Há razões para acreditar que o nível médio das manifestações artísticas no Festival subiu. Numa altura em que uma das principais secções do evento, a feira do livro e do disco, parece ter estagnado, é à dança, monumento da expressão corporal do moçambicano, que cabe salvar a honra do evento.
Que danças são essas que passam sempre no Festival Nacional de Cultura e que, mesmo assim, conseguem ‘mexer’ com a plateia? São: Xigubo, Elata, Nhakapine, Zoré, Ngalanga, Quirinto, Nyau e Ilala, apresentações de culto do evento – o Festival sem elas não seria a mesma coisa.
Essa dimensão confirmou-se no bairro 25 de Junho, arredores da cidade de Chimoio, onde milhares de populares viram subir ao palco todas delegações para apresentaram um número, na primeira com excepção da província de Manica que desfilou com todos os números que a sua delegação preparou para o evento. O evento que contou com um espectador especial, Aires Ali, primeiro-ministro, começou com 34 minutos de atraso, mas ninguém se lembrou desse aspecto quando o primeiro grupo subiu ao palco.
Trata-se da delegação da Zambézia que apresentou a dança Elata, protagonizada por oito bailarinos e três instrumentistas. A apresentação durou sete minutos, mas podia ter-se prolongado por mais tempo que ninguém se importava.
Sofala, por sua vez, apresentou Nhakapine, materializada por quatro instrumentistas, três bailarinos e duas coristas. Sem lugar para trocas de cumplicidade com a plateia ou cenografias de encher o olho, o grupo de Sofala deu um espectáculo despido, competente e muito bem oleado, construído sempre em torno dos problemas sociais, neste caso o álcool. Um dos bailarinos reproduz, com a sua dança, em alguns momentos inconsequente, os efeitos imediatos do álcool.
Inhambane, terra de boa gente, ofereceu Zoré, uma dança em que o bailarino tem de ser alguém acima do peso. Sete bailarinos e sete instrumentistas deram um pouco mais de calor à noite.
A vez do Xigubo
Já sabemos o que é Xigubo, a dança dos guerreiros. A dança da pose, da imagem trabalhada e dos gestos estudados ao pormenor. No caso da delegação de Maputo cidade, tudo isto se reveste de uma mais-valia importante: 11 bailarinos, dos quais quatro são mulheres, 7 instrumentistas criaram uma harmonia que deliciou o público.
A desilusão da noite
Para uma apresentação tão boa como estava a ser, na qual a cidade de Maputo elevou a fasquia, alguém tinha de destoar. Todos queriam expectativa em ver a província de Gaza com o seu Ngalanga e acabaram por ver a maior desilusão da noite. Os cinco bailarinos e três instrumentistas, mas ficou evidente que o cansaço se sobrepôs a vontade.
No final, poucas eram as bocas que não questionavam como é que foi possível um grupo tão fraco, pelo menos naquela apresentação, ter chegado à Chimoio. Custa a crer, mas o que menos se viu foi mesmo a dança na apresentação dos gazenses. Mais do mesmo Maputo província também pautou pelo Xigubo, numa apresentação que não atingiu os níveis do proporcionado por Maputo cidade, mas que também foi agradável. 12 bailarinos, no seu todo, e 3 instrumentistas. Depois seguiu-se a Província de Cabo-Delgado com Quirimbo, Tete com Nyau.
Foi à fria província de Niassa que coube o encerramento da primeira fase da actividade, por volta das 18h 45. Os homens da terra do lago Niassa não deixaram os créditos por mãos alheias. O público sabe disso e manteve-se no local para assistir à dança e alegria contagiante de nove bailarinos e três instrumentistas. Sempre em plena actividade e sempre sem perder uma pitada de força nos movimentos.
Danças que visitaram Chimoio
Cidade de Maputo: Makweala, marrabenta e Xigubo.
Província de Maputo: Ngalha, Xipenda, Xigubo, Mutine, Makweala e Makway.
Gaza: Ngalanga, Makway, Xilembe, Ntchayo, Xingomane, Marula e Massese.
Inhambane: Zoré, Ngalanga e Timbila.
Sofala: Valimba, Nhakapine, Bangué e Uche.
Manica: Makway, Xitonga, Chongoyo, Mangone e Mapadza.
Tete: Nyau, Mafue, Chintale e Ngona.
Zambézia: Ganda, Elata e Muanama.
Nampula: Tufo, Mascara e Kotowa.
Cabo-Delgado: Crocotxo, Quirimo, Mapiko.
Niassa: Massene, Nganda e Ilala.
Feira do Livro e disco
Refira-se que a feira do livro e do disco que não pode continuar no pavilhão do Sports Clube de Chimoio será exibida este sábado e no domingo amanhã no Instituto de Ciências de Saúde de Chimoio. Esta é uma alternativa que os organizadores da fase final do VI Festival Nacional de Cultura à falta de acordo com a instituição desportiva, que comprometeu-se com terceiros para a realização, no seu recinto, de uma festa de casamento precisamente hoje.