Para citar o Mussagy, eu “ainda sou do tempo” em que chegava bem cedo ao jornal @Verdade e era recebido por João Almada no seu gabinete, para uma conversa rápida sobre a edição que estava à porta, dali por cinco ou três dias. Sentava-me, eu muito novo e preocupado, ele já muito ocidental, muito educado, com décadas de jornalismo e prémios no bolso, uma passagem pelo Savana e uma incapacidade muito dele para perceber alguns dos nossos (jornalistas) pontos de vista.
Sobretudo quando escreviam mal, o que naquela altura, entre Agosto de 2009 e o princípio de 2010, acontecia mais do que hoje. Depois chegavam Danúbio, Gildo, comerciais e distribuidores, mais tarde os jornalistas. Se alguém estiver tentado a achar que este era o tempo em que o profissionalismo faltava e tudo era mais ou menos permitido, desiluda-se. As regras existiam e eram conhecidas de todos: gráficos, comerciais, distribuidores e, claro, jornalistas. E os problemas também, claro, como sempre existirão.
E se falo no gabinete do João é apenas por ter sido ali, a acompanhar a edição dos textos, que comecei. Mais ou menos por esta altura, o Adérito devolvia páginas fechadas, ‘vetava’ notícias, verdadeiros cortes na nossa capacidade de criar, que serviam apenas para criar outro “inimigo” e assim fortalecer o espírito de grupo. Porque estas coisas mudam, @Verdade é hoje um jornal onde o João fica menos e ser criticado se tornou mais complicado, e o Adérito permite maior contacto.
No meio, às vezes parecendo meio perdido, encontra-se o jornalista. Nós precisamos mais do nosso editor. Confesso. Basta ver como se trabalha nos outros jornais, para perceber que o relacionamento dos jornalistas com os editores é limitado.
A generalidade dos editores, neste país, não sabe como e quando comunicar e prefere manter os jornalistas cercados e se possível fechados a sete chaves. No nosso jornal não era assim. No fundo, esta forma de actuar, bem como a aplicação muitas vezes autoritária de regulamentos internos e linhas de abordagem de duvidosa legitimidade, acaba por ser uma confissão de culpa de quem dirige. A verdade é que a formação dos jornalistas é frágil e a maioria chega às redacções e parece incapaz de colocar questões básicas.
Dizem que os jornalistas foram perdendo qualidade com o passar dos anos e hoje a situação de muitos é lamentável: mal preparados para comunicar, submetidos a “leis” internas que não sabem/podem contestar e incapazes de intervir numa actividade que informa milhões, mas onde o número de órgãos cresce a um ritmo preocupante.
Agora ao contrário do Mussagy, não sou daqueles que acham que o jornalismo de antigamente é que era. Há melhorias, sem dúvida. Mas em muitos aspectos caminhou-se ao contrário e isso não deixa de ser uma extraordinária desilusão e um bloqueio ao crescimento. Sobretudo para os jornalistas. E, claro, para quem gosta de informação. Por isso, precisamos do João aqui…