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Pão alternativo mais caro que o normal

Preço de trigo vai subir

As autoridades moçambicanas estão a incentivar os panificadores a utilizar meios de produção locais alternativos ao trigo, mas na cidade de Maputo o pão feito de milho custa seis vezes mais caro que o de trigo.

Na passada Sexta-feira, o Ministro da Indústria e Comércio, António Fernando, percorreu algumas padarias da capital moçambicana para, dentre vários aspectos, encorajar os panificadores a utilizar meios alternativos ao trigo para reduzir a dependência do país em relação as importações do trigo. “Encorajamos os panificadores a usar outras farinhas … Agora Inharrime conta com uma máquina para misturas de farinha de mandioca e de trigo, mas também estamos a encorajar o uso da farinha de milho. É um recurso que temos e queremos aproveitar”, disse o governante.

Moçambique é um excelente importador de trigo, uma vez que a produção interna deste cereal, estimada em 22 mil toneladas anuais, apenas consegue satisfazer cinco por cento das necessidades do país. Por isso mesmo, o país tem sido severamente afectado pela oscilação do preço do trigo que, só nos últimos dois anos, passou a custar 50 por cento mais caro no mercado internacional. Nos últimos meses, o preço do produto subiu de 206,17 para 267,53 dólares americanos/tonelada.

A tentativa de responder a essa pressão internacional através de aumento do preço do pão no país resultou em tumultos populares registados em princípios do mês passado tendo provocado a morte de 13 pessoas e o ferimento de outras mais de 150. O Governo recuou e decidiu subsidiar o preço do trigo às panificadoras, mas a medida é de carácter transitório enquanto se encontram melhores soluções para o problema.

Durante a sua ronda pelas padarias de Maputo, António Fernando perguntou aos panificadores qual é a possibilidade de passarem a fabricar broa (pão feito com base na farinha de milho) e pão feito de mistura de farinha de trigo e de mandioca. Contudo, a maioria dos panificadores revelou nunca ter experimentado essas farinhas alternativas ao trigo.

O único local (dos quatro visitados) onde se faz broa é a Padaria Marisqueira do Alto-Maé, localizada nos arredores da cidade. No entanto, esta padaria vende a broa ao preço único de 30 meticais (0,8 dólar), cinco vezes mais caro em relação aos 5,5 meticais cobrados por um pão normal (feito exclusivamente pela farinha de trigo).

Na sua explicação, António Ribeiro, da Padaria Marisqueira do Alto-Maé, disse que o actual preço da broa deve-se ao elevado custo da principal matéria-prima para o fabrico deste tipo de pão (a farinha de milho). Para o fabrico da broa, mistura-se a farinha de milho numa proporção de 60/80 por cento com a de trigo (40/20 por cento). “Actualmente, a farinha de milho é empacotada e, por isso, o seu preço é elevado. Se comprássemos a farinha de milho em sacos de 50 quilogramas, por exemplo, o produto final seria mais barato”, explicou Ribeiro.

Actualmente, um quilograma da farinha de milho empacotada custa 21 meticais. Para produzir 25 broas diárias, a Padaria Marisqueira utiliza 15 quilogramas desta farinha bem como investe noutros ingredientes necessários para este produto.

A AIM perguntou ao presidente da Associação dos Panificadores de Moçambique (AMOPÃO), Victor Miguel, se, com esses preços da broa, a farinha de milho será mesmo alternativa à farinha de trigo. “Nesses moldes (da Padaria Marisqueira) não”, reconheceu ele, acrescentando, no entanto, que “é possível ser alternativa porque durante o tempo da guerra (de 1976-1992) houve padarias que faziam broa”. “Hoje, com a existência de vitaminas, pode se fazer broa com melhor qualidade e capaz de resistir por muito tempo sem ficar rija”, explicou, sublinhando que, para isso ser sustentável é preciso fabricar a broa do mesmo modelo com o pão feito da farinha de trigo.

Em relação ao uso da farinha de mandioca, Miguel é de opinião que tal deve ser de carácter opcional e não ser massificado para o uso quotidiano por todas as padarias do país. “A mandioca e a batata-doce devia ser opcional para quem queira variar a dieta alimentar”, sublinhou ele, para quem não se pode esperar que Moçambique possa ter a mandioca como alternativa a farinha de trigo, pelo menos a curto prazo.

Para Miguel, o problema da mandioca está relacionado com a fraca produção interna, custos da sua utilização e com a qualidade da própria mandioca. Além disso, especialistas em assuntos alimentares defendem que a farinha da mandioca nunca será alternativa barata a farinha de trigo porque a sua utilização requer investimentos em outros produtos complementares. Esses produtos complementares não são necessários quando se usa a farinha de trigo como matéria-prima principal para o fabrico de pão.

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