A revelia das autoridades moçambicanas, num processo que coloca em rota de colisão os interesses dos dois países, o Malawi decidiu avançar com o projecto de construção do Porto de Nsanje, ponto que devera garantir a ligação fluvial com o Oceano Indico, usando a navegabilidade dos rios Chire e Zambeze, em Moçambique.
De acordo com informações divulgadas no Malawi, citadas pelo Diário electrónico “Mediafax”, ate finais deste mês poderá terminar a construção da primeira fase do Porto Fluvial de Nsanje, e a conclusão definitiva da obra, orçada em seis biliões de dólares, esta prevista para Setembro de 2011.
Recentemente, o governo de Moçambique pronunciou-se em relação ao projecto, argumentando que qualquer avanço do mesmo só pode acontecer mediante a apresentação de uma aprovação de um estudo de viabilidade ambiental, exigência que ainda não foi satisfeita.
A outra hipótese colocada para a fraca demonstração de interesse por parte das autoridades moçambicanas se circunscreve a outros interesses, como e o caso da construção a montante da entrada do Chire, no Zambeze, da Barragem de M’panda Nkuwa.
Segundo informações avançadas no Malawi, neste momento as autoridades malawianas estão empenhadas na mobilização de financiamentos junto de parceiros internacionais para a edificação deste empreendimento, que envolve o Grupo português Mota-Engil.
No último fim-de-semana, segundo refere a rádio pública malawiana, o Secretário-Geral da COMESA, Mercado Comum da África Austral e Oriental, Sindisso Ngwenha, pediu ao Malawi para imprimir uma maior celeridade na conclusão do projecto de navegação dos rios Chire e Zambeze. Ngwenya revelou que a COMESA está a negociar com o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) a libertação de fundos, bem como o apoio técnico necessário.
Facto que, segundo o “Mediafax”, está a criar uma forte pressão sobre as autoridades moçambicanas, adivinhando-se, daí, cedências inevitáveis para o avanço do projecto. O Malawi é um país do hinterland, cujo comércio com o mundo depende muito da infra-estrutura rodoviária e portuária de Moçambique, daí acreditar-se que o porto poderá reduzir as distâncias na importação dos seus produtos em cerca de 560 quilómetros para o porto da Beira e 660 quilómetros para o de Nacala. É destes dois portos moçambicanos que desembarca maior parte dos produtos importados pelo Malawi, facto que acarreta elevados custos de comercialização naquele país vizinho.
Assim, a estratégia dos malawianos é de navegar o Zambeze para o transporte das suas mercadorias de Nsanje ao Chinde, na foz do rio Zambeze, e vice-versa, uma distância de cerca de 240 quilómetros. O Malawi prevê que a iniciativa poderá baixar significativamente os custos de transacção dos produtos e, tendo em conta estas vantagens, mesmo sem autorização de Moçambique aquele pai vizinho decidiu avançar com o projecto.
A gestão do Porto de Nsanje foi concessionada, por um período de quarenta anos, a este Grupo português (Mota Engil), através de um contrato de exploração assinado com o governo malawiano.