Aos 100 dias de coligação, a maioria dos britânicos diz sentir-se desiludida com a prestação do Governo formado por conservadores e liberais-democratas. Mas isso não é necessariamente mau para David Cameron, que é considerado um bom primeiro-ministro. As coisas parecem correr menos bem para o lado de Nick Clegg, vice-primeiro-ministro e líder dos liberais-democratas. 57% dos britânicos classificaram de decepcionante a prestação da primeira coligação britânica do pós-II Guerra Mundial, segundo a sondagem divulgada no domingo pelo jornal Daily Mail.
31% dos inquiridos confessam que preferiam um Governo de partido único e 23% acham que o país está melhor com esta coligação. Cameron é visto como bom primeiro-ministro para 54%, segundo a sondagem ontem divulgada pela televisão Sky News. O líder dos conservadores é também classificado como o membro da coligação com melhor prestação.
Clegg, por seu lado, com 34% dos britânicos apenas a considerarem que ele é um bom número dois. O líder conservador, que está a assumir a liderança do Executivo enquanto o primeiro-ministro está de férias na Cornualha, antecipou-se às críticas e escreveu um artigo de opinião a pedir aos eleitores que julguem a coligação depois de cinco anos no poder e não após 100 dias depois. “Este Governo não espera que o julguem em apenas 100 dias. Esperamos ser julgados pelo que conseguirmos em cinco anos”, escreveu no Guardian, num artigo em que enumerou as medidas apresentadas até agora.
“Tivemos 100 dias muito mais radicais do que o senso comum previa, confundindo o mito de que o compromisso em políticas significa que temos uma mistura insossa, uma aproximação ao mínimo denominador comum”.
Efectivamente, foram lançadas reformas radicais no país, como a redução significativa do peso do Estado em favor da privatização, menos intervenção na educação, que passa por dar aos pais a possibilidade de gerir escolas, a desnacionalização do serviço nacional de saúde do Reino Unido, abolição do projecto de criar um bilhete de identidade britânico, que tantas dores de cabeça tinha dado ao Governo trabalhista anterior.
Mas foi no campo da economia que surgiu o maior choque: cortes, cortes e mais cortes, até nos carros oficiais dos governantes, que foram aconselhados a partilhar viaturas, a andar de transportes públicos como muitos cidadãos ou a ir a pé para o emprego. O Governo impôs uma cura de austeridade para reduzir o défice histórico do Reino Unido: 10,1% do PIB, um dos mais elevados da UE.
Cameron e Clegg têm também que enfrentar o descontentamento das alas radicais dos partidos. Nos Tories há quem apelide a aliança de brokeback coalition, em referência ao filme em que dois homens se apaixonam. Nos liberais-democratas, que segundo a Sky News desceram nas intenções de voto dos britânicos de 23% para 8,43%, desde Maio, também há muita ansiedade.