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60 segundos com Lina Estêvão

60 segundos com Lina Estêvão

Natural da cidade de Maputo, começou por ser cabeleireira, mas é como servente que se sente à vontade. Mãe, casada e com um desejo enorme de ver os seus dois filhos – um rapaz e uma rapariga – evoluírem, assim é Lina Estêvão, ou simplesmente dona Lina, uma das mais antigas funcionárias da empresa Charas Lda, proprietária do jornal @Verdade.

Lina Estêvão teve uma infância igual a qualquer outra criança moçambicana que nasce numa família humilde. “Tive uma infância tranquila, brinquei como toda a criança e tive uma boa experiência de vida, o que é um privilégio”, lembra. Neca, saltar à corda, xitsuketa e matokozana foram algumas das brincadeiras em criança que marcaram a sua geração, mas confessa: “Gostava de saltar à corda” e lamenta: “Hoje em dia, as coisas mudaram. Poucas são as crianças que conhecem essas brincadeiras”.

 

Nasceu no distrito municipal da Catembe, arredores da cidade de Maputo, mas cresceu entre o bairro Central e Chamanculo. Conclui a 4ª classe do antigo sistema de ensino e também fez a 6ª classe. Apesar da exigência dos estudos, naquela época, não abdicou de fazer coisas próprias duma adolescente ou jovem da sua idade: “Gostava muito de me divertir. Aos fins-de-semana, gostava de passear, visitar amigas e ir às festas”.

Por volta de 1979, muda-se da Catembe, tendo passado a viver com a sua irmã na zona do cimento, precisamente no bairro Central, e, regularmente, ia visitar as suas amigas que moravam no bairro do Chamanculo onde, tempos depois, acabou por se instalar em consequência de ter conhecido Jorge Moyane, o actual marido – diga-se de passagem, um romance que surge devido às suas visitas regulares àquele ponto da cidade – cuja união trouxe ao mundo dois rebentos.

Aliás, foi naquele mesmo bairro onde dona Lina passou a maior parte da sua vida. Actualmente, vive na Machava: “Mudei-me há pouco tempo para a Machava”, diz.

Convite para se juntar à Charas

Não se lembra do seu primeiro contacto com o mundo de trabalho, mas sabe dizer quando começou a fazer parte da enorme “família” Charas, contava já o ano de 2003. “Antes trabalhava na FDC na qual também trabalhava o chefe Erik Charas. E quando ele saiu da empresa, fez-me um convite para trabalhar com ele”, conta. E, confessa, o difícil foi ter de escolher: continuar a prestar serviço naquela organização em que já estava habituada ou aceitar um convite para integrar uma empresa que estava prestes a nascer.

Lina Estêvão não levou muito tempo a pensar no assunto, aceitou a proposta na perspectiva de abraçar novos desafios. Uma escolha, segundo a mesma, da qual se orgulha, afinal, assistiu ao nascimento da empresa. Mas o que lhe dá imenso prazer, confessa, é testemunhar o crescimento da Charas Lda, sendo que o surgimento do jornal @Verdade é um dos exemplos. Antes de se dedicar à “arte de servir” – ou dito sem metáforas, limpar os escritórios e servir cafés -, dona Lina trabalhou como cabeleireira, uma actividade, segundo as suas próprias palavras, “muito cansativa”, uma vez que se passa a maior parte do tempo à espera de um cliente.

“Nunca pensei em voltar a trabalhar num salão de cabeleireiro porque gosto do que faço”, comenta. Para dona Lina, o momento mais desafiante ao longo da sua missão profissional naquele local foi ter visto o número de trabalhadores a crescer e, consequentemente, o trabalho a multiplicar-se. “No início, éramos apenas cinco pessoas, agora somos muitos e o trabalho dobrou”, observa.

Tímida no falar, dona Lina coloca paixão e empenho em tudo o que faz e encara o seu trabalho com a perspectiva de que está a dar um grande contributo para a empresa, o que não deixa de ser verdade. Quando questionada sobre se é aborrecido ou não trabalhar para Erik Charas, diz com a sinceridade devida que “não é aborrecido, apenas é uma pessoa que quer ver o trabalho bem feito”. E quando a pergunta é o que espera do jornal @Verdade daqui a 10 anos, a resposta surge como um desejo: “Gostaria de ver o jornal a ser distribuído em todos os distritos deste país”.

Mãe e trabalhadora

Cumprir com perfeição o papel de mãe, dona de casa e trabalhadora tem sido o seu maior desafio. Aliás, os filhos são a sua maior preocupação. De segunda à sexta-feira, sai de casa às 6h00 e só regressa ao fim do dia: “A maior parte do tempo tenho passado a trabalhar”. O tempo não é muito, porém, sempre arranja algum para estar com eles de modo que o papel de mãe não falhe. “Converso com os meus filhos sobre todos os assuntos, particularmente o HIV/SIDA. Encorajo-os a levarem consigo preservativos”, diz. Lina Estevão é mãe de um rapaz e uma menina (Arsénio com 23 anos e Júlia de 19):

“O mais velho é muito malandro e brincalhão, tal como o pai quando tinha a idade dele, e também deve ser das influências das amizades no Chamanculo, enquanto a mais nova é mais responsável”. Deixa escapar que o máximo que ambiciona é que os filhos cresçam, adquiram prestígio social por via de educação e formação superior. Para chegar a tempo e horas no local de trabalho gasta cerca de 17.50 meticais, mas nem sempre foi assim: “Quando vivia no Chamanculo, gastava menos”, diz.

As suas tarefas diárias começam logo que chega ao seu posto de trabalho, sensivelmente às 7 horas, e as mesmas resumem-se a limpar os cómodos que compõem o edifício no qual funciona a empresa Charas Lda e servir as pessoas que por ali trabalham. De regresso à casa, opta por esperar pelos TPM pois é mais económico e não tem pressa de chegar a casa. Quando não está a trabalhar, a dona Lina cuida da sua família, arruma a casa e não só. Também aproveita os fins-de-semana para ir à igreja, visitar alguns parentes e amigos assim como para se dedicar à cozinha:

“No meio de semana por causa do trabalho não tenho tido tempo para cozinhar. Mas gosto de cozinhar, principalmente verduras”, comenta.

Já não se fazem jovens como antigamente.

Se nos tempos idos os jovens eram mais responsáveis nos seus actos, hoje a situação mudou. Na opinião da dona Lina, já não se fazem jovens como antigamente: “A juventude de hoje é muito malandra, não respeita os mais velhos e não gosta de aprender”. Para ela, os jovens devem-se casar, construir uma vida, ter paciência na vida a dois, pois as coisas no lar nem sempre são fáceis: “Hoje em dia, os jovens não ouvem os conselhos dos mais velhos, pensam que eles estão ultrapassados, por isso não os respeitam”.

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