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O lado erótico do poeta maior

O lado erótico do poeta maior

Foi lançado na quinta-feira (dia 7), no Hotel Cardoso, em Maputo, o livro “Erotismo como linguagem na obra de José Craveirinha”. Da autoria do sociólogo Luís Cezerilo, da obra, que tem a chancela da Alcance Editores, infere-se, sem dúvida, que erotismo foi um dos eixos estruturantes da poética de José Craveirinha.

“O erotismo é algo de muito íntimo. É, acima de tudo, uma interpretação feita pela imaginação de cada indivíduo. É uma babilónia de sentidos. É aquilo que nos faz ficar estonteados perante a sugestão dos prazeres que se vê num decote mais arrojado ou que nos deixa com vertigens perante as alucinantes possibilidades que se insinuam nas linhas traçadas por um par de pernas cruzado que uma saia mais justa e curta deixa antever, mas que faz, por outro lado, com que permaneçamos impávidos perante um corpo que se revela instantaneamente nu.”

Foi desta forma gongórica, a roçar um certo brejeirismo, que Carlos Santos apresentou, na passada quinta-feira (dia 7) no Hotel Cardoso, em Maputo, a obra “Erotismo como Linguagem na Obra de José Craveirinha” da autoria de Luís Abel dos Santos Cezerilo.

O livro é fruto da pesquisa desenvolvida por Luís Cezerilo para o seu trabalho de pós-graduação desenvolvido junto do Departamento de Literatura da Faculdade de Ciências e Letras de Universidade Estadual Paulista, em Araraquara.

“Estamos a falar de um sociólogo que também é poeta e talvez seja essa a razão pela qual Cezerilo se debruça sobre a poesia de alguém que também foi sociólogo: o poeta José Craveirinha”, continuou Santos.

Eis as chaves das algemas

Depois dissertou sobre a relação entre a poesia e o erotismo. “A poesia, sem dúvida, que é uma forma preferencial de expressão do erotismo. Só que é uma forma que precisa de ser desnudada.

A poesia é uma arte que se veste com o uso e abuso de artimanhas literárias como os eufemismos e as alegorias e para compreendê-la é preciso despi-la e é por isso que me sinto tentado a dizer que a poesia é sempre erótica.

E é este desnudar, esta interpretação do erotismo como linguagem na poesia de José Craveirinha, que o Luís nos traz aqui para que todos possamos desfrutar destes momentos de deleite que Craveirinha esculpiu com o cinzel acutilante da palavra.

O Luís pegou então num bisturi e desta feita, tornado cirurgião, veio aqui escalpelizar os poemas, palavra a palavra, imagem por imagem, revelando-lhes a subtilezas e nuances até que a essência do poema se liberta como a essência de um perfume quando se tira do frasco a tampa que impede que se desfrute todo o seu odor.”

Já no final da sua longa intervenção – durou 26 minutos – Carlos Santos exortou os presentes a deixarem-se seduzir pelo erotismo. “Soltem-se das algemas que vos amarram ao espaldar da vossa vergonha. O Luís deu-nos, nesta obra, a chave das algemas. Parabéns por esta obra, obrigado por esta partilha.

Que as ideias que neste orgasmo deste à luz, que é uma consequência muito frequente do erotismo, cresçam e se multipliquem. Desculpem a minha alongada intervenção mas falar de uma obra de envergadura e de um poeta de envergadura exige uma intervenção de envergadura.”

Domínios vizinhos

Depois de uns minutos de showesia, interpretados por Tânia Tomé que declamou alguns poemas de Craveirinha, o autor, Luís Cezerilo, pegou na palavra e começou por citar o autor argentino Jorge Luís Borges: ‘Naquele império a arte da cartografia chegou a tal perfeição que o mapa de uma província ocupava toda uma cidade e o mapa do império toda uma província.

Com o tempo, esses mapas desmesurados, já não se encontravam mais. Os colégios de cartógrafos que elaboraram o mapa do império que tinha a imensidão do próprio império coincidia perfeitamente com ele.

Mas as gerações seguintes, menos atentas ao estudo da cartografia, pensaram que este mapa enorme era inútil e não sem piedade abandonaram-no às inclemências do sol e dos invernos.’ “A lição disto é que o mapa como instrumento semiótico não é o território.

Ele não representa tudo de um território. Ele deve ser sobretudo auto-reflexivo. Se cada escolha se dá em função de uma possibilidade única, tentei tirar da moral da história do mapa as lições para a delimitação necessária para a realização deste trabalho.”

Noutro desenvolvimento referiu: “Apontar o erotismo como uma das formas de expressão deste acervo de José Craveirinha impulsiona-nos à realização de um trabalho que implica um duplo movimento: primeiro delimitar fronteiras no que se refere ao território fluído do erotismo e da literatura e o segundo de verificar esse território da literatura moçambicana sempre indissociavelmente.

Assim somos levados a crer que tanto a literatura como o erotismo pertencem domínios vizinhos dividem as mesmas tarefas que são, entre as várias possíveis, a de formar subjectividades, visitar a intimidade das pessoas e realizar desejos, projectos e sonhos.”

“Com as análises aprendemos que Craveirinha pode ser considerado um escritor que se aventura no campo da sensualidade e do prazer eróticos porque sempre empenhado em subverter o código social sob o guarda-chuva do glamoroso sexual onde a partir do convívio com o outro moldam horizontes individuais mas sobretudo colectivos.”

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