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Moçambique tem uma riqueza adormecida

Com centenas, senão milhares, de espécies de plantas medicinais, o país despende anualmente rios de dinheiro para importar medicamentos laboratorialmente elaborados com base em plantas que Moçambique possui ou extraídas no nosso território, facto reconhecido pelas autoridades.

A directora do Instituto de Medicina Tradicional, Felisbela Gaspar, no seu discurso em torno das celebrações do 31 de Agosto, dia internacional da medicina tradicional, reconheceu que Moçambique gasta muito dinheiro na importação de fármacos produzidos com base em plantas que o país possui. Estudos feitos em 1977 pelo Ministério de Saúde (MISAU), com vista a aferir sobre a quantidade plantas medicinais de que o país dispõe, publicados em cinco tomos, apontam que só a zona sul conta com mais de 400 plantas medicinais (usadas) diferentes.

A título de exemplo, Moçambique tem a Artemisia annua – uma planta com base na qual se produz a Artemisinina – porém, anualmente, são gastos milhões de meticais para a importação deste fármaco. Actualmente, a Arteminisinina é o principal remédio para o tratamento da malária, visto que, mesmo com o seu efeito neurotóxico, os derivados da Artemisia promovem uma rápida redução dos parasitas Plasmodium SPP na corrente sanguínea, além de diminuírem consideravelmente o nível de infecção.

Estudos feitos em 2007 mostram que 90% dos doentes com malária tratados com chá de Artemisia fi caram curados. Importa aqui referir que, em Maio de 2007, cientistas moçambicanos do Instituto Nacional de Saúde foram premiados pelos seus estudos sobre a Artemisia. O concurso tinha como objectivo estimular a investigação sobre aquela planta do ponto de vista agrobiológico, fi toquímico e terapêutico. Porém, Felisbela Gaspar admitiu que o país está ainda numa fase muito atrasada em termos de estudos.

O caso da Artemisia não é o único. Moçambique também dispõe de Aloe Vera, do seu nome científi co Aloe Marlothii Berger que, apesar de existir no país em quantidades signifi cativas, continua-se a importar os seus derivados da vizinha África do Sul a preços muito altos. Os derivados de Aloe Vera são largamente usados tanto na medicina tradicional assim como na convencional, funcionando como anestésico, anti-infl amatório, antibiótico, bactericida e fungicida, estimulador digestivo, energético e nutritivo (riquíssimo em vitaminas, aminoácidos e minerais como cálcio, fósforo, cobre, ferro, mangânes, magnésio, potássio e sódio), activador da circulação sanguínea e muito mais.

Debruçando-se sobre a feira da medicina tradicional havida a 28 de Agosto transacto, a vice-ministra da saúde, Nazira Abdula, defendeu – numa altura em que apenas 40% dos moçambicanos têm acesso à medicina convencional – a necessidade da colaboração das duas medicinas, a tradicional e a convencional para a melhoria do atendimento dos cidadão no que à medicina diz respeito, acrescentando que “neste momento o que falta é a valorização da medicina tradicional, primeiro pelo próprios conhecedores da mesma, são conhecimentos e receitas que se passam de uma pessoa para a outra e que, no fim das contas, ninguém valoriza. agora, o desafi o é fazer estudos científi cos sobre as plantas usadas para aferir o verdadeiro valor e teor fi toquímico e terapêutico para fazer uma relação com as dosagens”.

Países com capacidades em termos infra-estruturais para o aproveitamento das plantas medicinais como a China, amealham milhões de dólares anualmente com a comercialização das mesmas, o que não acontece em Moçambique, onde se exportam plantas medicinais e ninguém ganha algo com isso. Em termos concretos, a contribuição da comercialização de plantas medicinais em Moçambiquique (que temos demais) para a economia nacional não chega sequer a 1%.

Ainda na esteira das celebrações do 31 de Agosto, que este ano completa o 10º aniversário desde que foi instituído dia internacional da medicina tradicional, os médicos tradicionais fi liados na AMETRAMO mostram-se preocupados com o exercício daquela actividade por estrangeiros sem, no entanto, obedecerem àquilo que são os regulamentos impostos à actividade.

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