As gajas são mesmo tramadas, Gonçalo, é o que te digo. Quando um gajo anda atrás delas fazem-se difíceis, passam o tempo a dar para trás e a fi ngir que se estão a cagar para nós. Mas se um tipo não telefona durante três dias e elas embicam para ali, nunca mais nos largam.
Lembras-te da Laurinha? Aquela da Praia da Maçãs que eu conheci o Verão passado na festa do Duarte? Não te lembras? Uma toda comprida, magricela, com umas pernas de esferográfi ca e braços de porcelana? Nunca deste nada por ela, também a viste, mas andavas entretido com a Ritona, aquele avião, nem tinhas olhos para mais nada. Pois a Laurinha, a quem eu dei uns apertos entre no fi nal do Verão até quase ao Natal, entrou em parafuso quando lhe disse que já não estava com onda para continuar com aquilo e vai de perseguir durante meses.
Aparecia-me em casa às duas da manhã se eu não atendia o telemóvel, deixava-me cartas e CD’s com compilações românticas de um gajo se bolçar da primeira à última faixa, enfi m, aquilo foi uma chatice. Coitada da miúda, apaixonouse por mim e quando quis arrumar o assunto nunca mais lhe caía a fi cha, demorei meses a livrar-me dela. E tu sabes o que é que a cabra fez a seguir? Pegou no guito da herança do pai, que tinha morrido há um ano num desastre na A2, e vai de meter um grande par de mamas. Gastou uma data de massa naquela merda e claro, fi cou uma bomba.
Vai daí, manda um mms com a fotografi a do resultado da cirurgia. Estas gajas são todas maradas, fazem tudo para chatear um gajo, mesmo quando não querem nada com ele. No dia seguinte telefonei-lhe a perguntar como é que estava, se queria ir beber um café e coisa e tal, aquelas merdas que um gajo faz quando tem vontade de lhes pôr as patas em cima. Combinámos ir beber um copo ao fi nal da tarde numa esplanada junto ao rio, estava uma bela tarde de Primavera destas que parecem já de Verão e eu fui para lá, feito estúpido, à espera dela. Esperei meia hora, enviei um sms a perguntar onde andava, e a parva sem responder. Quando estava quase a ir-me embora, recebo uma chamada.
Estou mesmo a chegar, disse. Espera aí, tenho uma surpresa. E eu esperei, a esfregar as mãos por causa da brisa que se instalou entretanto e transformou o rio num mar de carneirinhos aquáticos que, estranhamente, pareciam rir-se de mim. E chega aquela grande cabra acompanhada de um gajo com um metro e oitenta cor de Chocapic, com uns ténis à pintarolas e uma camisa de seda branca, os dois de mão dada, ela com o seu novo par de mamas e o gajo todo orgulhoso do troféu que trazia.
Coitado, só lhe faltava uma trela com uma coleira a dizer I belong to Laura. Não sei se me estás a morder a cena, Gonçalo, mas aquela merda foi uma violência. A gaja deu a volta por cima e resolveu gozar com a minha cara. Por brevíssimos momentos vi todo o fi lme da minha vida passarme por cima do nariz; a gaja a chorar à porta de minha casa, as mensagens lancinantes que me acordavam a meio da noite cheias de bonecos a chorar e de corações partidos, as bandas sonoras lamechas dos CD’s, etc. Não sei se já te aconteceu, é uma sensação muito estranha, um gajo é personagem e espectador ao mesmo tempo, até parece que meteste uma pastilha ou uma merda parecida.
Nem me lembro do nome do gajo, só retive a informação que era atleta de alta competição. Enterrei os cornos no telemóvel e inventei que me tinhas enviado um sms a pedir-me ajuda por causa de uma espeta de moto e baldei-me dali o mais depressa que pude. Estas gajas são todas iguais. Choram, gritam, queixam-se fazem cenas e depois operam-se a arranjam um marmanjo qualquer só para nos irritar. A gaja deu a volta por cima e eu é que me lixei. E sabes uma coisa? A gaja estava boa como o milho, boa como nunca esteve. E essa merda tem-me tirado o sono nas últimas semanas.