A Ministra do Trabalho, Maria Helena Taipo, defendeu esta terça-feira em Tianjin, República Popular da China, que os investimentos chineses em África não representam nenhum perigo para o continente, como contrariamente certas correntes económicas ocidentais, e não só, assim advogam pois, os mesmos trazem benefícios visíveis para os povos locais. Taipo fez esta defesa num painel organizado pelo Fórum Económico Mundial no quadro da Reunião Anual deste que decorre na referida cidade chinesa.
Para a ministra moçambicana do Trabalho, uma das duas personalidades da governação africana convidadas na condição de mais influentes no panorama interno e estrangeiro, a par do seu homólogo queniano, John Kiyonga Munyes, o que deve merecer análise não é a origem desses investimentos, neste caso da China, mas sim como eles são feitos e chegam ao continente africano, sustentando que os investimentos da China deixam marcas visíveis em África, especificamente na componente infra-estrutural e do conhecimento, que são pressupostos essenciais para que o continente consiga descobrir caminhos para a sua autosustentabilidade, uma vez que em termos de recursos naturais ele os tem.
Um dos painelistas chegou a considerar o papel do investimento Chinês em África como uma nova forma de colonização, sem garantias de sustentabilicidade, porque as empresas chinesas dependem dos desembolsos do seu Estado.
Na sua intervenção, a ministra Helena Taipo deixou claro que a “África, incluindo Moçambique, regista muitos ganhos com o investimento chinês pois, esta potência emergente não vai ao continente com imposições ou condições insuportáveis como tem sido prática quando se trata de instituições financeiras e ecnómicas ocidentais”.
Refrescou aos presentes no debate com exemplos que considerou evidentes para sustentar a sua análise, apontando a política imposta pelo grupo da Bretton Woods a Moçambique nos anos 90 do século passado, que originou o encerramento de muitas fábricas de processamento de castanha de cajú, consequenciando o desemprego de milhares de trabalhadores.
Tratou-se de medidas, segundo a governante moçambicana, de cujo impacto social é até hoje considerado catastrófico, na óptica de que “a perda de um posto de emprego por um trabalhador moçambicano, e acredita que seja também em toda a África, é muito mais pesado do que nos países ocidentais ou desenvolvidos, porque desse trabalhador dependem socialmente, no mínimo, cinco pessoas, dado o carácter alargado das “nossas” famílias. A “nossa” própria castanha de cajú, rematou, não podia ser processada no próprio país, mas sim exportada para o estrangeiro, em processos que não só obrigaram ao encerramento de indústrias e desempregaram muitos trabalhadores, mas também onerosos do ponto de vista económico- financeiro.
Helena Taipo, cujo tema era sobre os “Investimentos dos mercados emergentes”, com enfoque nos da China, sublinhou que o mais importante é a África estar clara sobre o que quer do investidor, tanto ocidental como o oriental, bem como do hemisfério sul. Para o caso concreto da China é preciso promover o diálogo cultural e estabelecer parâmetros que orientem as suas actividades.
A ministra apoiou a visão do painelista do debate anterior do dia sobre “A Cultura Organizacional”, tema do Directror Exectivo da petrolífera norte-americana Chevron, que destacou que “as empresas devem respeitar as culturas locais, mas nunca comprometer os seus valores e que deve-se criar uma liderança que inspire confiança e que sirva de exemplo”.
O orador avançou que a formação dos trabalhadores desempenha um papel fundamental na promoção da cultura organizacional e respeito pelos valores da empresa. A cultura organizacional dos investidores deve observar as leis do local onde a empresa opera e salvagurdar a sua integridade. Os trabalhadores devem ter a liberdade de expressão, os empregadores e os governos devem criar valores e abrirem-se para melhorar o seu desempenho.
Para a governante moçamicana, o seu país nunca se dissociou e se dissociará do Ocidente, com quem tem relações muito excelentes, pelo facto de aceitar o investimento chinês, pois tal acontece no âmbito da globalização do mercado internacional, bem como importante factor histórico que a China representa para Moçambique, desde os anos da luta armada de libertação deste, bem como para muitos países de África, disse a ministra, acrescentando que hoje vincam os melhores modelos sempre que se fale de cooperação ou de investimentos.
Dando alguns exemplos dos ganhos recentes de Moçambique, no âmbito do investimento chinês, a governante moçambicana revelou que os chineses, em muito pouco tempo, construiram um edifício aeroportuário moderno na capital do país e estão em processo de construirem um porto de raíz em Nacala, uma zona de águas naturais profundas, para servir o norte do país e os países vizinhos do hinterland, para além de que já está na fase conclusiva a construção de um estádio nacional novo, dentre outras infra-estruturas e investimentos em cursos e em carteira.
Destacou ainda a recente visita à China do Primeiro-Ministro de Moçambique, Aires Ali, à frente de uma vasta delegação governamental, durante a qual foram firmados outros acordos de cooperação e a consequente visita de uma delegação de empresários chineses, prontos para iniciar projectos identificados no país. Também já esteve recentemente em Moçambique o Vice-Ministro da China, que negociou com o governo projectos de investimento, sem imposições e num sistema “win-win”.