Ele oferece com cabeça ou à toa? Lembra-se duas semanas antes, no próprio dia ou nunca?
Aquilo que ele oferece diz muito sobre o lugar que ocupamos no seu coração.
O ‘kitsch’
O namorado que oferece um ursinho de peluche, ou daqueles que vêm aos pares com dois coraçõezinhos agarrados, a dizer ‘be my Valentine’ ou os importados da China ‘I love u” são os fanáticos pela tralha valentiniana importada dos ‘States’, das canecas aos ursinhos, dos balões aos corações, quanto mais infantilóide melhor. Só é giro depois dos 50, ou então para oferecer ao patrão.
O dos anéis
Adora mostrar que tem dinheiro e dá sempre coisas muito caras, muito grandes e muito brilhantes. Até se pode arruinar em canetas de ouro e relógios caros. Problema: tanto podia dar aquilo à mulher da vida dele como ao patrão. Aparentemente seria o sonho de qualquer mulher, só que as mulheres, que são seres estranhos, preferem mil vezes um gato de loiça a dizer ‘És a minha gatinha’.
O incompreendido
Os filmes estão cheios de cenas daquelas em que o apaixonado original leva a namorada a jantar, esconde o anel de noivado dentro do gelado, ela engole o gelado e engole também o anel. Mas há outras hipóteses: aquele que lhe aparece com um puzzle de mil peças, a namorada atira-lhe à cara a sua falta de romantismo e acaba tudo com ele, e cinco anos depois, num período especialmente negro ou especialmente monótono da sua vida quando finalmente consegue acabar o puzzle, descobre que o resultado final é uma romântica foto dos dois, ou a declaração ‘meu amor, amo-te muito’.
O narcisista
Oferece uma moldura com a fotografia dele próprio, ou um álbum com fotografias dele desde pequenino, ou o manuscrito de um livro da sua autoria devidamente encadernado, ou uma moldura dupla daquelas de colar no tablier do carro, com a fotografia dele num lado e do cão dele no outro.
O preguiçoso
Também conhecido como ‘o das flores e dos bombons’. A falta de imaginação é fatal em qualquer romance. À primeira vista não parece dos piores defeitos, mas revela que ele não esteve para fazer o mínimo esforço para descobrir aquilo que a gente queria. Claro que é melhor que nada, é melhor do que dizer que não pactua com o imperialismo americano e a ditadura do consumismo, mas mesmo assim sabe sempre a pouco, flores e bombons deviam eles trazer-nos todos os dias. Além disso, como são bens perecíveis, parece sempre que eles não querem comprometer-se, e então, em vez de um anel, ou de um, sei lá, CD, urso de peluche, qualquer coisa sólida e que se possa mostrar aos amigos, oferecem qualquer coisa que dois dias depois já não existe. Espertos. – O da lingerie escarlate Entra na categoria do ‘homem dos
presentes-a-piscar-o-olho” : aqui é mesmo uma indirecta, enfim, um bocado directa demais para o nosso gosto. Sempre tiveram a fantasia de nos ver vestidinhas de dominatrixes ou então dão-nos coisas que se for preciso a gente já nem sabe como é que se põem, tipo um cinto de ligas. Só eles é que gostam e na maior parte das vezes gostam é de as tirar… Escusado será dizer que em 94% das vezes, não nos servem.
O doméstico
Só oferece coisas para a casa, admiravelmente impermeável ao espírito romântico da época. E ainda se fosse uma máquina de lavar loiça nova ou um frigorífico que apita quando não há alfaces na prateleira de baixo ou um forno inteligente, mas não, estes geralmente dão ‘sets’ de colheres de pau e conjuntos de bases de copos, ou então daquelas coisas muito grandes e muito inúteis como máquinas de espremer fruta com 17 peças todas encaixadas umas nas outras que é preciso lavar separadamente (quando toda a gente sabe que as mulheres não têm paciência para estar a desencaixar nada, quanto mais a lavar separadamente) ou uma panela de fondue quando a infeliz até está a tornar-se vegetariana.
O simbólico
Dá só uma coisinha, só uma coisinha como os tios no Natal, com a diferença de que eles não são os tios, só uma coisinha para não me bateres e não entrares em greve de sexo, só uma coisinha para mostrar que não me esqueci MAS QUE SOU UM GRANDE FORRETA. Ainda por cima, geralmente a ‘coisinha’ não tem nada a ver com nada, nem com a namorada, nem com ele, nem com o S. Valentim, nem com corações apaixonados, nada. É assim qualquer coisinha como uma chaveninha de chá, ou uma jarrinha, ou um cinzeirinho…Uma coisinha tão pequenina como a alminha dele.
Os que nos surpreendem
Conseguem adivinhar aquilo que a gente queria, mesmo que não seja óbvio e que não tenha escrito ‘be my valentine’ ou ‘vamos juntos até ao infinito’. Os melhores conseguem mesmo encontrar alguma coisa em que a gente nunca pensou mas que adora. Mas enfim. Se ele conseguir acertar com um perfume de que a gente goste e estiver disposto a pagar meio ordenado por ele, até já nem pedimos mais.