O Secretário Executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), o guineense Domingos Simões Pereira, considerou de “preocupante” a nomeação do contra-almirante José Bubo Na Tchuto para chefe do estado maior da Armada da Guiné-Bissau. Domingos Simões Pereira, que falava à jornalistas, esta Segunda-feira, em Lisboa, à margem da apresentação do novo director do Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP), admitiu que se lhe coubesse esta decisão não a tomaria.
“Num momento em que gostaríamos de continuar a mobilizar o apoio, a atenção, o acompanhamento da comunidade internacional, realmente essa nomeação não pode deixar de ser preocupante”, sublinhou o Secretário Executivo da CPLP.
O contra-almirante Bubo Na Tchuto foi nomeado chefe de Estado Maior da Armada a 13 de Outubro corrente, cargo que já tinha ocupado anteriormente, até Agosto de 2008, quando foi acusado de tentativa de golpe de estado, tendo fugido para a Gâmbia, onde esteve exilado cerca de dois anos.
Em finais de Dezembro de 2009, regressou à Guiné-Bissau e refugiou-se nas instalações das Nações Unidas em Bissau até 1 de Abril, quando ocorreu a intervenção militar para afastar o almirante Zamora Induta da chefia das Forças Armadas do país.
Os EUA “lamentaram” num comunicado publicado na passada quartafeira em Dakar a nomeação de Bubo Na Tchuto, reafirmando que esse “barão da droga” joga um “papel importante no tráfico internacional de estupefacientes”.
“A embaixada dos Estados Unidos lamenta a nomeação do almirante José Américo Bubo Na Tchuto como chefe do Estado-maior da marinha bissauguineense”, indica o comunicado adiantando que essa decisão prejudica os esforços de boa governação, o Estado de direito e o princípio democrático da primazia do poder civil sobre as Forças Armadas na Guiné-Bissau.
“Como indicou no comunicado de imprensa de 04 de Abril de 2010 do departamento de Tesouro dos Estados Unidos, o papel importante que jogou Na Tchuto no tráfico internacional de estupefacientes preocupa grandemente o governo dos Estados Unidos que o levou a designar como um barão da droga”, acrescenta a embaixada.
Enquanto isso, em Bissau, o Primeiro-Ministro da Guiné-Bissau, Carlos Gomes Júnior, disse esta Segunda-feira à Lusa que o país respeita os parceiros de desenvolvimento, mas que as acusações dos EUA, envolvendo o almirante Bubo Na Tchuto no narcotráfico, nunca foram formalizadas. ‘Há acusações que foram feitas contra o contra-almirante Bubo Na Tchuto.
Essas acusações não foram formalizadas. Foram veiculadas pela Internet”, afirmou o Primeiro-Ministro guineense. “Dentro do devido respeito que temos pelos nossos parceiros, também esses parceiros têm de ter respeito por esse Estado. Somos membros das Nações Unidas. Um Estado não é notificado pela Internet”, salientou Carlos Gomes Júnior.
No “primado da lei, há presunção da inocência até ao julgamento”, disse o Primeiro-Ministro da Guiné-Bissau. “Nós não podemos fazer a justiça nos jornais, nos media. Estamos aqui para colaborar. Temos parcerias com a UNODC (Gabinete da ONU contra a Droga e Criminalidade), Interpol e vários países”, disse, sublinhando que o narcotráfico não é um problema da Guiné-Bissau, mas do mundo.
“Tem de haver cooperação entre as polícias e entre os estados para banir esse mal no seio das nossas sociedades. Não é uma questão de respeito pelos nossos parceiros é uma questão de princípio de um Estado de Direito”, concluiu.
O departamento Federal do Tesouro dos Estados Unidos da América anunciou em Abril, no âmbito da lei Kingpin, ter congelado os bens do general Ibraima Papa Camará, chefe do Estado Maior da Força Aérea guineense, e do contraalmirante Bubo Na Tchuto, chefe do Estado Maior da Armada, por alegado envolvimento no tráfico de droga.
Tanto Papa Camará como Bubo Na Tchuto negaram qualquer ligação com o tráfico de droga e ambos afirmaram não possuir bens ou contas bancárias nos EUA. As autoridades guineenses dizem nunca terem sido notificadas pelos Estados Unidos.