A Suazilândia, como muitos outros países da África austral e não só, é caracterizada pela existência de contrastes acentuados que na base destes podem estar factores, como por exemplo: A colonização de tipo anglo-saxónica, que durante e após o período em que ocorreu determinou quem detinha o poderio económico; o tipo de regime de governação, soberana, vigente no país determina a estratificação, logo a partida, dos que estão directamente ligados à dinastia soberana daqueles que não estão, conferindo, assim, a estes dois grupos destinos diferentes neste reinado.
No entanto, o que resulta destes contrastes nem sempre é negativo, como testemunha o “House On Fire” localizado nas encostas do vale do Ezulwini a escassos 50 km da cidade de Manzini que deve ser dos locais mais eclécticos que tenho conhecido; pelo menos faz o meu estilo e acredito que de muito mais gente.
Está cravado no campo agrícola de Malandela, sobre uma esteira de verde vegetação que é abraçada por um conjunto de montanhas que observa e preserva o que ali acontece, e que ao mesmo tempo serve de refúgio, no final do dia, do Astro central que logo pela manhã espalha a sua luz e calor por estes campos. Tem uma arquitectura que insinua uma escultura viva, em que o Gótico, Barroco e o tradicional se misturam fazendo lembrar, em algum momento, o grande Mestre Gaudi, pois tem contido, nela, um sentido apurado de estética em vários domínios como a engenharia, a escultura e a pintura.
A estrutura do edifício parece estar numa permanente coreografia representada através dos seus variados espaços que se cruzam em diferentes dimensões, sendo que o epicentro difunde-se a partir do palco Afro-Shakesperiano, o local onde acontecem as grandes manifestações culturais de música, dança, teatro e demais, encoberto por um teto semi-aberto que quando a noite cai permite que os protagonistas e espectadores contemplem o manto negro da noite em busca das estrelas que incitam à inspiração.
Foi para este ambiente que os Bons rapazes, Ghorwane, foram convidados a actuarem, para celebrar os 10 anos de existência deste espaço. A festa foi preparada com pompa e circunstância, com todos os detalhes necessários para a realização de tal efeméride. Deu-se início a festa com os habituais discursos de saudações, apresentações e agradecimentos, perante uma audiência composta por agentes que colaboram com a direcção do local, como representantes das instituições do estado, estruturas locais, comunitárias, o empresariado, principal motivador e financiador para a realização de vários projectos de cariz cultural, e público em geral.
Com todos estes condimentos, “Os Bons Rapazes” não podiam deixar os seus créditos em mãos alheiras pois estavam estabelecidas todas as condições para que realizassem uma performance ao nível do desejado. O público, composto por gente simpática, bonita e participativa, não se deixou levar em cerimónias e não hesitou em a dar gosto ao pé logo que os acordes começaram a soar das torres sonoras, num som bem calibrado pelo técnico da banda, o sueco “moçambicanizado” Charlie.
Ouvir temas como Sathani, Muthimba, Buluko, o resgatado N’dlala, Massotchua, Sathuma, Majurugenta, só para citar alguns, numa envolvência de campos agrícolas, cenários cosmopolitas fora e longe de “casa” pode ser traduzido como sendo “ouro sobre azul”. Durante uma hora e meia a casa esteve em chamas; a actuação dos “Rapazes” só teve que terminar porque, embora a “cena estivesse a animar”, havia protocolos a serem respeitados.
As labaredas do fogo foram atiçadas pelo resto de noite por um Disco Jockey de gosto apurado e que de certeza que as mesmas chegaram aos braços das montanhas. House was real on fire!!!** O local, House On Fire, no campo agrícola Malandela, é o palco do já tradicional e bem conhecido festival internacional de música da região denominado Bush Fire em que os Ghorwane tiveram a sua primeira participação na segunda edição do mesmo, no ano de 2007.
Tornam-se assim em figuras da casa, tendo já sido agendados para a próxima edição a decorrer em Maio de 2011, para além de outras participações e projectos que deverão ocorrer ao longo dos próximos tempos. A conceptualização deste local é de um equilíbrio funcional em que se destaca, mais, o casamento criado entre o cosmopolita e o rural apelando a um contraste saudoso, sendo por isso um local de visita obrigatória.
*Tradução do Shisuwati – Palhota (casa) a arder
** Tradução do Inglês- A casa estava em chama