Caros patrícios, rezam os manuais e compêndios que o fim último e razão de ser do Jornalismo é a busca da verdade. Não que o Jornalismo se pretenda substituir à Ciência, que busca a verdade dos factos pela prova, nem que o Jornalismo procure contrariar a Verdade da Fé, para quem a crença é a fonte da verdade, da revelação. De forma alguma!
Mas o mérito do jornalismo é precisamente de ser o campo onde aquelas verdades (a relativa, da ciência; e a absoluta, da fé) são submetidas a escrutínio público. Caros patrícios, certamente estarão a questionar-se: mas, a que vem todo este exercício do Milton? Será que quer ensaiar mais uma viagem à Grécia? Não, desta vez furto-me de tal utopia.
Desta vez fico com os pés na terra, porque @Verdade comemora hoje a sua edição número 100. São dois anos de combate, de combate mesmo, pois num país onde há muitos jornais mas não há pluralismo, ser um jornal diferente no formato, no conteúdo e no modelo de negócio é um combate! A guerra pela Verdade não está vencida, mas esta batalha foi ganha: o teste do tempo. Parabenizo, pois, a esta equipa jovem que tornou verdade o sonho de um jornal gratuito e feito para o povo. Juntei-me a esta equipa, como colaborador permanente, na edição 85, já lá vão três meses.
Todavia, a minha ligação com @Verdade começou, digamos assim, a 9 de Março de 2009, quando escrevi elogiando este Jornal no meu blogue Estado da Media (http:www.fanaticodemedia.blogspot.com), ora sob licença sabática…
Escrevi na altura que, ao contrário de todos os semanários da praça, que se alimentam regra geral do afã de perseguir escândalos e fazer sensação, “@ Verdade propõe-se trazer um outro lado de Moçambique, uma visão positiv(ist)a das coisas boas e mesmo más da nossa terra, de contar apaixonantes estórias de interesse humano que retratem os desafios de desenvolvimento, de resgatar estórias do nosso quotidiano de leitura obrigatória, estimulando o debate saudável de assuntos candentes ao jeito de soft news, de leituras de fim-de-semana. Uma forma, diriam os americanos, de dissimular ser silly tratando de serious issues.”
Como é dia de parabenizar @Verdade, vou continuar a citar o bloguista Milton Machel, o qual disse ainda que: “São estas untold estórias da vida real, estas abordagens frescas e resgatadoras do Jornalismo Narrativo, que com o Jornalismo Investigativo marcam a diferença e nos fazem acreditar no valor da pluralidade e da diversidade e na nobre função do jornalismo como construção social da realidade, não deformação daltónica, miopista e conspiracionista da verdade, quando não falsificação do real.”
Caros patrícios, dei-me ao métier de O Coleccionador de Citações, no caso auto-citando-me, só para não me repetir no que eu construí, na minha mente, do que é o Jornal @Verdade. Dito de outro modo: a minha primeira constatação foi que @Verdade não é polémico, pelo menos da forma como na nossa esfera pública construímos a polémica. Ora, eu que sou por natureza polémico, um polémico consumado, devo ser um extra-terrestre neste Jornal? Não necessariamente! …É que, estou em crer, @Verdade, na missão de levar a verdade ao povo, precisa do sal da polémica. Como bem diz o secretário-geral da Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO), Jorge de Oliveira: “um país sem polémicas não evolui”.
Sinto saudades do famoso debate de gerações da literatura, entre a Geração Oásis e a Geração Charrua, em que os primeiros decretaram metaforicamente A Morte da Literatura Moçambicana porque os segundos teriam atingido a Menopausa Intelectual Criativa (MIC).
Foi saudável aquela polémica, porque agitou consciências e colocou um desafio a novos e mais velhos escritores de publicarem, em quantidade e qualidade…mas onde ficou o debate? Quando me ocorre A Polémica como modus operandi da busca da verdade, não posso deixar de louvar os saudosos combates pela mentalidade sociológica travados em 2007, 2008 e 2009 na blogosfera, com os Prof. Carlos Serra, Elísio Macamo e Patrício Langa e o meu parceiro kamikaze Egídio Vaz Raposo na dianteira… Essa blogosfera está hoje capturada…
Porque será!? A grande homenagem à polémica que me ocorre é a disputa entre os ex-amigos e grandes desafectos, ambos meus admirados: o Existencialista Jean Paul Sartre e o Estrangeiro Albert Camus. No auge da zanga entre ambos, num ataque directo a Camus, Sartre declarou que “”Um anti-comunista é um cão!”. Caros patrícios, esta é minha maneira hiperbólica de dizer que este país precisa tanto d’@Verdade como de polémicas! Parabéns pelo Ano II! Viva @Verdade e…na Batalha da Ideias, A Luta Continua!