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Quando dizer “não” é necessário

Não. Quanto significado cabe numa só palavra. Apesar de transportar uma carga negativa (no sentido literal), dizer “não” também tem o seu lado bom.

Podemos dizer “não” para os abusos, para a corrupção, para as injustiças. Agora, quando o assunto é negar um pedido a alguém, especialmente a uma pessoa próxima e que aparentemente precisa mesmo da nossa ajuda, tudo fica mais difícil. Como dizer que não pode terminar um projecto urgente no trabalho porque combinou alguma coisa com os seus filhos, por exemplo?

Parece brincadeira, mas muita gente ainda não sabe dizer “não” quando necessário. A psicóloga Patrícia Gebrim, que acaba de lançar o livro “Enquanto Escorre o Tempo” explica que a razão para isso pode estar na educação de cada indivíduo. Quem recebeu, desde cedo, a mensagem de que deve agradar e submeter-se às vontades dos outros para ser aceite, tende a aplicar isso em todos os relacionamentos que estabelece.

Exemplificando: essas pessoas podem ter recebido uma educação muito rígida dos pais e, por isso, ter acreditado que seriam abandonadas caso os contrariassem. Então, depois de adultas, continuam com essa ideia no seu íntimo. Assim, “acabam por reagir a parceiros afectivos e chefes como reagiam aos pais, tendo tendência a submeter-se, a não contrariar, a agradar. Talvez isso tudo se passe de maneira inconsciente, o que torna mais difícil a mudança de atitude”, diz Patrícia.

Porém, é bom lembrar que não dizer “não” significa um “sim” com consequências más, tanto para quem aceitou o pedido como para quem o fez. Na vida profissional, “um trabalho aceite em condições que não poderá ser concluído é prejudicial tanto para a carreira como para o chefe e a empresa”, afirma a psicóloga e psicanalista Cláudia Finamore.

O mesmo vale para a vida familiar: “Aceitar todos os pedidos do marido, além de frustrar a mulher em muitas situações e o casamento tornar-se uma fonte de tristezas e angústias, poderá prejudicar a relação do casal. E não dizer “não” aos filhos é prejudicial na educação, pois não coloca limites, possibilitando relacionamentos do tipo vale-tudo”, explica a especialista.

Além de fazer mal aos relacionamentos, a incapacidade de dizer “não” pode manifestar-se no físico, através de doenças como gastrites, resfriados recorrentes, stress, etc. Isso porque quando dizemos um “sim” contra a nossa vontade e para não frustrar o outro, acabamos frustrando a nós mesmos e acumulando sentimentos como raiva no nosso íntimo.

Por mais que desejemos esconder essas emoções, em algum momento elas vêm à tona, de uma forma ou de outra, explica Patrícia. “Muitas vezes a doença acaba por ser a saída, um substituto para o NÃO que devia ter sido dito por. Um exemplo seria uma pessoa que é convidada a dar uma palestra, acaba por aceitar sem ter o real desejo de fazê-lo, e no dia aprazado é acometida por uma forte laringite que a impede de falar”.

Para fugir dessa auto-armadilha e aprender a dizer “não”, é necessário conhecer os próprios limites e saber o quanto pode negociar e ceder. “Saber o que significa dizer e ouvir “não” e como se sente em relação a essas situações é o primeiro passo para possibilitar alguma mudança”, acredita Cláudia.

Conhecer o que está na base dessa dificuldade em se posicionar também pode reverter o quadro, de acordo com Patrícia. “Com certeza a dificuldade de dizer ‘não’ está condicionada por crenças distorcidas que a pessoa estruturou no seu passado. Ao trazer essas crenças para a consciência é possível reformulá-las de maneira a respeitar mais a individualidade da pessoa”.

Embora para a maioria das pessoas seja simples negar algo que não conseguirão realizar de uma maneira satisfatória, isso pode ser um desafio para outras. Portanto, há casos em que é melhor procurar a orientação de um psicólogo para que, aos poucos, o paciente consiga soltar-se e aprender a respeitar a si e ao seu espaço pessoal. Muitas vezes, dizer “não” aos outros é dizer “sim” a si mesmo.

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