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Moçambique ainda é pouco conhecido na Malásia

Apesar da longa história de Moçambique, primeiro como colónia e mais tarde como República independente e soberana, o país continua a ser desconhecido na Malásia, não obstante o sistema educacional local incluir o ensino de noções básicas de geografia de todos os países do mundo.

“Sobre Moçambique só conheço a música “Moçambique: a luta contínuuwa; a luta continuuwa; continuwa”, disse uma cidadã malaia, em conversa com a AIM, traduzindo o significado desses versos, mesmo desconhecendo a língua portuguesa.

“Tirando isso, só sei que Moçambique é um país da Africa Austral”, acrescentou ela, confessando a sua incapacidade elaborar sobre Moçambique, cujo nome só se mantém na sua memória graças a esta música bonita da malograda cantora sul-africana Miriam Makeba.

Esta falta de conhecimento sobre Moçambique não é exclusiva a esta cidadã, segundo constatou a AIM em conversas mantidas com vários malaios nos dias em que decorreu, em Kuala Lumpur, a Cimeira das Primeiras Damas sobre a Criança.

As citações que se seguem foram extraídas em entrevistas com vários malaios, quando questionados pela AIM sobre Moçambique.

“Tenho poucos conhecimentos sobre Moçambique. É um país da Africa Austral, maior que a Malásia. Não conhecemos muito, apenas sabemos a localização geográfica, tal como aprendemos na escola”, disse Ahmad Ariffin, tradutor, intérprete e analista de assuntos de turismo.

“Aprendi sobre Moçambique na escola primária, nível em que também aprendemos sobre a geografia e religião do resto do mundo… sei que havia ou há crianças na guerra… A capital é… Maputo, mas antes era… Lourenço Marques, isso mesmo”, esta foi a resposta de Yasmin Yossuf, modelo e estrela de rádio.

Por seu turno, disse Arumuaham Kandasamy, trabalhador, respondeu “já ouvi falar de Moçambique. Sei que é um país pobre, pois costumava ver isso em documentários apresentados na televisão. Fora disso, não sei mais nada. Não é um país famoso como Nigéria, por exemplo, que tem um bom futebol e alguns problemas… A propósito, vocês lá têm uma equipa de futebol?”.

Ademais, nenhum cidadão malaio entrevistado pela AIM sabe que a sua maior companhia de hidrocarbonetos, a PETRONAS, possui interesses em Moçambique.

Moçambicanos em número insignificante na Malásia

O número de moçambicanos residentes na Malásia ainda e’ insignificante. Aliás, a comunidade moçambicana na Malásia é predominante constituída por jovens estudantes que beneficiaram de bolsas de estudo concedidas pela PETRONAS, uma das companhias envolvidas na pesquisa de hidrocarbonetos nas bacias do Rovuma, Norte de Moçambique, e do Zambeze, no Centro.

Trata-se de um grupo de cerca de 30 jovens que estão a frequentar vários cursos, incluindo Engenharia de Petróleos e Construção Civil.

Durante a Cimeira das Primeiras Damas, a AIM conversou com dois dos jovens moçambicanos, designadamente Pedro Chilambo, estudante do curso de licenciatura de Engenharia de Petróleos, e Osório Nhanzila, que está a cursar Engenharia Civil.

Eles dizem que as suas aulas estão a decorrer normalmente e esperam terminar os cursos em tempo recorde e regressar a casa para aplicar os seus conhecimentos.

“O ambiente para estudar é bom. Espero voltar a casa e implementar os conhecimentos adquiridos durante a minha formação”, disse Chilambo, jovem que se encontra a estudar na Malásia há sensivelmente um ano.

Contrariamente a Chilambo, o jovem Nhanzila, que é proveniente da província de Inhambane, já terminou as disciplinas curriculares, estando actualmente a prestar um estágio, findo o qual deverá defender a sua tese e regressar a casa.

Urge explorar oportunidades

Apesar do seu exíguo conhecimento sobre Moçambique, os malaios manifestam-se abertos para embarcar em fortes relações de cooperação com o país.

Arumuaham Kandasamy considera que os dois países deviam estreitar as suas relações bilaterais nas áreas de negócios e turismo.

“São bem vindos à Malásia, aprecio os moçambicanos porque são pessoas simpáticas e amigáveis. Devia haver mais moçambicanos a investir na Malásia e empresários malaios a investir em Moçambique e a trocarem experiências”, disse Kandasamy, que há 10 anos trabalha na área do turismo.

O mesmo sentimento é partilhado por Ahmad Ariffin que defende que o reforço da cooperação bilateral entre os dois países pode resultar em múltiplos benefícios.

“Sei que Moçambique tem vindo a enviar, de quando em vez, funcionários do Governo para cá (na Malásia). Por outro lado, sei que Moçambique é um país que acolhe investimentos estrangeiros, então é possível o reforço de cooperação”, disse Ariffin.

O interlocutor diz haver muitas potencialidades possíveis de impulsionar a cooperação bilateral entre ambos os países.

Refira-se que a Malásia é um dos países do sudeste asiático que recebe um elevado número de turistas.

Segundo ele, contrariamente ao que se pensa, o Turismo e o óleo de palma não são as maiores fontes de receitas da Malásia, mas sim a indústria de manufacturação, que nas últimas duas décadas ganhou uma maior proeminência. Ele explicou que a principal riqueza daquele país são as luvas de borracha.

“As pessoas podem não pensar nisso, mas imagina, as luvas de borracha são usadas em todos os hospitais do mundo e Malásia é um grande exportador desse material. Além disso, nós temos indústria automóvel. Nós somos o único país em desenvolvimento que produz carros de forma sustentável que exportámos para 27 países do mundo”, acrescentou.

Como resultado, a economia da Malásia tem vindo a crescer desde a independência nacional celebrada em 1957. Actualmente, os rendimentos per capita do país estão estimados em seis mil dólares americanos, tendo o Governo estabelecido uma meta de 15,3 mil dólares até finais de 2020.

Aliás, este crescimento é visível tanto no rosto das pessoas como na via pública, particularmente em Kuala Lumpur, uma cidade antiga, mas que ainda está em construção.

Lançadas sementes da cooperação

Durante a Cimeira das Primeiras Damas realizada semana passada em Kuala Lumpur, a Primeira-Dama moçambicana, Maria da Luz Guebuza, manteve um encontro com Rosmah Mansor, esposa do Primeiro-Ministro da Malásia.

Falando em conferência de imprensa de balanço da sua visita a Malásia, Maria da Luz Guebuza disse que, durante o referido encontro, ambas falaram sobre a possibilidade de estreitar as relações entre os seus gabinetes e governos dos dois países.

“Ela (a esposa do Primeiro-Ministro da Malásia) comprometeu-se em trabalhar connosco para explorarmos as potencialidades existentes nos dois países, aprendermos e trocarmos experiências”, disse ela.

Essa intenção será facilmente implementada depois da acreditação do recém-nomeado Alto-comissário de Moçambique na Malásia, Agostinho de Rosário.

De Rosário foi apontado para o cargo de Alto Comissário junto da Malásia e Singapura em meados do mês passado.

Actualmente, Agostinho do Rosário representa o país em Timor-Leste, Tailândia e Indonésia, mas com residência em Jacarta.

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