Verdade (V) – O que quer dizer exactamente “Khapula Mulher”, o título do espectáculo?
Pérola Jaime (PJ) – É uma expressão changane, a minha língua materna, que pode traduzir-se por “apressa-te mulher”, no sentido de as mulheres deste país despertarem para as dificuldades que enfrentam no dia-a-dia.
(V) – Essas dificuldades são ainda muito visíveis?
(PJ) – Aqui na cidade não se consegue detectar tanto o problema, está disfarçado, mas lá na minha terra, no distrito do Chibuto, bem no interior, as mulheres ainda sofrem muito. Quando lá vou é que vejo as dificuldades pelas quais as mulheres passam, porque não tiveram oportunidade de obter informação, não estão actualizadas. Pensam que pelo simples facto de serem mulheres o seu corpo, que é muito bonito, diga-se, só serve para alimentar o prazer, não sabem que podem tomar certas decisões. Estão permanentemente ao serviço do homem. Fico muito preocupada quando constato que essa mentalidade ainda domina. Tem de haver mais participação feminina para haver equilíbrio no género. Mas já estamos melhor. Até já temos uma mulher como presidente da Assembleia da República (risos).
(V) – Quer falar um pouco da coreografia da “Khapula Mulher” que é da sua responsabilidade?
(PJ) – Dividi o país em três zonas: norte, centro e sul. Cada uma delas é representada por uma mulher. Todas elas acabam por se libertar das amarras que as espartilham. A do norte está dentro de um ovo incubador, a do centro está presa por uma série de teias e a do sul encontra-se amarrada a um monte de trapos. Depois, quando se libertam, todas dançam felizes da vida e a indumentária é toda igual só variando a cor.
(V) – Que mulher moçambicana lhe serve de inspiração?
(PJ) – Todas elas, mas há uma especial que é Josina Machel.
(V) – Que mensagem gostaria de deixar para as mulheres moçambicanas?
(PJ) – A mensagem já está no espectáculo. Mas reforço: aquelas que ainda pensam que o seu corpo é só instrumento de prazer, é bom que saibam que isso não é assim. Nunca é tarde para se formarem. Que lutem pelo desenvolvimento do país porque o país também precisa muito da luta das mulheres.