Eles olham-se, se encontram na night por acaso, trocam contactos, mandam sms e combinam tchiling. As coisas progridem bem – moçambicano não perde tempo! – mas quando menos espera ele chega. O amigo da tuga. Ele não conhece esse “amigo”, mas sabe que vai ficar na casa dela, e ele sabe, lá na casa só tem uma cama…
Mas, moçambicano que é moçambicano não fica desprogramado, moçambicano ataca, rapta, convida, surge, oferece ajuda e, principalmente e absolutamente – fica brada do brada da dama! Sexta-feira vão sair, dama convida, moçambicano aparece, mostra os bons places, demonstra os bons passos e mais importante que tudo, apresenta damas ao “amigo”. Night tá nice mas amigo tá off, avião, aeroporto, não sei mais quê. Dama tá a gramar da night, quer tchilar, dançar, beber.
Dama insiste: – Ficamos mais tempo – amigo vai dizendo: – Vamos para casa – e moçambicano vai lembrando aquela casa pequenina, com uma só cama e…: – Mais uma bebida? – ela sorri: – Yap! Mais uma hora de olhares é teste à resistência do amigo, que cede: – Podes ir deixar-me a casa? Tou cansado – dama disfarça entusiasmo: – Ya, vou e volto que aqui tá nice – e moçambicano jinga: – Eu também tou a ficar off, vou bazar – dama dropa amigo e smssa “bazaste?”, moçambicano responde “te apanho onde?” Moçambicano guina, spida, agarra perna de dama e ela já sabe, procuram… não procuram um esconderijo, procuram um gone.
Na cidade de Maputo gone é coisa perigosa, rara, por demais frequentada. Mas ele procura, nos mais populares, nos menos frequentados, nos mais frescos, nos mais discretos, nos menos prováveis. E estaciona: – Aqui está bom. – Aqui? – Sim, está bom, anda cá. – Mas aqui… tem guardas ali, eu estou-lhes a ver. – Qual é que é o problema? Ignoralhes lá – ele e ela passam para o banco de trás e… damam, agarram, comilam, curtem. Está calor, e o calor só aumenta, e é aí, quando o calor está no seu máximo que ele surge. Surge de fininho, vestido de cinzento, o passo avança entre os sons e movimentos que pontuam o prazer, que embacia os vidros, que fazem vibrar o amortecimento do carro estacionado.
Surge, e com o chamboco faz um bater seco, curto, suave mesmo. É o contraste com o ritmo acelerado do casal que os desperta, ele apercebe-se primeiro: – Ysh, baby sorry lá, espera – abre o vidro – boa noite chefe. – Boa noite, peço abrir a porta e sair por favor. – …. Hum… chefe… tem de ser… agora? – Sim, agora. – ele olha para dama, para si próprio – … Abrir a porta mesmo? – Sim. – … Hum… chefe… ok, tá nice. – ela passa para o banco, vestem-se, ele abre a porta
– Espera aqui, eu vou resolver. Chefe… – conversam os dois na rua, ela está nervosa, veste-se à pressa, penteia os cabelos ensopados de suor, senta-se e apanha a bolsa, procura não sabe o quê, os documentos? Lá fora a conversa continua, ela não consegue ouvir nada, ele volta: – Alô, porque estás vestida? – Como assim? Então… – ele apanha a sua pasta – Vou pagar alguma coisa. – Aceitam? Boa, nice e bazamos, tou pedir…
– Nada, vou pagar, chefe pede para estacionar mais lá e eles ficam connosco um bocado, é mais seguro. – Como assim? Eles ficam? Mas… – Compro uma hora, o que achas? Assim estamos à vontade. – Mas, baby, eu… – ele sai, paga, regressa e sorri: – Interrompeu mesmo no momento, consegues concentrar-te de novo? – Bom… ya, ok! – ela vai deitando uns olhares pela janela, eles estão lá, são quatro, sentados – ysh, baby, mas são tantos… – O que é, estão a olhar? – Sim, um deles.
– Deixa, não tira pedaço, anda cá! – passa o tempo, damo sai do carro. – Vais onde? – Fica aí, vou apanhar contacto, temos mais uns minutos, podemos usar na próxima vez. Ei, chefe!