Moçambique ainda não produz nem metade das suas necessidades internas de trigo, não havendo por isso medidas internas exequíveis para fazer face a subida do preço deste cereal no mercado mundial. No próximo mês, o pão vai custar um metical (0,02 dólar) mais caro em Maputo, agravamento que se deve a subida do trigo no país em consequência da tendência dos preços deste produto no mercado internacional.
O último agravamento do preço do pão no país verificou-se em Fevereiro de 2008. Em 2008, o Governo lançou o Plano de Acção para Produção de Alimentos 2008/2011 visando, entre vários objectivos, reduzir até a metade as importações do trigo e eliminar as de arroz. Contudo, falando em Maputo esta sexta-feira a imprensa, o Ministro da Agricultura, Soares Nhaca, disse que a produção nacional de trigo ainda está abaixo da metade das necessidades (600 mil toneladas ao ano).
“O país está apostado a incrementar a produção do trigo. Neste momento, o consumo nacional de trigo é de 600 mil toneladas e a produção ainda está abaixo da metade dessa cifra, o que quer dizer que vamos continuar a importar este cereal”, disse Nhaca, falando em conferência de imprensa destinada a anunciar a realização, na próxima semana em Maputo, do Fórum Agro-Negócio em Moçambique.
Segundo Nhaca, o preço do trigo no país obedece aos preços do mercado internacional, onde neste momento há indicações de ter baixado a produção deste cereal por parte de alguns principais produtores. Quando o preço do pão sofreu o último agravamento, o Governo procurou medidas internas destinadas a reduzir a dependência de trigo no fabrico do pão.
Na altura, diversas instituições de investigação, incluindo a Universidade Eduardo Mondlane (UEM), ensaiaram misturas de farinha de trigo e da mandioca para produzir pão. Os ensaios provaram que é possível misturar as duas farinhas até a uma participação de 30 por cento da farinha de mandioca e 70 por cento a de milho. Igualmente, ficou provado que a farinha de trigo pode ser misturada a farinha da batata-doce para produzir pão. Mas depois disso não houve nenhum trabalho de seguimento para massificar essa tecnologia de modo a ser usada pelas panificadoras, apesar de Moçambique ser considerado um dos maiores produtores mundiais da mandioca, com cerca de seis milhões de toneladas métricas por campanha.
Respondendo a uma questão colocada pela AIM sobre este facto, o Ministro da Agricultura disse que as experiências sobre a eficiência da mistura de trigo e da mandioca para a produção de pão ainda prosseguem, ao mesmo tempo que se está a trabalhar de modo a incrementar a produção de mandioca. Soares Nhaca disse que a produção nacional da mandioca era pouca e existia em pequenas parcelas exploradas de maneira isolada, sendo difícil garantir o fornecimento contínuo das panificadoras com esse produto.
“Tínhamos produção da mandioca em pequenas parcelas e não era suficiente”, disse ele, acrescentando que “temos produção em Inhambane (no sul do país) e Nampula (Norte) e tende a aumentar, o que abre possibilidade para iniciarmos a implementar as experiências”, disse ele. Igualmente, Soares Nhaca disse que a adesão das indústrias panificadoras na utilização da mandioca e o lançamento recente de novas variedades desta cultura irão contribuir para o alcance deste objectivo.
As novas culturas da mandioca recentemente libertadas pelo Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM) são mais resistentes a doença da podridão radicular e têm maiores rendimentos.