Maria de Lurdes Mutola voltou ao seu primeiro amor. Depois de mais de 20 anos a brilhar nas pistas de atletismo, a moçambicana regressou ao futebol, desporto onde se destacou na infância e no qual foi descoberta pelo poeta José Craveirinha.
Aos 14 anos, depois de lhe ter sido recusada a inscrição numa equipa masculina de juvenis, foi encaminhada para o atletismo, tendo participado, dois anos depois, nos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988. Depois de ter terminado uma carreira extremamente longa e bem-sucedida nos 800 metros, Mutola optou por trocar a cidade norte-americana de Eugene por Joanesburgo para viver. Ficou bem mais perto do seu país natal, e a ligação ao mundo lusófono e a paixão pelo desporto fizeram o resto.
Assim, aos 37 anos, a moçambicana voltou a equipar-se, com a pequena diferença de, em vez de calçar sapatos de bicos, passar a utilizar chuteiras. O Luso África, agremiação sedeada em Promrose e criada por portugueses em 1999 e que nasceu da junção de três núcleos lusos que já existiam desde os anos 60, passou a ser o seu novo clube. Uma união que deu frutos, pois Mutola revelou-se de uma utilidade extrema. “Já fiz cinco ou seis jogos e marquei sete ou oito golos. Só num marquei quatro”, contou ao “Sunday Times” de Joanesburgo.
O Luso África está no segundo lugar do campeonato feminino da África do Sul. A moçambicana sente-se encantada com os novos tempos e a forma como pode dispor da sua vida: “É bom ter alguma coisa para fazer. Agora tudo melhorou, porque posso comer o que quero e, se estiver mau tempo, posso não ir treinar. Antes tinha de fazer tudo como mandava a cartilha.”
No Luso África, Maria Mutola está em casa e tem tudo para nunca se deixar envolver pelo tédio. No último fim-de-semana, o clube organizou uma rojoada nortenha, com caldo verde e papas de sarrabulho. Para se manter activa, Mutola tem ainda sessões de ciclismo e triatlo. Teatro, sueca, bingo e póquer são as outras propostas.