Alguns artistas que participam no Festival Nacional da Cultura, a decorrer em Chimoio, província moçambicana de Manica, defendem que agora já é possível viver com base nos rendimentos provenientes da sua arte. Geralmente, os artistas moçambicanos que desenvolvem as suas actividades no país têm lamentado sobre a falta de oportunidades para vender as suas obras.
Se por um lado os artistas enfrentam o problema de falta de lugares para expor os seus produtos, por outro os poucos que têm mercado raramente conseguem vender as suas obras a preços justos. este mercado da arte está em forma de funil, sendo mais largo nos grandes centros urbanos e menos largo, ou mesmo inexistente, nas zonas mais recônditas.
Entretanto, parece que situação tende a melhorar, a avaliar pelas palavras de alguns artistas nacionais entrevistados pela AIM em Chimoio, onde participam no V Festival Nacional da Cultura, que decorre naquela cidade até a próxima Segunda-feira. “Agora é possível viver da arte… conseguimos vender as nossas obras e o Governo dá valor ao nosso trabalho, contrariamente ao que acontecia antes”, disse Agostinho Constâncio, um artista plástico da cidade de Pemba, a capital da província nortenha de Cabo Delgado.
Constâncio é escultor, especializado em lapidar madeira pau-preto para fabricar bonecos de pessoas, pratos, entre outras pecas e figuras. Em Pemba, ele preside uma associação de escultores que integra 33 membros. Igualmente, ele dirige a União de Artesãos de Cabo Delgado (UACAD), uma espécie de confederação de diversas associações de artesãos em que milita um universo de 500 pessoas.
Segundo este artista, que é responsável pelas obras dos membros da UACAB expostas no pavilhão de artes montado em Chimoio, a mudança da dinâmica do mercado resulta dos festivais de arte, na sua maioria promovidos pelo Governo, e ao aumento da circulação de turistas no país. “Cada grupo consegue ganhar 15 mil meticais (cerca de 450 dólares) mensais, mas na altura de pico os rendimentos atingem 40 a 43 mil meticais”, disse, sublinhando que a sua confederação tem uma “boa loja”, localizada no aeroporto de Pemba, onde há sempre maior fluxo de clientes.
A mesma opinião (de existência de oportunidades de viver a partir da arte) é partilhada por Eugénio Chomane, também escultor, mas residente no distrito de Morrumbene, província sulista de Inhambane. Contudo, Chomane lembra que no seu distrito não existe mercado para a arte, sendo, por isso, necessário deslocar-se à capital provincial, Inhambane, quando se pretende vender alguma obra. “Nas zonas recônditas onde eu estou é impossível viver de arte. Para poder vender as obras, é preciso deslocar-se a cidade durante o fim-de-semana para participar na feira de arte”, explicou.
Chomane considera que esculpir é uma das suas grandes paixões, mas não vive exclusivamente disso porque é também docente numa escola localizada em Morrumbene. Aliás, em todo o semestre passado, ele só conseguiu vender uma obra de arte, em parte, porque nem sempre consegue deslocar-se a cidade para expor as suas obras. Ele diz que nunca pensou em abandonar a docência e viver da arte, não por recear morrer a fome, mas porque ambas actividades constituem as suas paixões.