A Universidade Católica de Moçambique está a ensaiar uma nova variedade mista de farinha, cujo resultado final será massificado e replicado nas comunidades visando aliviar as cíclicas e crónicas rupturas de excedentes que provocam fome ao longo do ano, na província central de Manica.
A nova variedade consiste essencialmente na mistura da farinha de milho com a farinha feita da banana, cultura alimentar com um forte potencial e níveis de produção bem altos ao longo de todo o ano. João José Ferrão, coordenador do curso de engenharia alimentar na universidade, que esteve na exposição feita a margem do 5/ o Conselho Coordenador do Ministério da Ciência e Tecnologia, disse se tratar de um estudo ainda por aperfeiçoar, mas os resultados até então obtidos são bastante encorajadores.
Na preparação desta nova farinha, segundo Ferrão, corta-se a banana ainda verde em rodelas e põe-se a secar ao sol, durante pelo menos três dias, processo que não despende a energia porque o país tem a luz solar em grande abundância. Após a secagem, a banana seca é processada em farinha a semelhança do milho. De seguida, é feita a mistura em que 80 por cento consiste na farinha de milho e 20 por cento da banana, resultando em uma nova variedade que, a partida, não coloca riscos à saúde humana havendo porém necessidade de mais pesquisas laboratoriais para confirmar os níveis de fiabilidade e segurança.
“Conseguimos chegar a um nível de segurança que varia entre 20 e 30 por cento, mas queremos chegar a uma percentagem máxima desta nova variedade, sem diferença tanto em relação ao seu sabor quanto ao volume, porque se uma gastar mais que as outras já existentes as pessoas não hão de querer”, explicou Ferrão.
O coordenador está confiante no sucesso desta iniciativa, porquanto a farinha de milho na província de Manica é, segundo a fonte, a base de alimentação de milhares de famílias. Contudo, são frequentes os casos de rotura de excedentes que acabam deixando as pessoas expostas a fome. As famílias camponesas conseguem ter excelentes níveis de excedentes nas campanhas agrícolas, mas a venda e o esgotamento das reservas alimentares nos celeiros gera situações de fome nas comunidades que nada podem fazer senão esperar a campanha seguinte.
“As famílias produzem milho suficiente para o consumo e reserva, mas bastas vezes acabam vendendo o milho e não conseguem chegar até ao final do no com algum excedente”, disse Ferrão, acrescentando que a introdução desta nova variedade ajudará a reduzir as rupturas, porquanto a matéria-prima é muito abundante.
A Estratégia da Ciência, Tecnologia e Inovação de Moçambique (ECTIM), nos vários objectivos que articula, preconiza a promoção da inovação de base e a utilização da ciência e tecnologia baseadas em comunidades pobres e desfavorecidas. Assente neste pressuposto, a Universidade Católica trabalha com o Projecto de Desenvolvimento da Mulher e pretende replicar esta nova iniciativa nas áreas onde este actua.
Além do estudo da nova variedade da farinha, aquele estabelecimento de ensino superior, está a desenvolver igualmente uma pesquisa de conservação de produtos frescos como a couve por três ou quatro meses sem que ela perca a respectiva propriedade. O estudo das couves contempla ainda a produção, a partir desta verdura, de sumos com valor medicinal capaz de curar gastrites e cicatrizar úlceras no interior do organismo. Mas João Ferrão considera haver ainda a necessidade de aprofundar os resultados da respectiva eficácia e sobre os efeitos colaterais.