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Mozambikanices d@Verdade – O corroer do tempo

Faz hoje mais ou menos duas semanas que fui invadido por mais uma ideia genial. Geralmente acontece-me várias vezes por dia, quando menos espero. Estava a pôr o pé fora da cama. Neste tempo de frio, que se faz sentir em Maputo pelakela hora das 6 e qualquer coisa, e piso este pensamento fabuloso.

“Vou começar a escrever crónicas para o jornal!”. Não que todas as outras ideias geniais que me atravessam a cabeça todas as manhãs não merecessem respeito. Mas esta, não sei bem porquê, passou a ser prioridade. Talvez por a ter pisado. Ficou na minha cabeça durante toda a semana. Como aqueles bichinhos da madeira que vão corroendo….corroendo…corroendo. Aparentemente não chateiam ninguém. Mas não deixam de corroer… corroer…corroer. Até ao dia em que decidimos tomar uma atitude… ou não.

Quando pus o segundo pé fora da cama a ideia parecia que já tinha mais força, mais estabilidade, mais estrutura, os lábios começaram a esboçar um sorriso bem rasgado, remelento e despenteado. “Como é que eu não pensei nisto antes?”…continuo sem saber responder, mas sinceramente não sei se a madeira cá de casa tem bicho ou não. Provavelmente tem. Mas não sei. Aliás se a minha memória não me falha, acho que é a primeira vez que estou a pensar nessa espécie.

Sei que existem pois lembro-me dos móveis da casa da minha avó, naqueles tempos, parecerem-se mais com um escorredor de esparguete do que propriamente com móveis. E agora que me ponho a debruçar sobre o assunto dou conta de que nunca os vi. Mas sei que existem. Senão quem fazia aqueles buracos na madeira? Eu não era! Quando fui para o duche a ideia genial foi pelo cano abaixo, juntamente com a água e com o sabonete. Não que tivesse perdido toda a expressão com que me acordou, mas foi simplesmente corrompida pelos pensamentos rotineiros e banais do dia-a-dia. E assim se manteve o resto da semana.

Sem se dar por ela, mas a corroer…a corroer…a corroer. Como os bichos da madeira que, suponho eu, que se os tiver a morar cá em casa, deverão estar com a barriguinha bem cheia. Realmente há gostos para tudo! Temos de um lado os que comem cães, algas e bebem chá. Para não falar daqueles que comem caracóis e bebem bujas fresquinhas. E do outro uns tipos que ninguém dá por eles, e que corroem a madeira como se não houvesse amanhã. De facto, a mãe natureza é fantástica. Nos intervalos desta rotina diária, entre trabalho família e lazer, lá me lembrava de novo do assunto.

Tenho de telefonar ao João do jornal, para perceber se esta ideia genial tem pernas para andar! E voltava a mergulhar na rotina de novo. E outro dia quando decidi ir Franco-Moçambikanar-me num dos raros concertos de 340ml, uma das melhores sonoridades de Moçambique, senão a melhor, esbarrei com o João, enquanto esperava pelo início do concerto que estava marcado para as 20:30 e começou aproximadamente 49 minutos depois. E aqui para nós… ainda bem que atrasou ligeiramente, senão não tinha falado com ele. De facto a Mãe Natureza é Perfeita. Ou quase. É que a cena da dieta à base de madeira, ainda me causa alguma confusão. Já nem questiono o valor nutritivo dos diferentes tipos de madeira. Agora o paladar?

Ahh, não vale a pena… se fosse uma madeirita sândalo se calhar ainda corroía. Pelo menos cheira bem. Depois de lhe expor a minha ideia genial, fui assistir ao espectáculo com um cenário vivo bem interessante. Atrás dos 340, uma mesa de madeira, uma garrafa de vinho, alguns copos e três cadeiras. Durante o concerto várias pessoas se sentaram a ler o jornal e a conversar. Se eu ali estivesse sentado, decididamente seria a escrever com um copo de vinho na outra mão.

Ou quem sabe, a reparar na mesa, para ver se esta estava, ou não, corroída. Como isso não aconteceu no fi nal de toda aquela fusão vim para casa a corroer. Apenas com uma ideia na cabeça. “Acabar com os bichos da madeira de uma vez por todas!” Não fossem eles mudar a sua dieta e decidirem começar a corroer todos os meus instrumentos.

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