF), uma outra organização de defesa da liberdade de imprensa, Angola é apresentada como o pior país da lusofonia para exercer o jornalismo. No documento da RSF, Cabo Verde figura como o país de língua portuguesa melhor classificado, à frente de Portugal (40º), Brasil (58º), Guiné-Bissau (67º), Timor Leste (94º), Moçambique (98º) e Angola (104º).

Cabo Verde que subiu 18 posições no ranking 2010 da liberdade de imprensa da RSF, passando da 44ª posição para a 26ª, numa lista de 178 nações do mundo, é ainda o segundo país de África em matéria de liberdade de imprensa, ficando atrás apenas da Namíbia que ocupa o lugar 22 no ranking. A RSF cuja imparcialidade tem sido entretanto questionada por alguns partidos políticos, sindicatos e associações profissionais de diferentes países, bem como familiares de alguns jornalistas, publica anualmente um relatório sobre o estado da liberdade de imprensa no mundo.

Este documento, bastante mediatizado, baseia-se em diversos critérios para avaliar a liberdade real de imprensa em cada país, considerando desde ataques a jornalistas até à existência de leis que possam dificultar ou limitar essa liberdade. Há questionamentos quanto às fontes de financiamento da organização e críticas às posições assumidas sobretudo pelo seu secretário-geral, Robert Menard, sobre a prática da tortura que ele considera “justificável em alguns casos”.

A análise das contas da RSF feita por repórteres independentes e a alegada vinculação de Robert Ménard aos serviços secretos americanos, a CIA, bem como as suas declarações sobre a tortura parecem, na opinião de alguns observadores, contradizer os valores defendidos pela organização, suscitando reservas quanto à sua imparcialidade e aos seus reais propósitos.

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