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Mulher abandonada pelo marido combate a pobreza na estrada

Ela não sabe ler nem escrever, tão-pouco a sua idade, mas sabe que nasceu na cidade de Maxixe, na província de Inhambane e viveu os momentos históricos do país, tais como o colonialismo, a guerra dos 16 anos e a assinatura do Acordo Geral de Paz.

Lurdes Zunguza, que aparenta ter mais de 50 anos de idade, é uma mulher de fibra, que luta para sobreviver na pacata vila de Bilene-Macia, na província de Gaza. Na cabeça ela transporta uma bacia de mangas, uma espécie de banca ambulante, através da qual sustenta os seus sete filhos, dos quais três dependem desse negócio para estudar. Lurdes Zunguza, que diariamente desafia as bermas da EN1 onde há paragens para vender as suas mangas, tem aversão às fotos, por isso, não aceitou ser fotografada, mas deixou a impressão de que gosta de dialogar e expressou-se em Changana, pois, ela não sabe falar a língua portuguesa supostamente por não ter estudado.

O dinheiro que para algumas pessoas dos centros urbanos, da capital do país, por exemplo, pode ser irrisório, no meio rural pode ser muito: “estou na vila desde às 08 horas e agora são 16 horas mas consegui apenas vender 40 meticais. Há muita concorrência”, considerou ela antes de nos contar a sua história de vida. A nossa interlocutora cresceu longe dos pais, como uma órfã, em virtude de o progenitor ter sido recrutado pela Frelimo para combater o inimigo no norte do país e a mãe ficou vários anos “aprisionada” num centro de reeducação por ter recusado dizer um “viva a Frelimo” num comício do falecido Presidente Samora Machel.

“Eu e o meu irmão ficámos sozinhos, sem ninguém para nos cuidar porque a minha irmã já era casada e vivia no seu lar”, contou-nos Lurdes Zunguza com um olhar preso algures como se observasse alguma coisa ou algo atraísse a sua atenção ou ainda a distraísse. Aliás, ela disse igualmente que o seu cunhado defendia que a escola era para os homens e as mulheres deviam apenas cuidar da casa, dos esposos e das crianças.

Devido a esse pensamento, aos 15 anos de idade, Lurdes Zunguza juntou-se a um homem muito mais velho que ela, escolhido pelo seu cunhado. Depois de “casada”, o seu marido teve emprego na vila da Macia, na província de Gaza, onde fixaram residência. A relação gerou sete filhos.

“Em 1990, o meu marido passou a trabalhar na África do Sul e voltava sempre no fim do ano. Entretanto, desde 2005 ele nunca mais deu sinal de vida. Batalho sozinha na estrada para alimentar os meus filhos”, narrou Lurdes mas com uma ânsia de interromper a conversa para se posicionar numa das janelas dos veículos que passam pela EN1 com vista a vender alguma coisa.

As suas mangas que Lurdes vende custam entre 10 e 20 meticais cada molho, dependendo do tamanho (maior ou menor) e a quantidade das mesmas frutas varia de seis a 10 unidades. A receita não é estática, depende igualmente do movimento diário ou mesmo da sorte nesse dia. Porém, a nossa entrevistada sempre consegue pelo menos 50 meticais por dia, valor com o qual compra alimentos para a família e garante a instrução de três dos seus filhos. Quando a época das mangas findar ela verá o que vender, pode ser batata-doce, banana ou mesmo amendoim.

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