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Dissidente chinês dedica Nobel da Paz a mortos em protesto em 89

Países europeus irão à cerimônia do Nobel da Paz

O dissidente chinês Liu Xiaobo dedicou o seu Prêmio Nobel da Paz aos mortos na repressão às manifestações pró-democracia de 1989 em Pequim, segundo relatos divulgados esta segunda-feira, enquanto a imprensa chinesa disse que o prêmio mostra o medo que o Ocidente tem da China. Ainda esta segunda-feira, o Ministério de Relações Exteriores da Noruega afirmou que a China cancelou uma reunião com a ministra norueguês da pesca que estava marcada para esta semana, numa demonstração de irritação com o prêmio, que é concedido em Oslo.

A ministra Lisbeth Berg-Hansen já estava na China, a preparar-se para o encontro na quarta-feira. As reações conflitantes ao prêmio, concedido a Liu na sexta-feira, mostram as tensões existentes entre o Partido Comunista chinês e seus críticos, no país e no exterior – tensões que ainda evocam delicadas lembranças de 1989.

Liu, que cumpre pena de 11 anos de prisão por ter participado de um manifesto pró-democracia em 2008, foi informado sobre o prêmio no domingo, numa visita de sua esposa, Liu Xia, e disse a ela que o Nobel é um tributo aos ativistas mortos por militares há 21 anos na praça Tiananmen (ou da Paz Celestial), numa onda de protestos do qual ele também participou.

“Este prêmio vai para todos aqueles que morreram em 4 de junho de 1989”, disse Liu à esposa, segundo relato dela reproduzido pelo jornal norueguês Dagbladet.

Para a imprensa chinesa, o Nobel a Liu foi um sinal do preconceito e do medo do Ocidente da ascensão econômica chinesa. “A concessão do Prêmio Nobel da Paz ao ‘dissidente’ Liu Xiaobo nada mais foi do que uma nova expressão desse preconceito, e por trás dele está um extraordinário terror com a ascensão da China e com o modelo chinês”, disse o popular tabloide Global Times, que encabeçou as críticas midiáticas ao prêmio.

O jornal argumenta que, se a China cedesse aos apelos de Liu por democracia multipartidária, o destino do país “talvez não fosse melhor do que o da ex-União Soviética e a Iugoslávia, e o país provavelmente teria um rápido colapso”. O China Daily, jornal governamental em inglês, disse que o prêmio foi “parte de um plano para conter a China” e expôs uma “profunda e ampla divisão ideológica entre este país e o Ocidente.”

Liu, um ex-professor universitário de 54 anos, incomoda o governo desde 1989. Ele já passou por vários períodos de prisão por causa das suas campanhas por liberdade de expressão e democratização. EUA e Europa elogiaram o prêmio, enquanto a chancelaria chinesa o qualificou como uma “obscenidade” e fez ameaças de retaliação à Noruega – que por sua vez se apressou em dizer que nada tem a ver com o comitê que concebe o Nobel.

Segundo o Dagbladet, a mulher de Liu disse ter sido “colocada sob prisão domiciliar.” Shang Baojun, advogado de Liu, disse à Reuters que não conseguiu contato com a mulher. “Ela provavelmente está em casa com as comunicações cortadas, sob vigilância”, afirmou o advogado, citando mensagens da internet. Grupos de direitos humanos dizem que outros ativistas e dissidentes também foram detidos desde o anúncio do prêmio.

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