Começou a tropeçar e acabou sob ameaças de uma tempestade forte mas com direito a uma sonoridade Hard Bop numa performance do trompetista Fabrizio Bosso com interpretação de Caravan num final que serviu para desmanchar o que de menos bom houve no quarto e último dia do Festival de Jazz Itália-Moçambique.
Numa das suas primeiras edições, o jornal @Verdade lançou um concurso, com a finalidade de despertar o interesse da sociedade pela valorização do património, que consistiu na identificação e eleição das Maravilhas do nosso país. O edifício principal dos Caminhos-de-Ferro de Moçambique, a sua estação de comboios, foi identificado como uma das maravilhas que o nosso país possui.
A estação é, de facto, “O património” do nosso país, quer no que diz respeito ao papel que desempenha no sector da economia, quer como cartão-de-visita obrigatório, com satisfação garantida, da cidade capital que é Maputo, tendo já sido relatada nos mais variados contextos.
Porque é de facto uma plataforma com esplendor, tem sido palco residente para as mais variadas manifestações como paradas de moda, espectáculos musicais e/ou pura e simplesmente de entretenimento.
A gare de comboios dos CFM é cobiçada por qualquer um que lá passe. Não é somente o local de partidas e chegadas mas sim, também, o local para se estar. E para melhor se estar, ou seja, para que se torne uma casa que recebe os que chegam e acompanha os que partem, albergando os que sempre ficam nada melhor do que a criação de um festival de música residente, nesta gare.
Já se sabe que o lugar é emblemático, que tem realizado e apresentado, quer através de produções próprias ou em pareceria como aconteceu no passado dia 8 do mês corrente com o Itália-Moçambique jazz fest, concertos musicais de pequena e grande dimensão; nos corredores dos espaços perdidos desta gare deparamo-nos com manifestações poéticas e fotográficas, enquanto ao mesmo tempo se pode contemplar as formas arquitecturais que o local obedece; o bar existente, que agora também se estende aos serviços de restaurante, é um perfeito lugar para momentos de estúrdia.
Com tudo isto, é chegado o momento de este local deixar de andar a reboque e deixar que outros tracem a sua agenda, sobretudo, de concertos musicais que ali acontecem – longe de criticar as parecerias que tem surgido neste âmbito com instituições como a embaixada dos Estados Unidos da América, Cooperação Italiana e outras – e criar uma marca sua, um festival seu, com protagonistas internacionais e nacionais, dentro dos moldes considerados aceitáveis, geridos e decididos pelos responsáveis do local.
É verdade que a criação de um festival próprio não é tarefa fácil e obriga a um nível de conhecimento e de experiência nos mais variados níveis inerentes a este tipo de produções, contudo um tal atrevimento não seria descabido de todo.
Um festival próprio, neste local, pode provocar a ignição de sinergias que resultariam na solidificação da exaltação do nosso património para além de outros efeitos positivos gerados em cadeia.
Para terminar, é preciso dizer que o último dia do festival não deve ter sido negociado com São Pedro, pois as ameaças de tempestade acompanhada de chuva mancharam aquela que poderia ser uma grande noite de jazz e folclore protagonizada pelo Duo Luciano Biondini no Acordeão e Fabrizio Bosso no Trompete e Flugelhorn, em que o primeiro, pela natureza do instrumento que executa, fez forte alusão ao folclore no feitio ítalotango fundido no jazz fazendo lembrar muitas vezes Richard Galiano; enquanto o segundo mostrou ser um músico e perfomer de grande nível nutrido de vitaminas Hardbop.
Resta esperar mais edições, pois antes a reboque do que a ver navios.