Sob a ideia de que a tentativa de perceber o que faz a sociedade moçambicana pode contribuir para o alargamento de espaços de autonomia dentro dos quais as pessoas podem, elas próprias, melhorarem as suas vidas, o sociólogo moçambicano, Elísio Macamo, lançou recentemente, com a chancela da Ndjira, mais uma obra intitulada “Planície sem fim”.
Numa passagem da longa introdução que faz no livro, Elísio Macamo volta a recuperar um dos pontos que sempre defendeu, quando sublinha que longe de tentar resolver problemas individuais o Estado deve garantir “espaços dentro dos quais as pessoas poderiam lograr levar vidas dignas à custa do seu próprio esforço e empreendimento”.
Macamo escreve ainda que um dos problemas dos sistemas políticos pós-independência em África, independentemente de orientação ideológica, sempre foi a sua notória incapacidade em garantir espaços de realização individual. Isto é, não foram capazes de realizar o que sempre proclamaram. Por isso, prossegue, a garantia de espaço de autonomia é o grande desafio que hoje se coloca ao sistema político moçambicano em formação. “A nossa tradicional insistência na ideia de que alguns sabem isso melhor do que a maioria não tem ajudado muito”, lamenta, ao mesmo tempo que duvida que “essa insistência explique os revezes que temos sofrido.”
Em “Planície sem fim”, o autor faz uma tentativa de compreender o país em toda a sua complexidade, procurando a melhor maneira de formular os seus problemas. Aliás, a formulação de problemas é um dos pontos para os quais este sociólogo tem repetidamente chamado a atenção dos seus leitores. Macamo defende que a erradicação da pobreza, o combate à corrupção e ao crime, a consolidação da unidade nacional, a igualdade de género e a manutenção da independência, são objectivos nobres. Mas o problema é que eles são dados por adquirido e poucos intelectuais (para não mencionar políticos) se dão ao trabalho de problematizá-los para enriquecer a sua fundamentação. |
No terceiro capítulo discute aquilo a que ele próprio chama de sociologia política pura. Por outras palavras, convida os políticos a legitimarem a obediência que exigem do povo e a autoridade que sobre ele querem exercer. No quarto insiste na necessidade de se interpelar criticamente as políticas e os discursos públicos em curso.