A teoria econômica que defende a flexibilização do mercado de trabalho para estimular a geração de empregos valeu a dois americanos, Peter Diamond e Dale Mortensen, e ao cipriota-britânico Christopher Pissarides o Prêmio Nobel de Economia em 2010.
Criados em 1994, os modelos desenvolvidos pelos três pesquisadores ajudam a explicar o “ruído” na comunicação entre a oferta e a procura em diferentes mercados. O anúncio dos vencedores foi feito ontem, em Estocolmo, pelo Banco Central da Suécia. Em comunicado, os organizadores do prêmio afirmam que a teoria criada por Diamond, 70 anos, Mortensen, 71 anos, e Pissarides, 62 anos, “visa explicar como uma taxa de desemprego elevada pode, às vezes, subsistir a despeito de uma oferta de empregos largamente disponível”.
Os seus modelos “ajudam a entender como o desemprego, as vagas e os salários são afetados pela regulação e pela política econômica”. Entre as conclusões do estudo premiado está um mantra do liberalismo econômico contemporâneo: “Quanto maior é o seguro-desemprego, mais a taxa de desemprego é elevada e mais o tempo de procura é longo”.
Entre as soluções apontadas pelos pesquisadores, está a redução dos custos de demissão, o que, segundo o estudo, traria maior fluidez ao mercado de trabalho, auxiliando a redução do desemprego. Essa lógica foi imediatamente aplicada em meados dos anos 90. Ela está por trás das medidas de “flexi-seguridade” implantadas no mercado de trabalho da Europa, em países como o Reino Unido, durante o governo do primeiro-ministro do Partido Trabalhista Tony Blair. A política previa a redução dos benefícios ao desempregado, facilitando o processo de demissão – e, por consequência, de contratação.
A implementação também resultou na reorganização das agências de emprego. Modelo DMP. A ideia central do Modelo DMP – sigla que faz alusão à Diamond-Mortensen-Pissarides – é de que as teorias econômicas clássicas sobre oferta e demanda, na qual o preço é o fator de ajuste, não explicam por que o número de postos de trabalho vagos é tão elevado ao mesmo tempo em que o desemprego permanece alto.
O resultado é uma contradição. “Em tais mercados, as exigências de alguns compradores não são atingidas, enquanto certos vendedores não conseguem vender tanto quanto desejariam. Assim, há ao mesmo tempo oferta de empregos e desemprego no mercado de trabalho”, explicam os organizadores do prêmio. Esse ruído, afirma a tese dos vencedores, é provocado em parte porque o encontro entre a oferta e a demanda não é automático, e pode vir a ser longo e dispendioso.
Num ambiente excessivamente regulado e no qual as demissões fossem caras, um empregador ficaria reticente em empregar pelo temor de assumir custos excessivos. A mesma teoria, lembra o Nobel, pode ser aplicada a diferentes mercados, como o imobiliário, por exemplo. Problema atual.
Na Europa e nos Estados Unidos, a premiação foi encarada como uma distinção a quem propôs uma nova interpretação para um problema atualíssimo em meio à crise financeira e à recuperação lenta do crescimento: a recuperação do mercado de trabalho.
Falando em Londres, Pissarides, professor da London School of Economics (LSE), defendeu a implantação de políticas públicas de estímulo ao emprego em meio à crise. “Temos de assegurar que os desempregados não fiquem sem trabalho por muito tempo, para que não percam contato com o mercado”, argumentou.
Entre os três premiados, Diamond, economista especializado em seguridade social, pensões e impostos e acadêmico do Massachusetts Institute of Technology (MIT), é o mais famoso. Mentor intelectual de Ben Bernanke, atual presidente do Federal Reserve (Fed), Diamond chegou a ser cogitado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para dirigir o banco central daquele país. No entanto, sua escolha foi rejeitada pelo Senado americano.
Em entrevista coletiva, na segunda-feira, Diamond definiu o seu dia como “maravilhoso”. Mas sua satisfação pessoal não trouxe mais otimismo à sua análise sobre a retomada econômica após a crise. “Creio que o processo será lento e doloroso para toda a economia e, óbvio, para todas as pessoas que enfrentam dificuldades de encontrar trabalho”, avaliou. Diamond também defendeu os planos de resgate do sistema bancário realizados a partir de 2008 nos Estados Unidos e na Europa.
Análise semelhante faz Mortensen, professor da Universidade de Northwestern, de Chicago. Segundo o acadêmico, problemas estruturais ajudam a explicar o nível de desemprego elevado nos Estados Unidos. “O problema do mercado de trabalho não vem do mercado de trabalho”, afirmou. “O que acontece no mercado é um sintoma de um problema mais complexo que envolve os mercados financeiros.” Pelo prêmio, os três economistas receberão US$ 1,5 milhão.
A entrega dos prémios de todas as categorias do Nobel acontecerá no dia 10 de dezembro.