O governo da Etiópia foi acusado de usar a ajuda ao desenvolvimento para suprimir a oposição política no país. O grupo de campanha de direitos humanos Human Rights Watch diz que uma investigação conduzida ao longo de seis meses concluíu que foram negadas sementes e fertilizantes doados pelas agências internacionais a elementos da oposição. Estes elementos foram igualmente excluídos de oportunidades de emprego e empréstimos.
A Human Rights Watch apela aos doadores para garantirem que a sua ajuda é distribuída de forma transparente. O governo da Etiópia ainda não reagiu às conclusões do estudo, mas no passado rejeitou acusações parecidas, que considerou “ridículas e ultrajantes”.
O estudo da Human Rights Watch refere que os doadores internacionais consideram que a situação dos direitos humanos na Etiópia se tem vindo a deteriorar, mas que não irão limitar a ajuda por recearem colocar em risco os avanços económicos já conseguidos.
À BBC, o autor do estudo, Ben Rawlence, disse que os problemas eram generalizados na Etiópia: “Falámos com 200 pessoas em 53 aldeias de três regiões e a resposta que eles dizem receber é sempre a mesma: Se querem ajuda alimentar, se querem micro-empréstimos, fertilizantes ou sementes, vão pedir ao vosso partido político. O partido no poder diz que lutou por isso e o que conquistou é para eles.” E acrescentou: “O estudo não é conclusivo, foi feito apenas em 200 aldeias, mas sugere que é um problema que as agências de ajuda não estão a tomar em consideração como deviam.”
O investigador disse que a ajuda era usada como um instrumento político pelo governo etíope: “Estamos a falar de assistência ao desenvolvimento, de apoio orçamental ao governo, mas os gastos nas aldeias são feitos de acordo com prioridades políticas, discriminando aqueles que não os apoiam. É um problema endémico, crónico, é assim que este regime opera.”
Ben Rawlence criticou ainda as autoridades etíopes pela reacção a este estudo: “As pessoas tinham muito medo de falar comigo, faziam-no apenas em locais seguros, longe das suas aldeias e das suas casas.”
O investigador revelou ainda: “Eventualmente, o governo etíope descobriu-me, fui deportado e quando estava a tentar entrevistar agricultores que me diziam que tinham sido privados de participar num programa de ajuda alimentar em troco de trabalho, dado estarem a passar fome, eu fui deportado e eles foram detidos. Acho que isto demonstra bem como estas alegações são sensíveis.