Para continuarmos  a fazer jornalismo independente dos políticos e da vontade dos anunciantes o @Verdade passou a ter um preço.

Sessão de Perguntas e Respostas ao Presidente Obama, durante o Fórum dos Jovens Líderes Africanos

Sessão de Perguntas e Respostas ao Presidente Obama

O PRESIDENTE: Muito bem. Agora vou responder a perguntas. Estas são as regras – (risos.) Os que quiserem fazer perguntas levantem a mão. Para ser justo, vou dar a palavra da seguinte maneira: uma mulher/um homem/uma mulher/um homem/etc.

Vamos alternar e tentem fazer perguntas relativamente curtas; tentarei também dar respostas relativamente curtas para poder responder ao maior número de perguntas que for possível porque o nosso tempo é limitado. Está bem? Vou começar aqui com esta jovem. Por favor apresente-se e diga-me também de onde é.

(Pergunta): -Muito bem. Muito obrigada. Vou expressar-me em francês, pois eu…

O PRESIDENTE: Não há problema. Alguém pode interpretar? Sim? Continue. Certifique-se que pára após cada frase porque senão a intérprete esquece-se do que a senhora disse.

 

(Pergunta) -Muito obrigada. Olá Sr. Presidente e olá a todos. Chamo-me Fátima Sungo e sou do Mali. Tenho uma pergunta para lhe fazer e antecipo, com interesse, a sua resposta. Mas antes disso, gostaria de lhe dizer, Sr. Presidente, como nos sentimos honrados de estar na sua presença e de expressarmos as vozes da juventude africana, dos jovens líderes africanos e, claro, agradecermos o seu reconhecimento e a oportunidade que nos deu de estarmos aqui e também reconhecemos a nossa própria responsabilidade de levar a sua voz aos nossos países. Gostaria de dizer que estou convencida que este é um importante ponto de viragem, o início de mudanças importantes, a extraordinária iniciativa de nos convidar para estarmos aqui. Gostaria de saber quando é que teve essa ideia. Quando é que pensou que trazer-nos aqui seria uma boa ideia? Gostaria de saber qual foi a sua linha de pensamento, Sr. Presidente.

O PRESIDENTE: Bem, primeiro que tudo, uma das coisas que acontece quando se é Presidente é que outras pessoas têm boas ideias e depois o Presidente é que recebe as honras. (Risos.) Por isso eu quero certificar-me que não serei louvado pelas minhas ideias – por estas ideias – porque a verdade é que a minha equipa trabalha arduamente para encontrar novas formas de comunicação não apenas com chefes de estado mas também com as bases. E a razão é porque, quando se pensa em África, África é o continente mais recente.

Em muitos dos países que vocês representam, metade da população tem menos de 30 anos. E se vocês só falarem com velhos -como eu- então não estarão a falar com as pessoas que vão disponibilizar a energia, as iniciativas, as ideias e por isso pensámos que seria muito importante para nós criarmos uma oportunidade para reunir a próxima geração de líderes. Esta é a razão número um.

Razão número dois – e eu vou ser muito franco ocasionalmente durante este fórum, por isso espero que não se importem – por vezes os líderes mais velhos adquirem hábitos antigos que são difíceis de quebrar. Por isso parte do que nós queríamos fazer era comunicar directamente com as pessoas que não irão presumir que a maneira antiga de fazer as coisas é a maneira como África as deve fazer. Em alguns dos vossos países, a liberdade de imprensa ainda é restrita. Não há razão para isso. Não há inevitávelmente que ser assim. E os jovens têm mais tendência a fazer perguntas – porque é que não havemos de ter uma imprensa livre? Em alguns países, a corrupção é um problema crónico e, por isso, as pessoas que actuam nos negócios e fazem empreendimentos no vosso país durante 20, 30 anos limitam-se a levantar as mãos e a dizer “Ah… as coisas são mesmo assim”.

Mas Robert Kennedy tinha um ditado extraordinário em que dizia, “algumas pessoas vêem as coisas e perguntam “porquê?” e outros vêem as coisas que precisam de ser mudadas e perguntam “porque não?”. E é por isso que penso que a vossa geração está pronta para fazer essas perguntas “Porque não?” Porque é que África não é auto-suficiente do ponto de vista agrícola? Há terra arável suficiente para que, se reestruturarmos a forma como a agricultura e os mercados funcionam em África, não só vários países do continente poderiam produzir alimentos suficientes para si próprios como os poderiam exportar para ajudar a alimentar o resto do mundo. Porque não?

Novas infra-estruturas – dantes eram necessárias linhas telefónicas e muito capital para nos comunicarmos. Agora temos a Internet, a banda larga e telemóveis e, assim, vocês – o continente pode ser capaz de ultrapassar outros locais mais desenvolvidos e influenciar o futuro das comunicações de formas que ainda nem são sonhadas. Porque não? Então estes são os propósitos deste fórum. Também gostaria que tivessem a oportunidade de se conhecerem uns aos outros porque poderão apoiar uns aos outros na luta por um futuro melhor para os vossos países.

Agora têm uma rede de pessoas para reforçarem o que vocês estão a tentar fazer. E vocês sabem que muitas vezes, a mudança nos faz sentir isolados. Agora têm um grupo de pessoas que vos podem ajudar a reforçar o que estão a fazer. Muito bem. Agora é a vez de um homem. É por isso que há líderes. Todos têm algo a dizer. Mas não têm de ficar zangadas. Não, não, não. É a vez de um homem – este senhor mesmo aqui.

 

(Pergunta) -Sr. Presidente, chamo-me Bai Best e sou da Libéria. O falecido Dr. Solomon Carter Fuller foi o primeiro negro – o primeiro psiquiatra negro na América e, provavelmente, no mundo. No meu país, na Libéria, onde existe muita gente extraordinária com realizações de referência tanto no nosso país como no mundo, muitos não são reconhecidos pelas suas realizações. Hoje, o nome do Dr. Fuller ficou gravado havendo um centro médico – um centro psiquiátrico designado em sua honra em Boston. Há muitos outros jovens africanos e jovens liberianos cheios de talento com grandes ideias que pretendem regressar aos seus países e contribuir para o desenvolvimento da sua gente. Mas muitas vezes, os seus esforços – os seus esforços patrióticos – são atrofiados por representantes do governo e de outros sectores, corruptos ou, muitas vezes, invejosos. É um problema de sempre. Muitas vezes procuram – isso basicamente leva-os a procurar melhores condições e mais reconhecimento no estrangeiro em vez de regressarem aos seus países. O que é que pensa disto?

O PRESIDENTE: Bem, olhe, este é um problema que não acontece só em África. Dados os vários estágios de desenvolvimento em todo o mundo, um dos problemas que os países mais pobres por vezes enfrentam é que os cidadãos que receberam mais instrução e têm mais talento, têm oportunidades noutros lugares. É por isso que existe a chamada “fuga de cérebros” – as pessoas dizem: “eu ganho 10 vezes mais se for médico em Londres do que se for médico no meu país”. Por isso, este é um problema histórico.

Mas o momento que atravessamos é muito interessante porque – se olharmos onde estão as melhores oportunidades veremos que estão nos mercados emergentes. Há países em África que estão a crescer 7, 8, 9 por cento anualmente. Por isso, os empresários com ideias podem crescer mais rapidamente e alcançar mais do que aqui. A verdade é que também envolve um risco maior; por isso talvez seja mais seguro emigrar. Mas é possível que se consiga mais e mais depressa nos vossos países. Por isso a questão para os jovens líderes como vocês, é esta – onde é que querem causar um maior impacto?

E é provável que vão ter mais impacto nos vossos países, quer sejam empresários ou empresárias, ou médicos ou advogados ou administradores. Esse é provavelmente o local onde podem fazer as maiores mudanças. Na realidade, vocês têm toda a razão, quando dizem que as condições nos vossos países têm de ser as ideais para que possam alcançar tudo isto.

Assim, se quiserem regressar aos vossos países e iniciar um negócio e tiverem de pagar vários subornos só para iniciarem o negócio, a certa altura é provável que sintam vontade de desistir. E é por isso que uma das coisas que estamos a tentar fazer – trabalhando com a minha equipa – quando enfatizamos o desenvolvimento, a boa governação está no âmago do desenvolvimento. Não é algo separado. Às vezes as pessoas pensam, bem, é uma questão política e também uma questão económica. Não.

Se vocês enfrentam uma situação em que não podem iniciar um negócio ou as pessoas não querem investir porque não existe uma noção clara do primado da lei, isso vai atrofiar o desenvolvimento. Se, para fazerem chegar os seus produtos ao mercado, os agricultores tiverem tantos intermediários que só ganham cêntimos e os seus produtos forem vendidos por 10 dólares, com o tempo isso acaba por atrofiar o desenvolvimento da agricultura no país. Assim, o que nós queremos fazer é assegurar que nos nossos contactos com os vossos governos, estamos constantemente a enfatizar este tema da boa governação porque eu estou confiante que vocês serão capazes de descobrir que mudanças têm de ser feitas nos vossos países.

Eu sempre disse que o destino de África vai ser determinado pelos africanos. Não vai ser determinado por mim. Não vai ser determinado por pessoas fora do continente. Vai ser determinado por vocês. Tudo o que podemos fazer é assegurar que as vossas vozes sejam ouvidas e que vocês sejam capazes de se erguerem e aproveitar estas oportunidades. Se o fizerem, penso que vão aparecer muitas pessoas que – mesmo que tenham sido educadas no estrangeiro – vão querer regressar e participar. Muito bem. Vejamos, a próxima pergunta …esta jovem aqui mesmo.

 

(Pergunta) Boa tarde a todos. E obrigada, Sr. Presidente, por esta oportunidade.

O PRESIDENTE: Parece português. (Risos.)

(Pergunta) É, na realidade, de Moçambique.

O PRESIDENTE: Óptimo.

(Pergunta) -Sabendo, Sr. Presidente, que, claro, a América é um ponto de referência para a democracia no mundo, e que V. Exa. é, de facto, um protagonista nesse contexto, hoje, gostaria que me dissesse quais são as suas recomendações para os jovens africanos e para a sociedade civil, em particular, em termos de seguir os princípios da não-violência e da boa governação e dos princípios democráticos no nosso país. Porque, claro, a nossa realidade, é muitas vezes totalmente diferente. É vulgar verificar-se 80% de abstencionismo nas eleições, eleições essas que, de facto, sofrem de falta de transparência, e que, muitas vezes, aliás, provocam conflitos sociais. Obrigada.

O PRESIDENTE: Bem, deixem-me dizer em primeiro lugar que, se vocês forem – tal como eu afirmei que não se pode separar a política da economia, também não se pode separar o conflito do desenvolvimento. Assim, o conflito constante, muitas vezes com bases étnicas, verificado em África, é um profundo entrave ao desenvolvimento e é algo que se auto-reforça.

A existência de conflitos e violência afasta os investidores, torna mais difícil a criação de oportunidades por parte de empresários, o que faz com que os jovens não tenham emprego, e, assim, sejam mais susceptíveis de serem recrutados para conflitos violentos. E isso pode tornar-se num ciclo vicioso. Por isso creio profundamente em não recorrer à violência para solucionar problemas. E penso que o poder ético e moral resultante da não-violência, quando mobilizado adequadamente, é profundo.

Em segundo lugar, penso que a coisa mais importante que os jovens aqui podem fazer, é promover os valores da abertura, transparência, debate honesto, divergências com cortesia no seio dos vossos próprios grupos e das vossas próprias organizações, porque isso cria bons hábitos. Se fazem parte de uma organização – e vou falar para os homens aqui, em particular – se fazem parte de uma organização onde defendem a democracia mas a voz das mulheres não tem o mesmo valor da vossa nessa organização, então vocês são hipócritas, não é mesmo? E isso é algo que …. (aplausos.)

E temos que ser honestos sobre este assunto. Muitas vezes, as mulheres não têm a mesma voz nos países africanos, apesar do facto de carregarem mais do que a sua quota-parte das cargas. Assim, nas vossas próprias organizações, nas vossas próprias redes, a modelagem de boas práticas democráticas, o ouvir com respeito as pessoas com quem discordamos, a garantia de que todos têm um lugar à mesa – penso que todas estas coisas são muito importantes. Porque parte do que eu vou … o que eu desejo é que alguns de vocês se venham a tornar líderes dos vossos países. E se pensarem nisso, nos anos 60, quando todos estes – os vossos avós, bisavós estavam a conquistar a independência, lutando pela independência, os primeiros líderes, todos eles disseram que apoiavam a democracia. E o que acabou por acontecer foi que chegaram ao poder e depois de algum tempo pensaram: “eu devo ser um líder tão bom que é para benefício do povo que eu continue como líder”. E começaram a mudar as leis e a prender os opositores. E rapidamente, jovens como vocês – cheios de esperança e de promessas – tornaram-se exactamente naquilo contra o qual tinham lutado. Assim uma das coisas que cada um tem que interiorizar, é a noção que – penso que foi Gandhi que disse uma vez- que vocês têm que se tornar na mudança que vocês procuram.

Vocês têm que se tornar na mudança que vocês buscam. E uma das coisas fantásticas acerca dos Estados Unidos é que, na minha posição como Presidente, muitas vezes, quando me sinto frustrado, penso que sei mais do que alguns dos meus críticos. E no entanto, nós institucionalizámos a noção de que esses críticos têm o direito a criticarem-me, não importa quão irrazoável eu possa pensar que isso seja. E tenho que me submeter a eleições perante o povo e estou limitado a dois mandatos – não importa quão excelente seja o meu desempenho. E isso é bom, porque o que isso significa é que temos que ser substituídos – instituímos uma cultura onde as instituições da democracia são mais importantes que qualquer indivíduo. Mas isso não significa que sejamos perfeitos.

Obviamente, também enfrentamos problemas de todos os tipos. Mas o que isso significa é que a transferência pacífica do poder e a noção de que o povo terá sempre uma voz – a nossa confiança é que o processo democrático seja adoptado em todos os outros países também. Muito bem, é a vez dos homens. Deixem-me tentar chegar a este lado da mesa aqui. Este cavalheiro precisamente aqui. Não vou conseguir falar com todos, por isso apresento as minhas desculpas antecipadamente.

 

(Pergunta) -Obrigado, Sr. Presidente. Sou do Malawi. Sr. Presidente, o HIV/SIDA está a afectar tremendamente o desenvolvimento de África. E se isto continua, receio que a África não tenha futuro e penso que os jovens como nós devem trazer a mudança. E precisamos de um programa forte de prevenção do VIH. No entanto, uma vez mais, deve incluir o acesso ao tratamento. Participei na recente Conferência Mundial sobre a SIDA em Viena e os críticos afirmaram que o pior… o governo dos Estados Unidos não estava a apoiar suficientemente o trabalho do HIV/SIDA em África através do PEPFAR e do Fundo Global. Mas, mais uma vez, por outro lado, outros activistas do HIV/SIDA afirmaram que África por si não mobilizou recursos suficientes para combater a pandemia do HIV/SIDA e está largamente dependente do Ocidente. Penso que o desafio para nós como jovens líderes africanos é assegurarmos que isto termina e que realmente necessitamos de reduzir a transmissão. Não sei – da sua perspectiva- o que é que podemos fazer para garantir que isto termina? De qualquer maneira, está a afectar grandemente o desenvolvimento de África.

O PRESIDENTE: Bom. Deixem-me começar por falar sobre os Estados Unidos e o que estamos a fazer. Tive alguns diferendos com o meu antecessor, mas uma das coisas extraordinárias que o Presidente Bush fez foi iniciar o programa PEPFAR. É um tremendo investimento na batalha contra o VIH/SIDA, tanto no que se refere à prevenção como ao tratamento. Comprometemo-nos com milhares de milhões de dólares. E temos cumprido.

Assim quando ouvimos os críticos – o que os críticos estão a dizer- é que apesar de eu ter aumentado o financiamento do programa PEPFAR, eles gostariam de ver um aumento ainda maior, posição com que eu simpatizo, dado o facto de a necessidade ser tão grande. Mas saibam que o aumentei; não o reduzi – numa altura em que os Estados Unidos estavam a passar pela pior crise económica – e acabando de sair da pior recessão económica que tivemos desde os anos 30. Apesar disso, por causa do nosso compromisso com esta causa, nós, na realidade aumentámos o financiamento.

Mas, nós incluímo-lo numa iniciativa mais abrangente a que demos o nome de Global Health Initiative (Iniciativa Global da Saúde). Porque ao mesmo tempo que combatemos o VIH/SIDA, queremos assegurar-nos que estamos a pensar não só em termos de tratamento mas também em termos de prevenção e de prevenção da transmissão. Nunca vamos ter o dinheiro suficiente para tratarmos as pessoas que estão constantemente a ser infectadas. Temos que ter um mecanismo para parar a taxa de transmissão.

Assim, uma das coisas que estamos a tentar fazer é construir uma maior estrutura de saúde pública, descobrir que programas de prevenção estão a funcionar, como os podemos institucionalizar, torná-los específicos do ponto de vista cultural – porque nem todos os programas vão ser adequados para todos os países. Direi que em África, em particular, uma coisa que sabemos é que a capacitação das mulheres vai ser fundamental na redução da taxa de transmissão. Nós sabemos isso. Porque muitas vezes, as mulheres, ao não terem nenhum controlo sobre as práticas sexuais e sobre o seu próprio corpo, acabam por ter taxas de transmissão extremamente altas.

Resumindo, nós vamos concentrar-nos na prevenção e na construção de infra-estruturas de saúde pública. Continuaremos a financiar, a níveis bastante altos, os anti-retrovirais. Mas, lembrem-se que nunca teremos dinheiro suficiente – nunca terminará, será um esforço sem fim se as taxas de transmissão continuarem altas e apenas tentarmos tratar as pessoas depois destas adoecerem. É a história clássica de um grupo de pessoas que encontram muitos corpos num rio e começam todos a retirar os corpos, mas uma pessoa sábia vai à nascente para verificar exactamente o que está a fazer com que todas estas pessoas se afoguem ou caiam à água. E penso que é isto que devemos fazer, ir à origem e verificar como podemos reduzir estas taxas de transmissão geral.

E obviamente – quando eu visitei o Quénia, por exemplo – só para fins informativos – a Michelle e eu, ambos fomos testados próximo da aldeia onde nasceu o meu pai. Fomos testados publicamente para que soubéssemos qual era a nossa situação. Este é apenas um exemplo do tipo de mecanismos educacionais que podemos usar e que esperamos possa fazer a diferença. Tudo bem? É a vez das mulheres. Vejamos, esta mesmo aqui.

 

(Pergunta) -Muito obrigada, Sr. Presidente. Saudações do Gana. Estamos ansiosíssimos por 2014 – (Risos) – para repetir a dose. Lembro-me que no dia do jogo eu estava a fazer um programa de rádio. E nós temos um especialista em futebol no Gana – ele não fala inglês muito bem mas é louco por futebol. Então eu estava a entrevistá-lo sobre qual seria o estado psicológico dos nossos jogadores antes do desafio. E ele disse-me “Isto não é guerra, é futebol. Se fosse guerra deveríamos ter medo porque o poder da América é superior ao nosso.” (Risos.) Isto é futebol. Eles devem ir para o campo e jogar o melhor possível. E foi o que eles fizeram.

O PRESIDENTE: Bem, fizeram um excelente trabalho. São uma grande equipa.

(Pergunta) Sr. Presidente, a minha pergunta prende-se com o facto de eu ouvir que muitos jovens líderes africanos se interrogam sobre o compromisso da América para formar uma parceria. Eu ouço os cépticos falarem sobre a ideia de uma parceria. Eles perguntam – e perguntam sempre – que parceria? Que tipo de parceria justa pode existir entre uma nação forte e uma fraca?

Por isso, à medida que nos preparamos para o futuro, fazemos a mesma pergunta à América: qual é o vosso grau de compromisso para assegurarem que as decisões difíceis que os jovens têm de tomar relativamente ao comércio, à agricultura, à assistência, sejam tomadas – tendo em consideração que podem não servir os interesses da América?

Porque eles também me dizem que a América protegerá os seus interesses acima de quaisquer outros. A América está comprometida em assegurar uma parceria que poderá não ser benéfica para ela mas que será, indiscutivelmente, benéfica para a soberania dos interesses dos países que nós representamos?

O PRESIDENTE: Bem, deixe-me dizer o seguinte. Todos os países procuram os seus interesses. Por isso – e eu sou o Presidente dos Estados Unidos- por isso o meu dever é proteger o povo dos Estados Unidos. Esse é o meu trabalho, certo? (Aplausos.) Agora, a verdade é que eu penso que os interesses dos Estados Unidos e os interesses do continente africano se sobrepõem. Nós estamos muito interessados no desenvolvimento de todo o continente africano – porque somos uma economia mais desenvolvida.

A economia africana é jovem e está em crescimento e se vocês nos puderem comprar mais iPods e mais produtos e mais serviços e mais tractores, e o facto de nós podermos vender a um continente em crescimento rápido, cria mais postos de trabalho nos Estados Unidos da América. Nós estamos muito interessados nos vossos sistemas de saúde pública porque se estamos a reduzir acentuadamente as taxas de transmissão do HIV/SIDA em África, isso terá um impacto positivo nas taxas de VIH a nível internacional devido à transmigração das doenças de um lado para o outro num mundo global. E para já não falar que se eu não gastar este dinheiro todo com o PEPFAR, posso gastá-lo noutro lugar qualquer.

Por isso eu estou incentivado a ver África progredir. Isso traz-nos vantagens. E a verdade é que com certas regiões do mundo nós temos realmente conflitos de interesses – por exemplo, no comércio… a verdade é que os Estados Unidos, nós não temos grandes conflitos quando se trata do comércio porque, honestamente, o comércio entre os Estados Unidos e África é tão pequeno, tão modesto, que poucas companhias dos Estados Unidos, poucos interesses comerciais dos Estados Unidos são impactados. É por isso que o AGOA, o nosso acordo de comércio com África – podemos eliminar tarifas e subsídios e autorizar a entrada de todos os tipos de mercadorias, em parte porque vocês não são os nossos principais concorrentes.

Agora, eu não quero insinuar que não vão existir conflitos. Haverá conflitos. Vai haver diferenças nas visões que temos do mundo. Vai haver alguns produtos agrícolas cuja entrada se vai tentar impedir em nome dos interesses dos Estados Unidos ou dos interesses da Europa, ainda que, no conjunto, não tenham um grande impacto na economia dos E.U.A. e por isso haverá, ocasionalmente, áreas de tensão. Mas, em geral, devem confiar que a razão da nossa parceria é que o vosso sucesso, em vez de reduzir a nossa posição, lhe dará relevo. Além disso, é em África que estão alguns dos nossos amigos mais fiéis.

Em qualquer inquérito que se faça, quando se pergunta qual é o continente que tem uma visão mais positiva da América, África geralmente tem uma visão positiva e também experiências positivas da América. Por isso penso que devem confiar, mesmo se eu não for o Presidente, que o povo americano tem um interesse genuíno em que África obtenha êxito. O que os americanos não querem é sentir que as suas tentativas de ajuda são desperdiçadas. Por isso, se numa altura de grandes restrições, oferecemos ajuda, queremos que esses dólares se destinem a países que, na realidade, irão usá-los de forma adequada. E, se assim não for, então devemos virar-nos para países dispostos a fazê-lo.

E uma das coisas que eu disse à minha equipa de trabalho é que devemos ter padrões altos quando se trata do desempenho e da avaliação quando temos estas parcerias – porque as parcerias são uma via de dois sentidos. Significa que, por um lado, somos responsáveis perante vós e que temos de vos ouvir e garantir que os planos que nós temos foram desenvolvidos localmente. Por outro lado, também quer dizer que vocês são responsáveis. Por isso, não vos basta dizerem, dêem-nos isto, dêem-nos aquilo e depois se as coisas não funcionarem bem, não é problema vosso. Não é? A responsabilização tem de ser mútua. Bem, parece que este lado ainda não fez perguntas. Vamos dar a vez a este senhor, aqui.

 

(Pergunta) -Obrigado, Sr. Presidente – Sou do Zimbabwe. Actualmente o nosso governo encontra-se numa fase de transição entre o antigo partido no poder Zanu PF e o Movimento para a Mudança Democrática. E, neste contexto, o Zimbabwe encontra-se actualmente sob medidas restritivas, especialmente para os que alinham com Robert Mugabe em conformidade com a Lei ZIDERA. E qual tem sido o sucesso do ZIDERA – a formação do governo inclusivo? Porque no Zimbabwe, Robert Mugabe ainda usa a retórica das sanções, racismo, abuso dos direitos humanos, em violação do estado de direito. Qual tem sido o sucesso disso para a implementação – o sucesso ou o crescimento dos jovens?

O PRESIDENTE: Bem, o senhor terá uma resposta melhor para isso do que eu. Por isso deveria partilhar com a nossa equipa o que é que pensa que faz mais sentido. Vou ser honesto consigo – parte-me o coração ver o que tem acontecido no Zimbabwe. Eu penso que Mugabe é o exemplo de um líder que apareceu como um lutador pela liberdade e – vou ser muito franco – não o vejo a servir o seu povo. E os abusos, os abusos dos direitos humanos, a violência que tem sido perpetrada contra os líderes da oposição tem sido terrível. Agora, Changerai tem tentado trabalhar – apesar do facto de ter sido espancado e preso, agora tenta trabalhar para ver se acontece uma transição gradual. Mas até agora, os resultados não têm sido o que se esperava.

E isto coloca uma questão difícil para a política externa dos E.U. porque, por um lado, não queremos punir o povo por causa dos abusos do líder; e por outro lado temos pouca alavancagem para além de dizermos que, se só há abusos sistemáticos por parte de um governo, então não vamos estabelecer relações comerciais nem políticas com eles, nem lidar com eles da forma que geralmente lidamos com países que observam os princípios básicos dos direitos humanos. E quando viajei com outros líderes na região da África Austral debatemos se as sanções contra o Zimbabwe são ou não contraproducentes.

Eu gostaria imenso de poder estabelecer relações diplomáticas e económicas e comerciais mais amplas com o Zimbabwe, mas, para o fazer, temos de ter algum sinal que nos mostre que não irá apenas criar os mesmos abusos do passado mas que nos vai levar numa direcção que ajuda, realmente, as pessoas. E o Zimbabwe é um exemplo clássico de um país que deve ser o celeiro de toda a região. É um país espectacular que teve de se submeter a uma transição e sair do regime de uma minoria branca, um período que foi muito doloroso e muito difícil. Mas escolheram um caminho diferente do que a África do Sul escolheu.

A África do Sul tem os seus problemas mas a avaliar pelo que todos pudemos ver durante o Mundial, o potencial para esse país progredir para uma democracia africana multirracial que pode ter sucesso no palco mundial, é um modelo que até agora, pelo menos o Zimbabwe, não seguiu e é nesse sentido que gostaria de o ver avançar. Quanto tempo mais é que temos? É a última pergunta? Desculpem – é a última pergunta. É a última pergunta. Não, é a vez duma jovem. Esta mesmo aqui.

 

(Pergunta) -Boa tarde, Sr. Presidente, V. Exas.. Sou da Somália. Vim aqui para lhe fazer a seguinte pergunta: viver em conflito num país que tem confundido todo o mundo, e sendo parte da diáspora que regressou para arriscar as nossas vidas para fazermos da Somália um país melhor, especialmente com tudo o que estamos a passar actualmente – que apoio podemos esperar da parte dos Estados Unidos? E não me refiro a apoio apenas em termos financeiros ou ajuda, mas apoio para ser ouvido, um amigo, como alguém que ouve e presta atenção aos que colocam as suas vidas e as nossas famílias em risco para defender a humanidade?

O PRESIDENTE: Bem, acho que vocês têm um apoio enorme do povo dos Estados Unidos quando se trata de criar uma estrutura na Somália que funcione para o povo somali. Agora, a história da Somália durante os últimos 20 anos tem sido, no mínimo, igualmente constrangedora. Vocês não tiveram um governo eficaz que funcionasse e disponibilizasse serviços básicos. Tem sido devastada com conflitos e agora toda a região está sob ameaça porque um grupo de radicais extremistas que se instalaram na Somália, aproveitando-se do que pensam ser um estado falido, para usarem o país para lançarem ataques, mais recentemente no Uganda. E, obviamente, os Estados Unidos apresentam as mais sentidas condolências pelas vidas que se perderam em Kampala aquando do Mundial. E isto proporcionou duas visões contrastantes.

Esta celebração maravilhosa e alegre na África do Sul, ao mesmo tempo que se dá um atentado terrorista em Kampala. Por isso queremos desesperadamente que a Somália tenha sucesso. E este é outro exemplo onde os nossos interesses se cruzam. Se tiverem organizações extremistas a criar raízes na Somália, estas, em último caso, podem ameaçar os Estados Unidos, o Uganda e o Quénia, assim como toda a região. Assim, neste momento vocês têm um governo transitório que está a desenvolver alguns esforços. Eu não creio que alguém espera que a Somália se transforme a curto prazo num modelo de democracia. Sejam quais forem as estruturas de governo a realizar na Somália, há que se ter em consideração as estruturas tribais, tradicionais e estruturas de clãs existentes no país.

Mas certamente que podemos criar uma situação onde as pessoas… – os jovens não se passeiam por todo o lado com carabinas, disparando uns sobre os outros nas ruas. E queremos ser parceiros da Somália nesse esforço e continuaremos a sê-lo. E parte deste esforço é financeiro, parte é de desenvolvimento e parte ainda é ajuda com as infra-estruturas básicas. Nalguns casos, podemos tentar encontrar uma parte do país que seja relativamente estável e começamos a trabalhar aí para criarmos um modelo para o qual o resto do país possa olhar e dizer: “este é um caminho diferente daquele em que estamos agora”.

Por último, penso que esta metáfora do sucesso do Campeonato Mundial e do atentado à bomba mostra que cada um de vocês irá se confrontar com dois caminhos. Existirá o caminho que nos leva na direcção de mais conflitos, mais derrame de sangue, menos desenvolvimento económico e continuação da pobreza, ao mesmo tempo que o resto do mundo progride – ou há uma visão na qual o povo se une para a melhoria e desenvolvimento do seu próprio país. E tudo pela grandiosa promessa que foi cumprida nos últimos 50 anos, quero que vocês entendam… – porque penso que é importante para nós sermos honestos com nós mesmos – África também desperdiçou enormes oportunidades por muito tempo.

E vou dar-vos apenas um exemplo. Quando o meu pai viajou para os Estados Unidos e recebeu o seu diploma no início dos anos 60, o PIB do Quénia era, na realidade, semelhante ou até um pouco superior ao da Coreia do Sul. Pensem nisso, está bem? Assim, quando eu nasci, o produto per capita do Quénia era superior ao da Coreia do Sul. Neste momento, nem sequer se aproxima. Bem, foram 50 anos perdidos em termos de oportunidades.

No que se refere a recursos naturais, no que se refere a talento e a potencial humano, não há razão para que o Quénia não tenha seguido a mesma trajectória. E 50 anos a partir de agora, quando olharem para trás, vocês devem assegurar-se que o continente não desperdiçou essas oportunidades também. Nós também nos queremos assegurar disso. E os Estados Unidos querem escutar-vos e trabalhar convosco. E assim, quando regressarem e falarem com os vossos amigos e disserem qual foi a principal mensagem que ouviram do PRESIDENTE, a mensagem é a seguinte… – estamos a torcer pelo vosso sucesso e queremos trabalhar convosco para alcançarem esse sucesso mas, em última instância, o sucesso está nas vossas mãos. E ser um parceiro significa que estaremos ao vosso lado mas não o podemos fazer por vós.

Bem, muito obrigado a todos. Obrigado. (Aplausos.)

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Related Posts