O governo francês mobilizou na madrugada desta quarta-feira a polícia para abrir acessos a depósitos de combustíveis ocupados por grevistas contrários à impopular reforma previdenciária a ser votada nesta semana no Senado. O presidente Nicolas Sarkozy disse ter dado ordem para a polícia remover todos os bloqueios nos depósitos de combustível, num momento em que a ação dos grevistas prejudica o suprimento de cerca de um terço dos postos de abastecimento.
O ministro do Interior, Brice Hortefeux, disse que três depósitos foram liberados durante a noite, enquanto a França se prepara para mais protestos e greves do setor público contra a reforma, que eleva a idade mínima de aposentadoria de 60 para 62 anos. A 18 meses do fim do seu mandato, Sarkozy tem popularidade baixíssima e enfrenta pressão para desistir da reforma, o que ele diz ser impossível. Os protestos começaram em junho e se intensificaram na última semana.
Uma greve nas 12 refinarias francesas e os bloqueios nos depósitos de combustível provocam escassez de gasolina e diesel em cerca de um terço dos 12,5 mil postos do país. “Manifestação é uma coisa, bloqueio é outra. Não vamos deixar que o país seja bloqueado”, disse o porta-voz governamental Luc Chatel à rádio RTL.
Na terça-feira, pelo menos 1 milhão de pessoas saíram às ruas contra a reforma em várias cidades do país, na sexta jornada nacional de protesto. Esse é o movimento mais persistente em toda a Europa contra reformas adotadas pelos governos para combater seus déficits e dívidas.
VIOLÊNCIA
Episódios esporádicos de violência ocorreram às margens de algumas manifestações, especialmente em Lyon (sudeste). O governo teme que pequenos grupos estejam tentando “sequestrar” protestos predominantemente pacíficos. Cerca de 75 pessoas foram presas em Lyon, onde jovens incendiaram ou reviraram cerca de 30 veículos no centro da cidade, segundo a polícia.
Albert Doutre, encarregado da segurança pública local, disse que a cidade sofreu uma “guerra de guerrilhas” e que o contingente policial passará de 500 para 800. A maioria dos analistas prevê que as reformas serão aprovadas em breve – podem ser votadas no Senado até sexta-feira-feira, e depois disso faltará só tramitar numa comissão – e que os protestos se esvaziarão.
Mas os sindicatos, que já derrubaram reformas previdenciárias e trabalhistas em 1995 e 2006, com a mesma paixão vista nas manifestações estudantis de 1968, prometem não desistir. Após as paralisações de 24 horas que afetaram os serviços aéreos e ferroviários na terça-feira, as greves devem se tornar menos abrangentes nesta quarta-feira, mas a falta de combustível continua sendo um grave problema.
O governo está recorrendo às reservas estratégias de combustível, e o primeiro-ministro François Fillon garantiu que o abastecimento será normalizado nos próximos dias. “Para nós, taxistas, falta de combustível significa falta de renda e falta de comida,” disse Jean Gannichia, presidente de uma associação setorial em Marselha (sul), à TV LCI.
Os sindicatos pretendem manter a paralisação por tempo indeterminado em alguns setores, como o ferroviário, mas a estatal SNCF previu que parte do serviço, como os trajetos internacionais, funcionaria quase normalmente. As autoridades da aviação civil preveem transtornos limitados esta quarta-feira, depois da paralisação de 30 a 50 por cento dos voos de curta distância na terça-feira.